“Heróis de 59” – este é o título do livro que o
veterano jornalista esportivo baiano Antônio Matos estará lançando em Salvador,
na sexta-feira 29 de março, data em que o Esporte Clube Bahia comemorará 59
anos da conquista do título de campeão da I Taça Brasil, a Copa do Brasil de
hoje. O formato era diferente, pois apenas participavam os campeões estaduais, sendo que os do Rio de
Janeiro, a então capital do País, e São Paulo pegavam o filé. Ficavam esperando
que a turma de baixo se engalfinhasse, só entrando na fase final.
Até aí, não havia um campeão nacional e era preciso
ter um, que representasse a Nação na Taça Libertadores das Américas. Existia um
campeonato brasileiro, que se realizava bianualmente, envolvendo as seleções
dos Estados. Mas sua influência era apenas dentro dos nossos limites
territoriais.
Quanto à conquista do Esporte Clube Bahia, o
futebol pernambucano terminou figurando na trajetória do Esquadrão de Aço rumo ao
seu memorável feito por intermédio do Sport Club do Recife, como veremos.
COMO
FOI
A primeira Taça Brasil constou de três fases, todas realizadas em
sistema eliminatório (mata-mata), com jogos de ida e volta. Na primeira fase,
os clubes foram divididos em quatro grupos: Nordeste, Norte, Leste e Sul.
Na segunda, os vencedores dos grupos Nordeste e Norte disputaram
o título de campeão da Zona Norte, e os dos grupos Leste e Sul o da Zona Sul.
A fase final reuniu os campeões das Zonas Sul e Norte e os
representantes paulista e carioca, que, pode-se dizer, entraram pela porta dos
fundos.
A competição contou com estes 16 campeões estaduais do ano anterior,
1958:
ABC Futebol Clube – Rio
Grande do Norte
Auto Esporte Clube– Paraíba
Ceará Sporting Club – Ceará
Centro Sportivo Alagoano/CSA
– Alagoas
Clube Atlético Mineiro
– Minas Gerais
Clube Atlético Paranaense
– Paraná
Clube de Regatas Vasco da
Gama – Rio de Janeiro (Distrito Federal)
Esporte Clube Bahia –
Bahia
Ferroviário Esporte Clube –
Maranhão
Grêmio Foot-Ball Porto
Alegrense – Rio Grande do Sul
Hercílio Luz Futebol Clube – Santa
Catarina
Manufatura Esporte Clube – antigo
Estado do Rio
Rio Branco Esporte Clube –
Espírito Santo
Santos Futebol Clube – São
Paulo
Sport Club do Recife –
Pernambuco
Tuna Luso Comercial – Belém
CAMINHADA DO SPORT E DO
BAHIA
A equipe que somasse mais pontos no mata-mata, passava para a
fase seguinte. Caso nos dois jogos os times tivessem o mesmo número de pontos
(dois empates ou uma vitória para cada lado independentemente do total de gols
nas duas partidas) era disputado um jogo extra.
Caso persistisse o empate, o time que tivesse o maior "goal-average"
(média dos gols marcados dividido pelos gols sofridos) nas três partidas da
fase, era o vencedor. Se mesmo assim o empate persistisse, a vaga seria
decidida no cara ou coroa.
Aliás, o cara ou coroa decidiu a classificação do Atlético
Mineiro diante do Botafogo em 1967, depois de ter havido empate em todos os
critérios de desempate. Sorteio procedido pelo árbitro número 1 do Brasil,
Armando Marques. Naquele ano, a moeda botou o Galo mineiro no caminho do
Náutico.
Em 1959, o Sport chegou ao confronto com o Bahia, depois de eliminar o Auto Esporte de João Pessoa-PB e a Tuna Luso Brasileira, de Belém-PA.
O goleiro Dick, do Sport, na notícia sobre o início da Taça Brasil |
Em 1959, o Sport chegou ao confronto com o Bahia, depois de eliminar o Auto Esporte de João Pessoa-PB e a Tuna Luso Brasileira, de Belém-PA.
Na estreia no torneio, em 23 de agosto de 1959, o
campeão pernambucano, comandado pelo argentino Dante Bianchi, derrotou o
alvirrubro paraibano por 3 x 0, em João Pessoa, gols de Bentancor (2) e
Osvaldo.
Auto
Esporte: Agostinho (seria campeão pernambucano no mesmo
ano pelo Santa Cruz e encerraria sua carreira no Central); Gavião e Kleber;
Marajó, Américo e Neguinho; Macau, China, Chiclete (brilharia depois no Sport),
Élcio e Piau. Técnico: Antônio Berto.
Sport:
Cazuza; Bria e Cido; Zé Maria, Dedé e Índio; Ramos, Bé (Traçaia), Osvaldo,
Bentancor e Djalma. Técnico: Dante Bianchi.
No jogo da volta, o Leão aplicou uma goleada de 5 x
2, no representante paraibano, na Ilha do Retiro, em 30 de agosto.
O adversário seguinte do Sport foi a Tuna Luso
Comercial, hoje Tuna Luso Brasileira, campeã paraense. Empate por 2 x 2, na
Ilha do Retiro, em 24 de setembro, e vitória do Sport, em Belém, em 4 de
outubro, por 3 x 1.
Enquanto isso, o Bahia eliminava o CSA e o Ceará,
candidatando-se a disputar com o Sport a Taça Norte, a competição criada pela
CBD (Confederação Brasileira de Desportos) dentro da Taça Brasil, e a
classificação para enfrentar os times do lado de baixo do mapa do País.
GOLEADA
ENGANOSA
Classificados para a segunda fase, Sport e Bahia
enfrentaram-se pela primeira vez no dia 27 de outubro de 1959. Era uma
terça-feira. O jogo, inicialmente marcado para o domingo, foi adiado por causa
de um temporal.
Jogo no Estádio da Fonte Nova. A essa altura, Dante
Bianchi não estava mais à frente do rubro-negro pernambucano, que era dirigido
provisoriamente pelo assistente técnico Capuano.
Partida arduamente disputada, com vitória do Bahia
por 3x2, gols de Marito, Biriba e Jair. Osvaldo e Traçaia marcaram para o
Sport.
Bahia:
Nadinho; Leone e Henrique; Flávio, Vicente e Beto; Marito, Alencar, Leo, Ari e
Biriba. Técnico: Geninho.
