Bola, Frevo e Passo (6)




O Sport Club do Recife não vive apenas do Pelo Sport Tudo, o célebre frevo-canção composto em 1936 pela dupla Nelson Ferreira e Sebastião Lopes, popularizado como Moreninha, e que ainda hoje faz sucesso, dentro ou fora do Carnaval. O título é justamente o lema da torcida rubro-negra. Por causa dessa música, durante muito tempo, o tricolor Nelson Ferreira foi tido como se fosse torcedor do Sport. Recordemos a letra:

Moreninha que estás dominando
Desacatando agora pelo entrudo
Chegou a hora de gritares loucamente
Hip, Hip, hurrah, pelo Sport tudo

Vejo no batom dos teus lábios
E no teu cabelo ondulado
As cores que dominam altaneiras, oh morena
O meu glorioso Estado

E passado o Carnaval
Para que não te falte a boa sorte dirás
Na minha vida hei de fazer eternamente
Tudo, tudo, pelo Sport.

Sebastião Lopes


DEPOIS DO JEJUM

Bicampeão pernambucano em 1961/62, o Sport viveu um longo jejum, pois só voltou a levantar a taça em 1975, quando formou a badalada Seleção do Nordeste, puxada por Dario, o Peito de Aço. Naquela fase de euforia, após o Leão ter feito as pazes com o título, o advogado e bancário aposentado Rogério Andrade, destacou-se fazendo músicas para o time do seu coração.Seu primeiro sucesso foi Ninguém Segura o Sport.  Vamos conferir:

Este ano o nosso time
Vai ser mesmo campeão (bis)
Todo mundo vai cantar e dizer
Ninguém segura o Sport, não

Na Ilha vou ver
A turma pular
De alegria quando o time entrar
E mostrar a bola no pé
Meu Sport em ação
Casá, casá, casá
Ninguém segura o Leão
Casá, casá, casá

Rogério Andrade


No mesmo embalo, Rogério Andrade produziu Festa na Ilha:

Hoje é festa na Ilha
Nosso time vai jogar
O rubro-negro
É bom de bola
E a galera já começa a frevar
Vem cá, vem ver
Nosso time deitar e rolar (bis)
É muita garra
Quando ele começa a jogar

RUBRO-NEGRAS EM ALTA

As mulheres rubro-negras sempre receberam um tratamento carinhoso da parte de José Nunes de Souza, o maestro Nunes. Nascido no município de Vicência, na região Norte de Pernambuco, em 1931, e falecido em Paulista em 2016. aquele rubro-negro famoso veio para o Recife em 1950, já como um promissor clarinetista. Passou pelo Conservatório Pernambucano de Música e pela Universidade Federal de Pernambuco, tornando-se um músico de grande realce no Estado.

Nunes deu uma larga contribuição ao principal ritmo musical pernambucano, compondo com grande profusão, tanto frevos de rua, como frevos-canção, vários deles homenageando o Sport, do qual era um apaixonado torcedor.

Em 1975, baseado no slogan “vinte vezes campeão” criado para o Sport pelo jornalista e publicitário Celso Rodrigues, Nunes lançou um frevo-canção, que fez muito sucesso, sob o mesmo título, no qual mexia com os adversários do Leão:

A cobrinha eu deixo para um lado
O timbu para outro lado eu vou deixar
Afasto América, Central e Ferroviário
Com o leão vou comandar
Quá, quá, quá
Salve as barbas do leão
Vinte vezes campeão

Maestro Nunes


Como já foi dito, as rubro-negras mereceram um papel de destaque no estoque de composições de Nunes. A elas, ele dedicou três frevos, começando pelo O Mais Querido sou Eu, uma réplica ao O  Mais Querido, de Capiba, em homenagem ao Santa Cruz. É assim que Nunes rebate a marcha-exaltação daquele inesquecível tricolor. Vamos conferir?

O Mais Querido Sou Eu

O mais querido sou eu
Sou eu o mais querido
Atualmente há mais mulheres do que homens!
E as mulheres estão comigo

Vá se informar por aí
E tire uma conclusão
Em cinquenta mulheres
Quarenta são do leão
O Papai da Cidade
Tem um grande coração

Leonina Querida

Oitenta por cento das mulheres pernambucanas
São leoninas de coração
Gostam do frevo, do samba, do baião
Brigam feito uma leoa

Leonina querida, vem cá
Vamos dar um passeio na Ilha
Domingo, o Sport vai jogar
Vamos ver o olé que ele vai dar
E pelo Carnaval, com o Bafo do Leão
Vamos botar pra quebrar

Leoa Linda

Leoa linda ela é
Linda, linda de morrer
Parece feita de marfim
Juro que nunca vi beleza assim

Quem a fez, fez com a mão
Tal a sua perfeição
Já se vê, já se vê
Só poderia ser da turma do Leão

Nunes também compôs frevos-de-rua, aqueles apenas orquestrados, que sacodem os foliões, que acompanham sua execução fazendo o passo nas suas mais diferentes variações. O maestro contou que em dado momento a barra estava pesada para o lado do presidente Jarbas Guimarães, algum tempo depois da conquista do inesquecível título de 1975. Então, ele fez o frevo rasgado Segura a Peteca, doando-o à tradicional troça carnavalesca Cachorro do Homem do Miúdo, cujo presidente, Mário Orlando, era um apaixonado rubro-negro.

