Rubão, segundo o descontraído Aramis



A história que segue é uma das muitas contadas pelo jornalista Aramis Trindade, que, com seu excelente veio humorístico, unia ficção e realidade, num jeito engraçado e muito apropriado de retratar os fatos.    
Aramis, cronista esportivo, advogado e tricolor


A elaboração da tabela do campeonato – como acontece todos os anos – reuniu a cartolagem na sede da FPF. Os pequenos queriam os jogos com os grandes, aos domingos: melhores rendas. Os grandes pretendiam jogos com os pequenos logo de saída: pontos mais fáceis:
– Essa tabela eu não aceito! Deve ter o dedo de Wilson Campos, Zé Porfírio e Neco Lapa. Foi feita para prejudicar o Sport!... alegou Leopoldo Casado...
– A primeira tá perfeita. E quem fez foi o diretor-técnico da Federação. Um cidadão acima de qualquer suspeita...
A Raposa Prateada jogou a tabela na mesa.
– Essa o Náutico não aceita! Foi Amândio Fernandes seu autor. É o maior rubro-negro vivo. Vá ver que foi elaborada lá na firma de Zé Rozenblit... Não aceito! – disse José Porfírio de Andrade Moraes.
– Minha gente, quem esquenta a cabeça é palito de fósforo. Trouxe uma tabela imparcial, elaborada para contemplar a todos! – mencionou Núbio Flores, colocando-a sobre a mesa.
– Olha, Zé Porfírio, que gracinha a do Núbio. O Santa Cruz faz seu primeiro jogo, com o Asas; o segundo, com o Estudante; o terceiro, com o Vovozinhas; o quarto, com o Ferroviário; o quinto, com o Íbis; e o sexto, com o América. O sétimo, com o Auto Esporte. Essa tabela deve ter sido elaborada pelo Nilson Ramos Leal, lá na casa do Tofinha, em companhia do Alfredo Ramos e Cascão!...
Todos falavam a um só tempo.
– Assim vou chamar Seu Rubem! Todo ano é essa confusão. Os senhores não se entendem – alegou Paulo Silva, o responsável pelo calendário.
Nova confusão. Desentendimentos, empurrões. As emissoras com seus repórteres entrevistando. Os fotógrafos, de pé nas cadeiras. Rubem Moreira entrou.
 – Qual o pobrema, Paulo? Já vi que tão querendo esculhambar minha federação. Nessa porra quem manda sou eu!
   Pois é, Seu Rubem, cada um tem uma tabela. Tão dizendo que o senhor mandou que todos viessem à reunião, cada qual com a sua tabela...
Um silêncio de velório. Rubem Moreira afundou o corpo na poltrona:
– Paulinho, eu sou um democrata. Mandei que cada cartola viesse com sua tabela, e depois votassem. Democracia é assim, Paulinho! Cada um tem sua opinião.
 Ficou de pé.
– Agora, tem uma coisa. Vocês podem votar à vontade, escolherem por votação ou não, a tabela que quiserem. Mas a tabela é esta que eu trouxe. Fiz há cinco dias com Napoleão (superintendente da FPF)...
Deu uma canhota na mesa.
– Eu sou um democrata. Mas a tabela é esta... Quem não gostar vá à puta que pariu... 


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