Sport:
Dick; Bria e Cido; Zé Maria, Dedé e Ney Andrade; Traçaia, Bé, Osvaldo,
Bentancor e Elcy. Técnico: Capuano.
Veio o segundo jogo, no Estádio da Ilha do Retiro, em
30 de outubro, tendo se registrado uma inesperada e inesquecível goleada de 6 x
0 do Sport sobre o Bahia. Uma tragédia para os baianos e uma façanha para os
pernambucanos. Gols de Osvaldo (3), Traçaia, Bentancor e Bé.
As equipes entraram em campo com a mesma formação
do primeiro encontro. No Bahia, durante o jogo, Leone foi substituído por
Florisvaldo.
Com uma vitória para cada lado houve a necessidade
de uma terceira partida, a negra,
como era chamada. Mandava o regulamento da competição que o novo jogo se
realizasse 48 horas depois do segundo encontro, no mesmo local. Não prevalecia
o acúmulo de gol. As equipes voltavam a campo para o terceiro duelo, zeradas.
Assim, no dia 3 de novembro, Sport e Bahia voltaram
a se enfrentar. Os baianos deram o troco, eliminando os pernambucanos por 2 x
0, gols de Biriba e Leo. As formações foram as mesmas dos jogos anteriores.
O Bahia recebeu o troféu referente à Copa Norte,
fez a festa na Ilha e prosseguiu na sua campanha, eliminando o Vasco da Gama
numa disputa de três jogos, cujos resultados foram Vasco 0 x 1 Bahia, no Rio; Bahia 1 x 2 Vasco, em Salvador; e Bahia 1 x 0 Vasco, novamente na capital
baiana.
O tricolor baiano classificou-se para a briga final
com o Santos, tendo sido estes os resultados: Santos 2 x 3 Bahia, na Vila Belmiro; Bahia 0 x 2 Santos, na Fonte Nova; e Bahia 2 x 1 Santos, no Maracanã, Rio de Janeiro.
Por se tratar da grande final, o campo do terceiro jogo teve que ser neutro.
Jogo realizado em 29 de março de 1960, com
arbitragem de Frederico Lopes. Os goleadores foram Vicente, Leo e Alencar
(Bahia) e Coutinho (Santos). Pelé, que havia participado dos dois primeiros
jogos ficou ausente da decisão. Público calculado em 20 mil pessoas.
Bahia
(campeão): Nadinho; Beto, Hermes, Vicente e Nenzinho
(defendeu Náutico, Santa Cruz, Sport e Central); Flávio e Mário; Marito,
Alencar, Leo e Biriba. Técnico, Carlos Volante, argentino.
Santos,
vice-campeão: Lalá; Getúlio, Mauro, Formiga e Zé Carlos; Zito e Mário; Dorval,
Pagão (Tite), Coutinho e Pepe. Técnico: Lula.
CARTOLA
CONTA VANTAGEM
No seu livro Futebol,
Paixão e Catimba, lançado em 1973, o presidente do Bahia, por ocasião da I
Taça Brasil, Osório Vilas Boas, uma velha raposa do futebol, aborda alguns
fatos relacionados com o confronto Sport x Bahia. Vejamos:
Concentramos
o time em Itaparica. Geninho, um grande técnico, orientando o pessoal, e aqui,
em Salvador, realizado o primeiro jogo, ganhamos do Esporte (sic) por 3 a 2. Um belo triunfo. Já disse: nosso
plantel era bom de bola, mas tinha um defeito que eu considero grave, ou seja,
era muito de farra.
De
sorte que combinei com Geninho para concentrar todo mundo, uma vez que a viagem
para Recife ocorreria 48 horas depois e o jogo logo de “cara”. Mas, com a
euforia da vitória, os jogadores tapearam tanto a mim quanto ao Geninho e houve
uma folga e a rapaziada caiu na farra.
De
qualquer modo realizou-se a viagem para o Recife sem minha presença. Eu
seguiria no dia seguinte, mas, em consequência de atraso do avião, permaneci no
aeroporto de manhã até a noite, enquanto o jogo já se realizava, eu sabia,
assistido pelo Havellange (João Havellange, presidente da
Confederação Brasileira de Desportos-CBD),
pelo Mozart di Giorgio, a cúpula da CBD. No avião eu ouvia a irradiação.
“Esporte 1 a 0. Este Bahia não é de nada!” “Esporte 2 a 0!” Do aeroporto segui
direto para o estádio e lembram-se qual era o escore? 4 a 0. Entrei direto no
campo e Geninho, irado, me disse: “Presidente, o time está um mulambo!”
Era
aquele o resultado da farra, o não terem se mantido na concentração, e quando
subi para a Tribuna de Honra, recebi as “gozações” de Havellange e de outros
dirigentes da CBD. Mantive a cabeça fria. Ao invés de fazer “sala” ao pessoal
da CBD, resolvi pensar no terceiro jogo, o decisivo, que se realizaria lá
mesmo, no Recife.
Raciocinei
rápido; o prélio estava marcado para o dia 2 de novembro, Dia de Finados, um
absurdo, mas ao mesmo tempo era uma oportunidade para conseguir com o pessoal
adversário um adiamento, o que daria, no mínimo, ocasião para um prolongado
descanso do nosso time. E fui direto à procura do presidente do Esporte. Parabenizei-o
pela expressiva vitória, muito justa etc., (imaginem: 6 a 0 no placard), mas
ponderei que jogar no dia 2 seria um duplo erro: Dia de Finados, e assim, um
atentado às almas penadas! Renda fraquíssima, uma vez que ninguém iria deixar
de homenagear seus mortos para assistir futebol. E perguntei: “Vamos adiar?”
Respondeu: “Para o dia 3.” Admiti: “Certo, dia 3.”
Voltei
ao campo e comuniquei o fato ao técnico do Esporte, que estava todo eufórico
com um triunfo daqueles. Os jogadores também entusiasmados, tanto fizeram que
conseguiram uma folga naquela noite. Enquanto orientava Geninho para que
controlasse a nossa turma em regime de campo de concentração, informei-me onde
os jogadores do Esporte iriam comemorar. E soube: no bar da BRAHMA. E fui para
lá, confraternizar com eles. Modéstia à parte, passei-lhes “aquele papo”. E
tome cerveja! Gastei – confesso – uma “nota”, pagando cerveja sobre cerveja, um
derrame. Quando percebi que eles estavam “tomados”, deixei-os e, segundo sei, a
farra continuou na “braba”.