Também são da lavra de Nunes Leão de Ouro e Transando com o Leão. Este foi presenteado à troça Camisa Velha, cujo nome, segundo Nunes, tem muito a ver com o Sport.

– Um grupo de rapazes resolveu sair no Carnaval e improvisou um estandarte com uma velha camisa do Sport – contou o maestro. Estava batizada a nova troça carnavalesca.

O MAIS AMADO

Em 1974, o Sport ganhou, na versão estadual, um concurso promovido pela revista Placar, em parceria com o Diário de Pernambuco para se saber qual o time de maior torcida no Estado. Os rubro-negros cerraram fileiras, comprando quilos e mais quilos de jornais velhos para colocar os cupons nas urnas. O falecido Jovino Falcão, um dos fundadores do Bafo do Leão, primeira torcida organizada do Sport, não deixou a oportunidade passar, fazendo o frevo-canção O Mais Querido:

Está comprovado
Já foi conferido
Que o mais amado
O mais amado é que é, é que é
É o mais querido

É ele o maior em nosso Estado
Destaca-se do remo ao futebol
É o consagrado campeão do Norte
O mais querido, o mais querido
É o nosso Sport

Renato Barros


Em 1979, a Treme Terra, vibrante facção da torcida rubro-negra, que nada tinha com as atuais torcidas organizadas, que semeiam a violência nos estádios, foi homenageada por Renato Barros, do conhecido conjunto Renato e seus Blue Caps, com uma música também chamada de Treme Terra – o pernambucano Leonardo Sullivan afirma que a composição é sua, e manteve uma grande polêmica com o presidente da Treme Terra, Severino Victor, até a morte deste. A letra é esta:

Chegando lá na Ilha do Retiro
Ô abre alas que o Sport vai jogar
O rubro-negro é cor de guerra
E o Sport estremece a terra

Vivendo pro Sport esta emoção
A galera se engrandece muito mais
Quem não fala do Sport é mudo
Pelo Sport tudo

Leonardo Sullivan


O FREVO QUE VIROU HINO

 Uma música que se eternizou no clube da Ilha foi Sport, Uma Razão para Viver, composta em 1975, mas que só foi gravada em 1979, num compacto simples, que traz na outra face o frevo-de-rua Casá, Casá, do imortal Nelson Ferreira.

 O frevo-canção do engenheiro Eunitônio Pereira, um rubro-negro de berço, pois seu pai, o ex-prefeito do Recife Antônio Pereira também o era, terminou recebendo um novo andamento musical  e foi oficializado pelo Conselho Deliberativo leonino como o hino oficial do clube. Vamos ao frevo-canção, que depois virou hino:

Com o Sport
Eternamente estarei
Pois rubro-negras
São as cores que abracei
E o abraço de tão forte
Não tem separação
Pra mim o meu Sport
É religião
A vida a gente vive
Pra vencer
Sport, Sport
Uma razão para viver
Casá, Casá (hei)
Casá,  Casá (hei)
Sport, Sport, Sport



Vale salientar que o Casá Casá, que ocupou o outro lado do compacto duplo foi composto por Nelson Ferreira para atender a um pedido do então adolescente Eunitônio Pereira. Nelson havia feito o frevo-de-rua Come e Dorme para o Náutico, em 1953. Eunitônio, aproveitando a intimidade com o maestro, que frequentava sua casa, exigiu que um frevo idêntico fosse feito para o Sport. Pouco tempo depois seu pedido foi atendido. O frevo de rua Casá, Casá foi gravado originalmente em 1954 pela Orquestra Tamandaré, segundo o pesquisador Hugo Martins (Rádios Universitária AM e FM).

Em 2008, com a conquista da Copa do Brasil, da lavra de Rogério Andrade saiu   Sport – campeão da Copa do Brasil:

Agora a galera
Pode comemorar
Sport é campeão
Valeu a luta
Valeu a garra
Festa na Ilha
Muita emoção
Agora, rubro-negro
Você pode vibrar
A Copa é nossa
O grito saiu
O Sport agora é
O campeão da Copa do Brasil
II
Casá, casá,
O grito da galera
Na Ilha se ouviu
O Sport agora é
O campeão da Copa do Brasil

BLOCOS RUBRO-NEGROS

Cazá-Cazá (Afogados da Ingazeira)
Raça Rubro-negra (Bezerros)
Torcida do Sport (Bom Jardim)
Leão da Ilha (Carpina)
Bloco do Sport (Condado)
Leão da Barra (Goiana)
Leões na Folia (Ipojuca)
Sport Folia (João Alfredo)
Cazá-Cazá (Nazaré da Mata)
Eternamente Sport (Olinda)
Leões da Mata (Palmares)
Nação Rubro-negra (Pesqueira)
As Marias do Sport (Recife/Boa Vista)
Sport Folia (Ribeirão)
Rubro-negro de Coração (São José da Coroa Grande)

Por LENIVALDO ARAGÃO





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