FPF reina há 104 anos em Pernambuco


 
Rubem Moreira (E), o mais longevo presidente,  com Edgar Campos, Ivan Lima e Heleno Nunes, presidente da CBF


O dia 16 de junho de 1915 marcou a fundação da Liga Sportiva Pernambucana, hoje Federação Pernambucana de Futebol, que acaba, assim, de  completar 104 anos de atividades. O objetivo era   aglutinar os clubes. Com ela veio a realização do primeiro Campeonato Pernambucano. Na corrida do tempo, a entidade foi mudando de nome: Liga Sportiva Pernambucana (LSP), Federação Pernambucana de Desportos Terrestres (FPDT), Federação Pernambucana de Desportos (FPD) e Federação Pernambucana de Futebol (FPF).

Antes já tinha havido tentativas fracassadas de criação de uma mentora que pudesse organizar um campeonato. Foi dado um passo nesse sentido, em 1912, com a realização de um arremedo de competição, porém, a ideia não evoluiu e os clubes voltaram à disputa dos jogos amistosos.

Ainda em 1912 ocorreu um fato muito importante para a história do futebol de Pernambuco. O Minas Geraes Foot-ball Club, time pernambucano, atravessou as fronteiras do Estado para disputar duas partidas em João Pessoa, capital da Paraíba.

O Minas Geraes, que estava entre os que disputaram o campeonato inacabado da Liga de 1912, foi, desta forma, o primeiro clube da Terra dos Altos Coqueiros a se exibir além dos limites pernambucanos. Isso aconteceu no dia 13 de outubro de 1912. O adversário foi o América da Paraíba. Jogo realizado na capital paraibana.

Aristeu Aciolly , primeiro presidente


INGLESES NO COMANDO

Mesmo sem uma liga que patrocinasse um campeonato, havia, desde 1909, uma tabela anual de jogos, organizada pelo British Club. Naquela época, a influência no futebol local, dos ingleses que moravam no Recife, era enorme a começar pela programação do British Club.

Um fato retrata bem o poder dos ingleses. A tabela do British marcava para o dia 13 de maio de 1910 um amistoso entre Náutico e Sport. Ocorre que, no dia 6 daquele mês, morreu o monarca inglês Eduardo VII, filho primogênito da Rainha Vitória. A morte do Rei, em Londres, fez com que fosse adiado um jogo, no Recife.

Em 1913, a exemplo do que já ocorrera em 1912, as atividades futebolísticas do Sport, do Náutico e dos clubes de ingleses foram mínimas. Náutico e Sport realizaram uma única partida no dia 15 de junho. Jogos envolvendo os times de ingleses também foram raros.
No Jornal Pequeno de 14 de abril de 1913 há um registro que dá uma ideia de como as atividades futebolísticas daqueles clubes foram, realmente, escassas.

“O director do Sport Club Recife lastima a falta de comparecimento de jogadores no campo do Derby, hontem pela manhã, onde só estiveram a trenar trez jogadores; não é de se esperar que essa mocidade forte, vivaz, queira abandonar de vez o foot-ball, espécie de sport que tanto bem faz ao nosso systema nervoso.
A manhã de hontem estava esplendida para jogar, e tanto é assim que os inglezes, esse povo que sabe comprehender melhor que nós o resultado ultra-benefico dos sports, especialmente pela manhã, andavam a passeiar pelos campos a jogar golf”.

A SEGUNDA LIGA

Numa segunda tentativa de organizar o Campeonato Pernambucano, em agosto de 1913 foi fundada uma certa Liga Pernambucana de Foot-ball. Esta organizou um campeonato do qual participaram Recife Club, Pernambuco Sport Club, Sport Club Olindense e Caxangá Foot-ball Club.

O returno desse certame chegou a ser iniciado, mas não foi concluído. O Olindense não compareceu ao jogo do segundo turno contra o Pernambuco e, pelo regulamento, perdeu por WO. Tudo leva a crer que a partir daí começaram os desentendimentos e o campeonato não continuou. Esta Liga de 1913 também não prosperou.

SURGE A COBRA CORAL

Continuou a criação de novos clubes, e seus jogos passaram a ter maior espaço nos jornais, único meio de divulgação, posto não haver ainda a ‘imprensa falada’. Dentre os novos clubes criados estavam dois, fadados a entrar para a história do futebol pernambucano, ambos fundados em 2014.

O primeiro foi o Santa Cruz Foot Club, nascido das conversas diárias de adolescente na calçada da igreja da Santa Cruz, no bairro da Boa Vista, em 03/02/1914, e, ali pertinho, na Rua da Santa Cruz, o Sport Club Flamengo, originalmente Cruz Branca Foot-Ball Club (20/04/2014), cujo nome foi mudado, 22 dias depois da fundação, em homenagem ao carioca Clube de Regatas Flamengo.

Originalmente, o Santa Cruz adotou o preto e o branco para suas cores. Em 1915, quando da disputa do primeiro Campeonato Pernambucano, mudou para vermelho, preto e branco para não ficar igual ao Flamengo, que também era alvinegro. A decisão sobre a mudança foi feita por sorteio, conforme registrado no livro História do Futebol em Pernambuco, de Givanildo Alves. O Santa Cruz passou a ser tricolor, surgindo com o tempo o epíteto de Cobra Coral.