Então,
voltei ao hotel onde me hospedara, o “São Domingos”, convicto que o Geninho,
hospedado com o nosso pessoal no Hotel Regina, estava de sentinela, controlando
a situação. Ah! Um detalhe: eu gratificara o rapaz que controlava o placard
para que não mudasse o escore do jogo anterior, 6 a 0. De modo que no dia 3,
quando entramos em campo para a partida decisiva eu mostrei aos nossos rapazes
o placard vergonhoso. Imagino que
aquilo atingiu o brio de cada um deles.
Para
não ir mais longe: realizou-se a “melhor de três” e ganhamos bonito: 2 a 0! Se
a cervejada funcionou, sobretudo devemos a vitória à garra dos rapazes, à
tática de Geninho, à certeza de que estávamos defendendo não só o Bahia, mas a
Bahia. Não posso esquecer, por exemplo, o Biriba tirar a bola das mãos do
Manga, goleiro do Esporte, usando a cabeça e fazer um gol. Um detalhe: Manga
tem quase duas vezes a altura do Biriba. Foi um gol de “fechar o comércio” e
Geninho disse: “Nunca vi coisa igual.”
(Aqui, o esperto dirigente baiano se equivocou. Nos
três jogos contra o Bahia, o goleiro do Sport foi o carioca Dick, posto que o
prata da casa Manga já tinha sido vendido ao Botafogo. E Dick não era alto, tinha
estatura mediana).
SAPATO
ALTO
Por e-mail entrevistei o ex-lateral esquerdo Ney
Andrade, que reside em Salvador. Nascido no Rio Grande do Norte e projetado
pelo ABC, naquela época ele defendia o Sport, tendo anos depois, passado a
vestir a camisa do Bahia após uma passagem pelo América recifense.
Para Ney, os times do Sport e do Bahia eram
parelhos, o que fez com que a goleada registrada no segundo jogo tenha sido
considerada “inesperada por todos os jogadores.”
O ex-jogador afirma que na partida decisiva, depois
de ter aplicado aquele surpreendente 6 x 0, o Sport entrou em campo já se
considerando classificado para prosseguir no torneio.
– O Sport menosprezou o adversário, entrando em
campo de sapato alto, no tradicional ‘já ganhou’, e falhas individuais de
alguns jogadores fizeram a história do jogo – disse Ney Andrade.
– Como foi possível a reação do Bahia, depois da
humilhação do jogo anterior?
– O Bahia tinha um time estruturado e experiente.
Sabia fazer o jogo acontecer, além de estar com os brios feridos. Com a experiência
dos seus jogadores se impôs e conseguiu o resultado positivo.
Quanto à cervejada propagada por Osório Vilas Boas,
Ney Andrade foi taxativo:
– Aquilo foi conversa de Osório, pois não houve
comemoração nenhuma. Terminado o jogo, cada um foi para seu lado.
O
BRAHMA CHOPP
Concordo com esta informação de Ney Andrade. O Bar
Brahma Chopp era situado na esquina da Av. Dantas Barreto com a Praça da
Independência, a popular Pracinha do Diário. Pertencia ao empresário e
conselheiro do Santa Cruz Moacir Cardoso, representante da Brahma no Recife, quando
ainda não havia fábrica em Pernambuco.
Durante o dia eu passava várias vezes pela sua calçada nas
idas e vindas para o Diario de Pernambuco,
onde trabalhava. Ponto de encontro de gente do futebol e da política. Às vezes ia la também entornar uma loura suada..
Tivesse havido a tal farra, os garçons logo me
contariam, uma vez que eu tinha amizade com todos, e eles gostavam de puxar um
papo sobre futebol.
Como o time do Sport não era composto de
anjinhos, é possível que o presidente do Bahia tenha encontrado um alguns por
lá, o que mesmo assim acho difícil, uma vez que o bar localizava-se num ponto
central e certamente ninguém iria querer
se expor, com tantos lugares mais reservados, espalhados pela cidade, para encher
a cara.
Por LENIVALDO ARAGÃO
Por LENIVALDO ARAGÃO
Livro revive célebre conquista do Bahia
“Heróis de 59” – este é o título do livro que o
veterano jornalista esportivo baiano Antônio Matos estará lançando em Salvador,
na sexta-feira 29 de março, data em que o Esporte Clube Bahia comemorará 59
anos da conquista do título de campeão da I Taça Brasil, a Copa do Brasil de
hoje. O formato era diferente, pois apenas participavam os campeões estaduais, sendo que os do Rio de
Janeiro, a então capital do País, e São Paulo pegavam o filé. Ficavam esperando
que a turma de baixo se engalfinhasse, só entrando na fase final.
Até aí, não havia um campeão nacional e era preciso
ter um, que representasse a Nação na Taça Libertadores das Américas. Existia um
campeonato brasileiro, que se realizava bianualmente, envolvendo as seleções
dos Estados. Mas sua influência era apenas dentro dos nossos limites
territoriais.
Quanto à conquista do Esporte Clube Bahia, o
futebol pernambucano terminou figurando na trajetória do Esquadrão de Aço rumo ao
seu memorável feito por intermédio do Sport Club do Recife, como veremos.
COMO
FOI
A primeira Taça Brasil constou de três fases, todas realizadas em
sistema eliminatório (mata-mata), com jogos de ida e volta. Na primeira fase,
os clubes foram divididos em quatro grupos: Nordeste, Norte, Leste e Sul.
Na segunda, os vencedores dos grupos Nordeste e Norte disputaram
o título de campeão da Zona Norte, e os dos grupos Leste e Sul o da Zona Sul.
A fase final reuniu os campeões das Zonas Sul e Norte e os
representantes paulista e carioca, que, pode-se dizer, entraram pela porta dos
fundos.
