O
Campeonato Pernambucano de 1931 estava chegando ao fim. O Torre lutava pelo
bicampeonato. O Náutico não tinha mais condições de sagrar-se campeão, mas
poderia atrapalhar alguém.
Na
véspera de um importante jogo do Timbu com o Torre, discutia-se sobre as
chances da equipe alvirrubra, que jogaria em casa. Se o Náutico empatasse ou
perdesse do Torre beneficiaria o Sport. Este ficaria capacitado a encarar o madeira rubra (Torre) numa partida
extra. O vencedor se credenciaria para decidir o título com o então bicampeão,
ou seja, o Torre.
Uma
improvável vitória do Náutico tiraria o Sport da jogada. Era justamente isso
que a timbuzada queria, posto que seu time já tinha ido para a cucuia.
Os
dirigentes alvirrubros não tinham a menor esperança na sua equipe naquele
confronto com o Torre e estudavam uma possibilidade de provocar um adiamento.
Mas, como? Era esta a questão.
Se
a partida deixasse de ser disputada no dia 29 de novembro, conforme ditava a
tabela, deveria ser realizada após ser cumprida toda a programação, conforme a
praxe seguida pela FPD, a Federação Pernambucana de Desportos, quando o
adiamento era causado por motivo justo.
Faltando
três dias para o jogo Náutico x Torre se realizar, Eládio de Barros Carvalho, diretor
do Departamento de Desportos Terrestres do clube (hoje seria diretor de
futebol), teve um estalo:
–
A gente derruba as traves, no sábado...
Surpresos,
o presidente Vitorino Maia e o dirigente Luiz Clericuzzi, mostraram-se
surpresos com a ideia do colega.
–
Como?
–
Deixem comigo – disse Eládio.
Na
véspera do jogo, um sábado, Eládio chegou aos Aflitos por volta de 5 horas da
tarde, chamou Adolfo, velho empregado do clube, responsável pelo campo, e lhe
disse baixinho:
– Arranje um serrote.
Espantado,
o funcionário ficou mais vermelho do que era e foi lá até o quarto onde
guardava os cacarecos com os quais lidava rotineiramente e apanhou um velho serrote,
apresentando-o ao Pajé, como o baixinho era tratado por causa da liderança que exercia no Náutico.
–
Agora venha cá e me acompanhe.
Os
dois saíram no rumo do campo. No caminho, Adolfo, encarregado de zelar pelo
gramado e seus arredores, matutava sobre o que poderia estar acontecendo, uma
vez que, da parte que lhe cabia, estava tudo em ordem.
Pararam
na barra situada no lado do Country Club. Junto de uma das traves, Eládio
acocorou-se, para surpresa ainda maior do seu acompanhante. Este não atinava bulhufas
sobre o que estava acontecendo. Mais ainda quando o dirigente mandou-o fazer um
buraco em torno de uma das traves. Quanto Adolfo já tinha cavado mais ou menos
um palmo, veio a determinação:
–
Agora serre a trave, bem no pezinho.
Foi
aí que o dedicado serventuário alvirrubro descobriu o motivo de Eládio ter
pedido o serrote. Entregou-se à tarefa e botou o utensílio que tinha à mão para
funcionar. Em dado momento, o travessão ficou empenado, e o poste que estava
levando as serrotadas de Adolfo, deu o créu. Ou seja, ruiu. Veio a contraordem
do cartola:
–
Tá bom. Deixe como está e vamos embora, logo.
Mais
uma vez, Adolfo cumpriu a ordem do comandante e bateu em retirada, mas sem
entender a finalidade da tarefa que acabara de realizar.
No dia seguinte, 29 de novembro, o Diário da Manhã trazia com destaque na sua página esportiva, a
cópia de um ofício, com o número 88/31 assinado pelo presidente Vitorino Maia, do
Náutico. Era dirigido à Federação, no seguinte teor:
No
intuito de salvaguardar a sua responsabilidade, o Clube Náutico Capibaribe
apressa-se a comunicar a V.S., o acidente que acaba de se verificar em seu
campo de desportos. No momento em que o encarregado do campo procedia a reparos
em um dos postes do gol, sucedeu o mesmo ruir, em virtude do mau estado de
conservação da parte enterrada, inteiramente carcomida pela umidade. Dada a
hora adiantada em que isso se verificou, impossibilitando a substituição do
madeiramento em mau estado, quer nos parecer não ser possível terminar o
serviço necessário a tempo de se realizar o jogo marcado para nosso campo, o
que comunicamos para os necessários fins.
A partida programada para os Aflitos
não se realizou, de acordo com o que o Náutico pretendia. E haja discussão nas
rodas esportivas. Na segunda-feira, o Diario
de Pernambuco trazia um comentário estranhando o tal acidente com a barra:
Causou
estranheza nos círculos esportivos o caso do adiamento do jogo Náutico x Torre,
em face das circunstâncias em que se revestiu o adiamento processado à última
hora, com espaço limitado de tempo para ser impossível uma providência urgente.
Essa trave do gol do campo dos Aflitos, a que horas
teria caído?Haverá nos círculos esportivos quem possa dar resposta à pergunta?
Raposa velha, como Eládio, o
presidente da FPD , Renato Silveira, rubro-negro
de carteirinha, estranhou o acidente de araque. Em vez de esperar o cumprimento
da tabela para determinar a realização do jogo que acabara de ser adiado,
marcou o encontro Náutico x Torre para o domingo seguinte.
Novo
espanto de Renato Silveira e de todos os que acompanhavam o Campeonato
Pernambucano, incluindo aí s diretoria do Náutico. O Náutico terminou
contrariando o que se esperava e venceu o Torre por 1 x 0, gol assinalado por
João Manuel. Com isso, tirou o Sport do páreo, como o Pajé pretendia. O Santa
Cruz terminou sendo o campeão.
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