O
dramaturgo Ariano Suassuna e o
compositor Capiba eram muito amigos. A
amizade entre aquelas duas figuras geniais vinha de muito tempo, da época em
que eram estudantes universitários. Formaram-se na Faculdade de Direito da
Universidade Federal de Pernambuco, aquela que fica localizada diante do Parque
Treze de Maio e da Câmara Municipal, na Rua Princesa Isabel, no Recife. Em comum, o fato de ambos serem geniais, cada
qual na sua área de ação.
Ariano
nasceu em João Pessoa, capital da Paraíba, em pleno Palácio da Redenção, quando
seu pai, João Suassuna, governava o Estado. Quanto a Capíba, embora tenha
nascido em Surubim, cidade localizada no Agreste pernambucano, berço também do
famoso apresentador de tevê, Chacrinha, em certo momento da vida, seu pai, o
velho Capiba, igualmente músico, resolveu ir ganhar a vida em Campina Grande,
levando, naturalmente, a filharada.
Capiba, filho, que chegou a tocar em
cinema, na época dos filmes mudos, estudou em João Pessoa, mas por pouco tempo.
Depois passou num concurso para o Banco do Brasil e veio para o Recife. Ariano, ainda morou em Taperoá, interior
paraibano, antes de se mandar para o Recife, onde passou a viver até morrer aos
87 anos, em 2014. .Se não era pernambucano de fato, era de direito, pois a
cidadania lhe foi outorgada com muita justiça.
Essa
dupla de gênios deixou um imenso legado para a cultura pernambucana. Ariano foi
um estupendo romancista e um senhor dramaturgo, além de ter sido um grande
contador de histórias, sempre provocando risos.
Capiba,
falecido em 1997, com 93 anos, deixou um sem-número de composições em gêneros
os mais diversos, embora tenha ficado mais conhecido pelos inúmeros
frevos-canção que compôs. Mas ele tinha valsas, sambas, maracatus, etc.
Fora
das suas atividades, os dois amigos tinham uma paixão que atinge os
brasileiros, de um modo geral: o futebol. Capiba chegou até a fundar um time em
Campina Grande. Todavia, não foi em frente dentro das quatro linhas porque a
família “deportou-o” para João Pessoa.
Ariano
era um apaixonadíssimo torcedor do Sport. Se o Leão jogava, desde que estivesse
no Recife, ninguém arrumasse programa para ele na hora do jogo. Seu lugar era
na Ilha do Retiro, geralmente de calça preta e camisa vermelha, junto ao povão.
Capiba
era apaixonado pelo Santa Cruz antes mesmo de vir para o Recife, por conta do
que ouvia falar sobre a Cobra Coral. Durante muito tempo foi conselheiro e
integrante da comissão que cuidava da aquisição de uma sede e da construção de
um estádio para o Tricolor. Fez até música para o time do seu coração – Santa Cruz,
Santa Cruz/ Junta mais essa vitória... – Até certa etapa de sua
vida, não perdia uma partida do Santa.
Na
conversa entre ambos sempre havia espaço para o futebol. Portavam-se como
criaturas civilizadas, respeitando-se, embora cada um defendesse suas cores. Até que um dia, na casa de Ariano, em Casa
Forte, eles se exaltaram. Capiba, que era bastante explosivo, saiu abruptamente, ligou o carro e se mandou
para o Espinheiro, onde residia.
Passado
algum tempo, já voltando a respirar tranquilidade, Ariano chegou à conclusão de
que não valia a pena perder um amigo de longas datas por causa de uma discussão
besta sobre futebol. Pegou um táxi e mandou-se para a Rua Barão de Itamaracá a
fim de pedir desculpas ao velho companheiro. Não encontrou o “desafeto”.
É
que Capiba tivera o mesmo sentimento que levara Ariano à sua residência, e
àquela altura rumava para Casa Forte em busca da reconciliação.
Algo parecido com aquela música consagrada
pelo Quinteto Violado, que diz “quando eu ia, ela voltava, quando eu voltava
ela ia...”
Beleza de texto. Parabéns!
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