A competição contou com estes 16 campeões estaduais do ano anterior,
1958:
ABC Futebol Clube – Rio
Grande do Norte
Auto Esporte Clube– Paraíba
Ceará Sporting Club – Ceará
Centro Sportivo Alagoano/CSA
– Alagoas
Clube Atlético Mineiro
– Minas Gerais
Clube Atlético Paranaense
– Paraná
Clube de Regatas Vasco da
Gama – Rio de Janeiro (Distrito Federal)
Esporte Clube Bahia –
Bahia
Ferroviário Esporte Clube –
Maranhão
Grêmio Foot-Ball Porto
Alegrense – Rio Grande do Sul
Hercílio Luz Futebol Clube – Santa
Catarina
Manufatura Esporte Clube – antigo
Estado do Rio
Rio Branco Esporte Clube –
Espírito Santo
Santos Futebol Clube – São
Paulo
Sport Club do Recife –
Pernambuco
Tuna Luso Comercial – Belém
CAMINHADA DO SPORT E DO
BAHIA
A equipe que somasse mais pontos no mata-mata, passava para a
fase seguinte. Caso nos dois jogos os times tivessem o mesmo número de pontos
(dois empates ou uma vitória para cada lado independentemente do total de gols
nas duas partidas) era disputado um jogo extra.
Caso persistisse o empate, o time que tivesse o maior "goal-average"
(média dos gols marcados dividido pelos gols sofridos) nas três partidas da
fase, era o vencedor. Se mesmo assim o empate persistisse, a vaga seria
decidida no cara ou coroa.
Aliás, o cara ou coroa decidiu a classificação do Atlético
Mineiro diante do Botafogo em 1967, depois de ter havido empate em todos os
critérios de desempate. Sorteio procedido pelo árbitro número 1 do Brasil,
Armando Marques. Naquele ano, a moeda botou o Galo mineiro no caminho do
Náutico.
Em 1959, o Sport chegou ao confronto com o Bahia,
depois de eliminar o Auto Esporte de João Pessoa-PB e a Tuna Luso Brasileira,
de Belém-PA.
Na estreia no torneio, em 23 de agosto de 1959, o
campeão pernambucano, comandado pelo argentino Dante Bianchi, derrotou o
alvirrubro paraibano por 3 x 0, em João Pessoa, gols de Bentancor (2) e
Osvaldo.
Auto
Esporte: Agostinho (seria campeão pernambucano no mesmo
ano pelo Santa Cruz e encerraria sua carreira no Central); Gavião e Kleber;
Marajó, Américo e Neguinho; Macau, China, Chiclete (brilharia depois no Sport),
Élcio e Piau. Técnico: Antônio Berto.
Sport:
Cazuza; Bria e Cido; Zé Maria, Dedé e Índio; Ramos, Bé (Traçaia), Osvaldo,
Bentancor e Djalma. Técnico: Dante Bianchi.
No jogo da volta, o Leão aplicou uma goleada de 5 x
2, no representante paraibano, na Ilha do Retiro, em 30 de agosto.
O adversário seguinte do Sport foi a Tuna Luso
Comercial, hoje Tuna Luso Brasileira, campeã paraense. Empate por 2 x 2, na
Ilha do Retiro, em 24 de setembro, e vitória do Sport, em Belém, em 4 de
outubro, por 3 x 1.
Enquanto isso, o Bahia eliminava o CSA e o Ceará,
candidatando-se a disputar com o Sport a Taça Norte, a competição criada pela
CBD (Confederação Brasileira de Desportos) dentro da Taça Brasil, e a
classificação para enfrentar os times do lado de baixo do mapa do País.
GOLEADA
ENGANOSA
Classificados para a segunda fase, Sport e Bahia
enfrentaram-se pela primeira vez no dia 27 de outubro de 1959. Era uma
terça-feira. O jogo, inicialmente marcado para o domingo, foi adiado por causa
de um temporal.
Jogo no Estádio da Fonte Nova. A essa altura, Dante
Bianchi não estava mais à frente do rubro-negro pernambucano, que era dirigido
provisoriamente pelo assistente técnico Capuano.
Partida arduamente disputada, com vitória do Bahia
por 3x2, gols de Marito, Biriba e Jair. Osvaldo e Traçaia marcaram para o
Sport.
Bahia:
Nadinho; Leone e Henrique; Flávio, Vicente e Beto; Marito, Alencar, Leo, Ari e
Biriba. Técnico: Geninho.
Sport:
Dick; Bria e Cido; Zé Maria, Dedé e Ney Andrade; Traçaia, Bé, Osvaldo,
Bentancor e Elcy. Técnico: Capuano.
Veio o segundo jogo, no Estádio da Ilha do Retiro, em
30 de outubro, tendo se registrado uma inesperada e inesquecível goleada de 6 x
0 do Sport sobre o Bahia. Uma tragédia para os baianos e uma façanha para os
pernambucanos. Gols de Osvaldo (3), Traçaia, Bentancor e Bé.
As equipes entraram em campo com a mesma formação
do primeiro encontro. No Bahia, durante o jogo, Leone foi substituído por
Florisvaldo.
Com uma vitória para cada lado houve a necessidade
de uma terceira partida, a negra,
como era chamada. Mandava o regulamento da competição que o novo jogo se
realizasse 48 horas depois do segundo encontro, no mesmo local. Não prevalecia
o acúmulo de gol. As equipes voltavam a campo para o terceiro duelo, zeradas.
Assim, no dia 3 de novembro, Sport e Bahia voltaram
a se enfrentar. Os baianos deram o troco, eliminando os pernambucanos por 2 x
0, gols de Biriba e Leo. As formações foram as mesmas dos jogos anteriores.
O Bahia recebeu o troféu referente à Copa Norte,
fez a festa na Ilha e prosseguiu na sua campanha, eliminando o Vasco da Gama
numa disputa de três jogos, cujos resultados foram Vasco 0 x 1 Bahia, no Rio; Bahia 1 x 2 Vasco, em Salvador; e Bahia 1 x 0 Vasco, novamente na capital
baiana.
O tricolor baiano classificou-se para a briga final
com o Santos, tendo sido estes os resultados: Santos 2 x 3 Bahia, na Vila Belmiro; Bahia 0 x 2 Santos, na Fonte Nova; e Bahia 2 x 1 Santos, no Maracanã, Rio de Janeiro.
Por se tratar da grande final, o campo do terceiro jogo teve que ser neutro.
