Toco, Travo e Canela


Louca para namorar


Por LENIVALDO ARAGÃO


O goleiro catarinense Valdir, que defendeu o Sport rapidamente, em 1969, deixou seu nome escrito na história do Clube de Regatas Vasco da Gama, cuja camisa vestiu de 1966 a 1973. É lembrado pelos vascaínos mais antigos, não apenas pelo gol contra que marcou em pleno Maracanã, num encontro do Almirante com o Bangu. Mas por defesas magistrais, como a que fez durante quase dez anos.

No Clube da Colina fez uma sólida amizade com os “conterras”, que é como se tratavam os pernambucanos que jogavam lá, como Adilson, irmão de Almir, o Pernambuquinho, Valfrido, Pedro Paulo, goleiro como ele, Nado e Salomão. Este, um paraibano engajado na turma por ter sido revelado nacionalmente pelo Náutico, depois de ter despontado no Campinense.

Outros clubes que Valdir defendeu foram Paysandú e Carlos Renaux, de Brusque, sua terra natal, em Santa Catarina, Palmeiras de Blumenau (SC); América, Campo Grande, Volta Redonda e Bonsucesso (RJ); América e Alecrim (RN); Ceub (DF); Goiânia, Atlético e Rio Verde (GO). Ele estava na reserva de Andrada no dia em que o argentino levou o milésimo gol de Pelé. Portanto, viveu o drama, como se fosse com ele.



No tal gol marcado contra seu time, o Vasco, beneficiando o Bangu, o catarinense tentou devolver a bola à circulação com a mão, depois de uma defesa magistral num tiro do atacante  Dé, que ficou espraguejando. Quando fez o movimento para girar o corpo Valdir deu uma “farrapada”, para falar em bom pernambuquês,   perdeu o controle e jogou a pelota para dentro das próprias redes. Goooool leeeegal, deve ter gritado a plenos pulmões ao microfone, como costumava fazer, o célebre Mario Vianna, ex-árbitro transformado em comentarista de arbitragem.

Um Estado onde Valdir também jogou e com o qual mais se identificou foi o No Rio Grande do Norte, onde desfrutou de imenso prestígio. Galegão, boa estatura, bem apessoado, fazia sucesso dentro de campo diante dos marmanjos, e lá fora perante o mulherio. De sua passagem pela antiga “terra do jerimum”,  entre muitas outras, ficou a lembrança de uma  passagem engraçada.

O Alecrim, terceira força do futebol potiguar, não tinha um campo para fazer os treinos coletivos. Estes eram realizados no Estádio Juvenal Lamartine ou no gramado da Polícia Militar. A preparação física acontecia em um banco de areia, atrás da sede social do clube, na Avenida Alexandrino de Alencar, ou na Praia dos Artistas.

Às vésperas de uma partida com o ABC pelo campeonato estadual, o técnico Ferdinando Teixeira conseguiu o campo de um clube na Vila São José, próximo do Tirol (um bairro de Natal), para realizar o coletivo-apronto.

“Na época – conta Valdir – eu, que gozava a fama de ser o galã do time, treinava numa baliza (para nós pernambucanos é barra mesmo) próxima a um muro alto e que tinha por detrás um prédio enorme, com características de repartição pública. De uma de suas janelas, chegava o cantarolar de uma voz feminina, bonita:

“Loiro lindo, vem aqui me pegar, que eu estou louca para namorar”.

Os versinhos se repetiam, incessantemente, me deixando constrangido (e vaidoso, ao mesmo tempo). 
Tentava sem sucesso, identificar a autora, e comentei com o colega Teles:
“Esta mulher deve ser louca, já canta há mais de uma hora!”
“Você tem razão, Valdir. Este prédio é o hospício de Natal”.


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