Jogo realizado em 29 de março de 1960, com
arbitragem de Frederico Lopes. Os goleadores foram Vicente, Leo e Alencar
(Bahia) e Coutinho (Santos). Pelé, que havia participado dos dois primeiros
jogos ficou ausente da decisão. Público calculado em 20 mil pessoas.
Bahia
(campeão): Nadinho; Beto, Hermes, Vicente e Nenzinho
(defendeu Náutico, Santa Cruz, Sport e Central); Flávio e Mário; Marito,
Alencar, Leo e Biriba. Técnico, Carlos Volante, argentino.
Santos,
vice-campeão: Lalá; Getúlio, Mauro, Formiga e Zé Carlos; Zito e Mário; Dorval,
Pagão (Tite), Coutinho e Pepe. Técnico: Lula.
CARTOLA
CONTA VANTAGEM
No seu livro Futebol,
Paixão e Catimba, lançado em 1973, o presidente do Bahia, por ocasião da I
Taça Brasil, Osório Vilas Boas, uma velha raposa do futebol, aborda alguns
fatos relacionados com o confronto Sport x Bahia. Vejamos:
Concentramos
o time em Itaparica. Geninho, um grande técnico, orientando o pessoal, e aqui,
em Salvador, realizado o primeiro jogo, ganhamos do Esporte (sic) por 3 a 2. Um belo triunfo. Já disse: nosso
plantel era bom de bola, mas tinha um defeito que eu considero grave, ou seja,
era muito de farra.
De
sorte que combinei com Geninho para concentrar todo mundo, uma vez que a viagem
para Recife ocorreria 48 horas depois e o jogo logo de “cara”. Mas, com a
euforia da vitória, os jogadores tapearam tanto a mim quanto ao Geninho e houve
uma folga e a rapaziada caiu na farra.
De
qualquer modo realizou-se a viagem para o Recife sem minha presença. Eu
seguiria no dia seguinte, mas, em consequência de atraso do avião, permaneci no
aeroporto de manhã até a noite, enquanto o jogo já se realizava, eu sabia,
assistido pelo Havellange (João Havellange, presidente da
Confederação Brasileira de Desportos-CBD),
pelo Mozart di Giorgio, a cúpula da CBD. No avião eu ouvia a irradiação.
“Esporte 1 a 0. Este Bahia não é de nada!” “Esporte 2 a 0!” Do aeroporto segui
direto para o estádio e lembram-se qual era o escore? 4 a 0. Entrei direto no
campo e Geninho, irado, me disse: “Presidente, o time está um mulambo!”
Era
aquele o resultado da farra, o não terem se mantido na concentração, e quando
subi para a Tribuna de Honra, recebi as “gozações” de Havellange e de outros
dirigentes da CBD. Mantive a cabeça fria. Ao invés de fazer “sala” ao pessoal
da CBD, resolvi pensar no terceiro jogo, o decisivo, que se realizaria lá
mesmo, no Recife.
Raciocinei
rápido; o prélio estava marcado para o dia 2 de novembro, Dia de Finados, um
absurdo, mas ao mesmo tempo era uma oportunidade para conseguir com o pessoal
adversário um adiamento, o que daria, no mínimo, ocasião para um prolongado
descanso do nosso time. E fui direto à procura do presidente do Esporte. Parabenizei-o
pela expressiva vitória, muito justa etc., (imaginem: 6 a 0 no placard), mas
ponderei que jogar no dia 2 seria um duplo erro: Dia de Finados, e assim, um
atentado às almas penadas! Renda fraquíssima, uma vez que ninguém iria deixar
de homenagear seus mortos para assistir futebol. E perguntei: “Vamos adiar?”
Respondeu: “Para o dia 3.” Admiti: “Certo, dia 3.”
Voltei
ao campo e comuniquei o fato ao técnico do Esporte, que estava todo eufórico
com um triunfo daqueles. Os jogadores também entusiasmados, tanto fizeram que
conseguiram uma folga naquela noite. Enquanto orientava Geninho para que
controlasse a nossa turma em regime de campo de concentração, informei-me onde
os jogadores do Esporte iriam comemorar. E soube: no bar da BRAHMA. E fui para
lá, confraternizar com eles. Modéstia à parte, passei-lhes “aquele papo”. E
tome cerveja! Gastei – confesso – uma “nota”, pagando cerveja sobre cerveja, um
derrame. Quando percebi que eles estavam “tomados”, deixei-os e, segundo sei, a
farra continuou na “braba”.
Então,
voltei ao hotel onde me hospedara, o “São Domingos”, convicto que o Geninho,
hospedado com o nosso pessoal no Hotel Regina, estava de sentinela, controlando
a situação. Ah! Um detalhe: eu gratificara o rapaz que controlava o placard
para que não mudasse o escore do jogo anterior, 6 a 0. De modo que no dia 3,
quando entramos em campo para a partida decisiva eu mostrei aos nossos rapazes
o placard vergonhoso. Imagino que
aquilo atingiu o brio de cada um deles.
Para
não ir mais longe: realizou-se a “melhor de três” e ganhamos bonito: 2 a 0! Se
a cervejada funcionou, sobretudo devemos a vitória à garra dos rapazes, à
tática de Geninho, à certeza de que estávamos defendendo não só o Bahia, mas a
Bahia. Não posso esquecer, por exemplo, o Biriba tirar a bola das mãos do
Manga, goleiro do Esporte, usando a cabeça e fazer um gol. Um detalhe: Manga
tem quase duas vezes a altura do Biriba. Foi um gol de “fechar o comércio” e
Geninho disse: “Nunca vi coisa igual.”
(Aqui, o esperto dirigente baiano se equivocou. Nos
três jogos contra o Bahia, o goleiro do Sport foi o carioca Dick, posto que o
prata da casa Manga já tinha sido vendido ao Botafogo. E Dick não era alto, tinha
estatura mediana).
SAPATO
ALTO
Por e-mail entrevistei o ex-lateral esquerdo Ney
Andrade, que reside em Salvador. Nascido no Rio Grande do Norte e projetado
pelo ABC, naquela época ele defendia o Sport, tendo anos depois, passado a
vestir a camisa do Bahia após uma passagem pelo América recifense.
Para Ney, os times do Sport e do Bahia eram
parelhos, o que fez com que a goleada registrada no segundo jogo tenha sido
considerada “inesperada por todos os jogadores.”
O ex-jogador afirma que na partida decisiva, depois
de ter aplicado aquele surpreendente 6 x 0, o Sport entrou em campo já se
considerando classificado para prosseguir no torneio.
– O Sport menosprezou o adversário, entrando em
campo de sapato alto, no tradicional ‘já ganhou’, e falhas individuais de
alguns jogadores fizeram a história do jogo – disse Ney Andrade.
– Como foi possível a reação do Bahia, depois da
humilhação do jogo anterior?
– O Bahia tinha um time estruturado e experiente.
Sabia fazer o jogo acontecer, além de estar com os brios feridos. Com a experiência
dos seus jogadores se impôs e conseguiu o resultado positivo.
Quanto à cervejada propagada por Osório Vilas Boas,
Ney Andrade foi taxativo:
– Aquilo foi conversa de Osório, pois não houve
comemoração nenhuma. Terminado o jogo, cada um foi para seu lado.
O
BRAHMA CHOPP
Concordo com esta informação de Ney Andrade. O Bar
Brahma Chopp era situado na esquina da Av. Dantas Barreto com a Praça da
Independência, a popular Pracinha do Diário. Pertencia ao empresário e
conselheiro do Santa Cruz Moacir Cardoso, representante da Brahma no Recife, quando
ainda não havia fábrica em Pernambuco.
Durante o dia eu passava várias vezes por lá nas
idas e vindas para o Diario de Pernambuco,
onde trabalhava. Ponto de encontro de gente do futebol e da política, dava sempre
uma paradinha obrigatória para uma conversa rápida com alguém.
Tivesse havido a tal farra, os garçons logo me
contariam, uma vez que eu tinha amizade com todos, e eles gostavam de puxar um
papo sobre futebol.
Como o time do Sport não era composto apenas de
anjinhos, é possível que o presidente do Bahia tenha encontrado um ou dois por
lá, o que mesmo assim acho difícil, uma vez que o bar localizava-se num ponto
central, frequentado por desportistas e torcedores. Certamente ninguém iria querer
se expor, com tantos lugares mais reservados, espalhados pela cidade, para encher
a cara.
Livro revive célebre conquista do Bahia
“Heróis de 59” – este é o título do livro que o
veterano jornalista esportivo baiano Antônio Matos estará lançando em Salvador,
na sexta-feira 29 de março, data em que o Esporte Clube Bahia comemorará 59
anos da conquista do título de campeão da I Taça Brasil, a Copa do Brasil de
hoje. O formato era diferente, pois apenas participavam os campeões estaduais, sendo que os do Rio de
Janeiro, a então capital do País, e São Paulo pegavam o filé. Ficavam esperando
que a turma de baixo se engalfinhasse, só entrando na fase final.
Até aí, não havia um campeão nacional e era preciso
ter um, que representasse a Nação na Taça Libertadores das Américas. Existia um
campeonato brasileiro, que se realizava bianualmente, envolvendo as seleções
dos Estados. Mas sua influência era apenas dentro dos nossos limites
territoriais.
Quanto à conquista do Esporte Clube Bahia, o
futebol pernambucano terminou figurando na trajetória do Esquadrão de Aço rumo ao
seu memorável feito por intermédio do Sport Club do Recife, como veremos.
COMO
FOI
A primeira Taça Brasil constou de três fases, todas realizadas em
sistema eliminatório (mata-mata), com jogos de ida e volta. Na primeira fase,
os clubes foram divididos em quatro grupos: Nordeste, Norte, Leste e Sul.
Na segunda, os vencedores dos grupos Nordeste e Norte disputaram
o título de campeão da Zona Norte, e os dos grupos Leste e Sul o da Zona Sul.
A fase final reuniu os campeões das Zonas Sul e Norte e os
representantes paulista e carioca, que, pode-se dizer, entraram pela porta dos
fundos.
A competição contou com estes 16 campeões estaduais do ano anterior,
1958:
ABC Futebol Clube – Rio
Grande do Norte
Auto Esporte Clube– Paraíba
Ceará Sporting Club – Ceará
Centro Sportivo Alagoano/CSA
– Alagoas
Clube Atlético Mineiro
– Minas Gerais
Clube Atlético Paranaense
– Paraná
Clube de Regatas Vasco da
Gama – Rio de Janeiro (Distrito Federal)
Esporte Clube Bahia –
Bahia
Ferroviário Esporte Clube –
Maranhão
Grêmio Foot-Ball Porto
Alegrense – Rio Grande do Sul
Hercílio Luz Futebol Clube – Santa
Catarina
Manufatura Esporte Clube – antigo
Estado do Rio
Rio Branco Esporte Clube –
Espírito Santo
Santos Futebol Clube – São
Paulo
Sport Club do Recife –
Pernambuco
Tuna Luso Comercial – Belém
CAMINHADA DO SPORT E DO
BAHIA
A equipe que somasse mais pontos no mata-mata, passava para a
fase seguinte. Caso nos dois jogos os times tivessem o mesmo número de pontos
(dois empates ou uma vitória para cada lado independentemente do total de gols
nas duas partidas) era disputado um jogo extra.
Caso persistisse o empate, o time que tivesse o maior "goal-average"
(média dos gols marcados dividido pelos gols sofridos) nas três partidas da
fase, era o vencedor. Se mesmo assim o empate persistisse, a vaga seria
decidida no cara ou coroa.
Aliás, o cara ou coroa decidiu a classificação do Atlético
Mineiro diante do Botafogo em 1967, depois de ter havido empate em todos os
critérios de desempate. Sorteio procedido pelo árbitro número 1 do Brasil,
Armando Marques. Naquele ano, a moeda botou o Galo mineiro no caminho do
Náutico.
Em 1959, o Sport chegou ao confronto com o Bahia,
depois de eliminar o Auto Esporte de João Pessoa-PB e a Tuna Luso Brasileira,
de Belém-PA.
Na estreia no torneio, em 23 de agosto de 1959, o
campeão pernambucano, comandado pelo argentino Dante Bianchi, derrotou o
alvirrubro paraibano por 3 x 0, em João Pessoa, gols de Bentancor (2) e
Osvaldo.
Auto
Esporte: Agostinho (seria campeão pernambucano no mesmo
ano pelo Santa Cruz e encerraria sua carreira no Central); Gavião e Kleber;
Marajó, Américo e Neguinho; Macau, China, Chiclete (brilharia depois no Sport),
Élcio e Piau. Técnico: Antônio Berto.
Sport:
Cazuza; Bria e Cido; Zé Maria, Dedé e Índio; Ramos, Bé (Traçaia), Osvaldo,
Bentancor e Djalma. Técnico: Dante Bianchi.
No jogo da volta, o Leão aplicou uma goleada de 5 x
2, no representante paraibano, na Ilha do Retiro, em 30 de agosto.
O adversário seguinte do Sport foi a Tuna Luso
Comercial, hoje Tuna Luso Brasileira, campeã paraense. Empate por 2 x 2, na
Ilha do Retiro, em 24 de setembro, e vitória do Sport, em Belém, em 4 de
outubro, por 3 x 1.
Enquanto isso, o Bahia eliminava o CSA e o Ceará,
candidatando-se a disputar com o Sport a Taça Norte, a competição criada pela
CBD (Confederação Brasileira de Desportos) dentro da Taça Brasil, e a
classificação para enfrentar os times do lado de baixo do mapa do País.
GOLEADA
ENGANOSA
Classificados para a segunda fase, Sport e Bahia
enfrentaram-se pela primeira vez no dia 27 de outubro de 1959. Era uma
terça-feira. O jogo, inicialmente marcado para o domingo, foi adiado por causa
de um temporal.
Jogo no Estádio da Fonte Nova. A essa altura, Dante
Bianchi não estava mais à frente do rubro-negro pernambucano, que era dirigido
provisoriamente pelo assistente técnico Capuano.
Partida arduamente disputada, com vitória do Bahia
por 3x2, gols de Marito, Biriba e Jair. Osvaldo e Traçaia marcaram para o
Sport.
Bahia:
Nadinho; Leone e Henrique; Flávio, Vicente e Beto; Marito, Alencar, Leo, Ari e
Biriba. Técnico: Geninho.
Sport:
Dick; Bria e Cido; Zé Maria, Dedé e Ney Andrade; Traçaia, Bé, Osvaldo,
Bentancor e Elcy. Técnico: Capuano.
Veio o segundo jogo, no Estádio da Ilha do Retiro, em
30 de outubro, tendo se registrado uma inesperada e inesquecível goleada de 6 x
0 do Sport sobre o Bahia. Uma tragédia para os baianos e uma façanha para os
pernambucanos. Gols de Osvaldo (3), Traçaia, Bentancor e Bé.
As equipes entraram em campo com a mesma formação
do primeiro encontro. No Bahia, durante o jogo, Leone foi substituído por
Florisvaldo.
Com uma vitória para cada lado houve a necessidade
de uma terceira partida, a negra,
como era chamada. Mandava o regulamento da competição que o novo jogo se
realizasse 48 horas depois do segundo encontro, no mesmo local. Não prevalecia
o acúmulo de gol. As equipes voltavam a campo para o terceiro duelo, zeradas.
Assim, no dia 3 de novembro, Sport e Bahia voltaram
a se enfrentar. Os baianos deram o troco, eliminando os pernambucanos por 2 x
0, gols de Biriba e Leo. As formações foram as mesmas dos jogos anteriores.
O Bahia recebeu o troféu referente à Copa Norte,
fez a festa na Ilha e prosseguiu na sua campanha, eliminando o Vasco da Gama
numa disputa de três jogos, cujos resultados foram Vasco 0 x 1 Bahia, no Rio; Bahia 1 x 2 Vasco, em Salvador; e Bahia 1 x 0 Vasco, novamente na capital
baiana.
O tricolor baiano classificou-se para a briga final
com o Santos, tendo sido estes os resultados: Santos 2 x 3 Bahia, na Vila Belmiro; Bahia 0 x 2 Santos, na Fonte Nova; e Bahia 2 x 1 Santos, no Maracanã, Rio de Janeiro.
Por se tratar da grande final, o campo do terceiro jogo teve que ser neutro.
Jogo realizado em 29 de março de 1960, com
arbitragem de Frederico Lopes. Os goleadores foram Vicente, Leo e Alencar
(Bahia) e Coutinho (Santos). Pelé, que havia participado dos dois primeiros
jogos ficou ausente da decisão. Público calculado em 20 mil pessoas.
Bahia
(campeão): Nadinho; Beto, Hermes, Vicente e Nenzinho
(defendeu Náutico, Santa Cruz, Sport e Central); Flávio e Mário; Marito,
Alencar, Leo e Biriba. Técnico, Carlos Volante, argentino.
Santos,
vice-campeão: Lalá; Getúlio, Mauro, Formiga e Zé Carlos; Zito e Mário; Dorval,
Pagão (Tite), Coutinho e Pepe. Técnico: Lula.
CARTOLA
CONTA VANTAGEM
No seu livro Futebol,
Paixão e Catimba, lançado em 1973, o presidente do Bahia, por ocasião da I
Taça Brasil, Osório Vilas Boas, uma velha raposa do futebol, aborda alguns
fatos relacionados com o confronto Sport x Bahia. Vejamos:
Concentramos
o time em Itaparica. Geninho, um grande técnico, orientando o pessoal, e aqui,
em Salvador, realizado o primeiro jogo, ganhamos do Esporte (sic) por 3 a 2. Um belo triunfo. Já disse: nosso
plantel era bom de bola, mas tinha um defeito que eu considero grave, ou seja,
era muito de farra.
De
sorte que combinei com Geninho para concentrar todo mundo, uma vez que a viagem
para Recife ocorreria 48 horas depois e o jogo logo de “cara”. Mas, com a
euforia da vitória, os jogadores tapearam tanto a mim quanto ao Geninho e houve
uma folga e a rapaziada caiu na farra.
De
qualquer modo realizou-se a viagem para o Recife sem minha presença. Eu
seguiria no dia seguinte, mas, em consequência de atraso do avião, permaneci no
aeroporto de manhã até a noite, enquanto o jogo já se realizava, eu sabia,
assistido pelo Havellange (João Havellange, presidente da
Confederação Brasileira de Desportos-CBD),
pelo Mozart di Giorgio, a cúpula da CBD. No avião eu ouvia a irradiação.
“Esporte 1 a 0. Este Bahia não é de nada!” “Esporte 2 a 0!” Do aeroporto segui
direto para o estádio e lembram-se qual era o escore? 4 a 0. Entrei direto no
campo e Geninho, irado, me disse: “Presidente, o time está um mulambo!”
Era
aquele o resultado da farra, o não terem se mantido na concentração, e quando
subi para a Tribuna de Honra, recebi as “gozações” de Havellange e de outros
dirigentes da CBD. Mantive a cabeça fria. Ao invés de fazer “sala” ao pessoal
da CBD, resolvi pensar no terceiro jogo, o decisivo, que se realizaria lá
mesmo, no Recife.
Raciocinei
rápido; o prélio estava marcado para o dia 2 de novembro, Dia de Finados, um
absurdo, mas ao mesmo tempo era uma oportunidade para conseguir com o pessoal
adversário um adiamento, o que daria, no mínimo, ocasião para um prolongado
descanso do nosso time. E fui direto à procura do presidente do Esporte. Parabenizei-o
pela expressiva vitória, muito justa etc., (imaginem: 6 a 0 no placard), mas
ponderei que jogar no dia 2 seria um duplo erro: Dia de Finados, e assim, um
atentado às almas penadas! Renda fraquíssima, uma vez que ninguém iria deixar
de homenagear seus mortos para assistir futebol. E perguntei: “Vamos adiar?”
Respondeu: “Para o dia 3.” Admiti: “Certo, dia 3.”
Voltei
ao campo e comuniquei o fato ao técnico do Esporte, que estava todo eufórico
com um triunfo daqueles. Os jogadores também entusiasmados, tanto fizeram que
conseguiram uma folga naquela noite. Enquanto orientava Geninho para que
controlasse a nossa turma em regime de campo de concentração, informei-me onde
os jogadores do Esporte iriam comemorar. E soube: no bar da BRAHMA. E fui para
lá, confraternizar com eles. Modéstia à parte, passei-lhes “aquele papo”. E
tome cerveja! Gastei – confesso – uma “nota”, pagando cerveja sobre cerveja, um
derrame. Quando percebi que eles estavam “tomados”, deixei-os e, segundo sei, a
farra continuou na “braba”.
Então,
voltei ao hotel onde me hospedara, o “São Domingos”, convicto que o Geninho,
hospedado com o nosso pessoal no Hotel Regina, estava de sentinela, controlando
a situação. Ah! Um detalhe: eu gratificara o rapaz que controlava o placard
para que não mudasse o escore do jogo anterior, 6 a 0. De modo que no dia 3,
quando entramos em campo para a partida decisiva eu mostrei aos nossos rapazes
o placard vergonhoso. Imagino que
aquilo atingiu o brio de cada um deles.
Para
não ir mais longe: realizou-se a “melhor de três” e ganhamos bonito: 2 a 0! Se
a cervejada funcionou, sobretudo devemos a vitória à garra dos rapazes, à
tática de Geninho, à certeza de que estávamos defendendo não só o Bahia, mas a
Bahia. Não posso esquecer, por exemplo, o Biriba tirar a bola das mãos do
Manga, goleiro do Esporte, usando a cabeça e fazer um gol. Um detalhe: Manga
tem quase duas vezes a altura do Biriba. Foi um gol de “fechar o comércio” e
Geninho disse: “Nunca vi coisa igual.”
(Aqui, o esperto dirigente baiano se equivocou. Nos
três jogos contra o Bahia, o goleiro do Sport foi o carioca Dick, posto que o
prata da casa Manga já tinha sido vendido ao Botafogo. E Dick não era alto, tinha
estatura mediana).
SAPATO
ALTO
Por e-mail entrevistei o ex-lateral esquerdo Ney
Andrade, que reside em Salvador. Nascido no Rio Grande do Norte e projetado
pelo ABC, naquela época ele defendia o Sport, tendo anos depois, passado a
vestir a camisa do Bahia após uma passagem pelo América recifense.
Para Ney, os times do Sport e do Bahia eram
parelhos, o que fez com que a goleada registrada no segundo jogo tenha sido
considerada “inesperada por todos os jogadores.”
O ex-jogador afirma que na partida decisiva, depois
de ter aplicado aquele surpreendente 6 x 0, o Sport entrou em campo já se
considerando classificado para prosseguir no torneio.
– O Sport menosprezou o adversário, entrando em
campo de sapato alto, no tradicional ‘já ganhou’, e falhas individuais de
alguns jogadores fizeram a história do jogo – disse Ney Andrade.
– Como foi possível a reação do Bahia, depois da
humilhação do jogo anterior?
– O Bahia tinha um time estruturado e experiente.
Sabia fazer o jogo acontecer, além de estar com os brios feridos. Com a experiência
dos seus jogadores se impôs e conseguiu o resultado positivo.
Quanto à cervejada propagada por Osório Vilas Boas,
Ney Andrade foi taxativo:
– Aquilo foi conversa de Osório, pois não houve
comemoração nenhuma. Terminado o jogo, cada um foi para seu lado.
O
BRAHMA CHOPP
Concordo com esta informação de Ney Andrade. O Bar
Brahma Chopp era situado na esquina da Av. Dantas Barreto com a Praça da
Independência, a popular Pracinha do Diário. Pertencia ao empresário e
conselheiro do Santa Cruz Moacir Cardoso, representante da Brahma no Recife, quando
ainda não havia fábrica em Pernambuco.
Durante o dia eu passava várias vezes por lá nas
idas e vindas para o Diario de Pernambuco,
onde trabalhava. Ponto de encontro de gente do futebol e da política, dava sempre
uma paradinha obrigatória para uma conversa rápida com alguém.
Tivesse havido a tal farra, os garçons logo me
contariam, uma vez que eu tinha amizade com todos, e eles gostavam de puxar um
papo sobre futebol.
Como o time do Sport não era composto apenas de
anjinhos, é possível que o presidente do Bahia tenha encontrado um ou dois por
lá, o que mesmo assim acho difícil, uma vez que o bar localizava-se num ponto
central, frequentado por desportistas e torcedores. Certamente ninguém iria querer
se expor, com tantos lugares mais reservados, espalhados pela cidade, para encher
a cara.
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