O Flamengo foi o primeiro campeão pernambucano, fato ocorrido em 1915. Com o passar do tempo, perdeu importância. Seus últimos anos foram marcados por derrotas de goleada, como a que levou do Náutico pelo placar de 21 a 3, nos Aflitos, em 01/07/1945. Despediu-se do Campeonato Pernambucano da 1ª Divisão em 1949 e terminou fechando as portas, depois de ter participado de 31 edições do certame.

O primeiro jogo do Campeonato Pernambucano, em todos os tempos, colocou frente a frente, Santa Cruz e Colligação Sportiva Recifense, no dia 01/08/1915, na Campina do Derby, com vitória do Santa por 1 x 0, gol assinalado por Mário Rodrigues.  

A atividade dos times do Náutico, do Sport, e dos clubes de ingleses, foi muito pequena em 1914. Na imprensa há registro de apenas um jogo do Sport e nenhum do Náutico.

Uma nota, publicada no Jornal Pequeno de 23/04/1914, dá a dimensão da pequena atividade futebolística de Náutico e Sport naquele ano. Trata-se, na realidade, da transcrição de uma carta enviada àquele jornal.

“Ilmos srs redactores do Jornal Pequeno.

Pedimos a publicação do seguinte:
Chegando ao meu conhecimento que diversos rapazes do sympathico Club Náutico Capibaribe, organizarão um team para, no próximo domingo, bater-se com um team de inglezes ou o team do Telegrapho, venho por meio destas humildes linhas louvar o procedimento dos dignos moços pois, desde que o Sport Club do Recife não tenha um team como ficou provado pelo officio do qual vv.ss. deram noticia só existia um meio para termos um jogo de estímulo para os mesmos jogadores do Sport Club. E por este meio vamos ter no próximo domingo com a perda ou a victoria do team de brazileiros.
Agradecendo desde já a publicação destas humildes linhas na secção de sports, subscrevemo-me attenciosamente – de vv. ss. amigo e agradecido – Um foot-baller.”

A respeito dos jogos do Santa Cruz, frequentemente, os jornais anunciavam que iriam ser realizados. Nas datas após estes jogos, contudo, dificilmente encontra-se referência a estas partidas.

O primeiro jogo do hoje Tricolor em toda a sua história, foi realizado no dia 08/03/1914, um mês depois da fundação, na Campina do Derby. Vitória do Santa contra o Rio Negro por 7x0.

Evandro Carvalho, presidente atual, em ação da Fifa


A LIGA QUE DEU CERTO

Finalmente, em 1915, no dia 16 de junho, foi criada a Liga Sportiva Pernambucana, com a finalidade de   para organizar os Campeonato Pernambucano, chegando aos dias atuais com o nome de Federação Pernambucana de Futebol.

Participaram da criação da Liga os seguintes times: Centro Sportivo do Peres, Torre Sport Club, Sport Club Flamengo, João de Barros Foot-ball Club (hoje América Futebol Clube), Colligação Sportiva Recifense e Santa Cruz Foot-ball Club.

Com a criação da Liga, o futebol Pernambucano ganha nova motivação. Agora, além das partidas amistosas passa a haver jogos do campeonato. Para o melhor time da competição o título de campeão estadual.


ATA DE FUNDAÇÃO

A reunião de criação da entidade realizou-se na residência do desportista Aristheu Accioly Lins, tendo sido redigida esta ata:

Aos 16 dias do mês de julho de 1915, com as presenças dos Srs. Olinto Jacome, Severino Arruda,  Bruno Burline, Aristheu Accioly Lins, Eduardo Lemos, Otávio de Oliveira, Antonio Miranda, Joaquim Chaves, Herotildes Xavier, Oavaldo Antunes, João Ranulfo e Alcindo Wanderley, representantes do Centro Sportivo do Peres, João de Barros Foot-Ball Club, Sport Club Flamengo, Agros Sport Club e Santa Cruz Foot-Ball Club, efetuou-se a reunião convocada para se tratar das bases fundamentais de uma Liga de Esportes em Permambuco.
            Abre a sessão o Sr. Eduardo Lemos que, de acordo com os demais representantes, nomeia a seguinte diretoria: presidente, Aristheu Accioly Lins, vice, Eduardo Lemos, 1º secretário, Olinto Jacome, 2º secretário, Osvaldo Antunes, tesoureiro, Severino Arruda, orador, Antonio Miranda, e vice, Alcindo Wanderley.
            Depois de empossados os diversos membros da diretoria, o Sr. Eduardo Lemos convida o Sr. Presidente a tomar lugar na mesa e efetuara primeira sessão da Liga. O Sr. Aristheu assume então a presidência e declara aberta a sessão. O primeiro secretário lê o expediente, que consta de um ofício do Casa Forte Foot-Ball Club, agradecendo o convite da comissão organizadora da Liga, pedindo desculpas por não fazer parte dessa tão útil agremiação. Terminado o expediente, passou-se à ordem do dia. O Sr. Eduardo Lemos pede a palavra e propõe que se trate do nome que deve tomar a novel sociedade e lembra o nome de Liga Pernambucana de Esportes. É posta em discussão. O Sr. Antonio Miranda apresenta emenda que se deve adotar este nome, acrescentando “Atléticos”. Ambas propostas são rejeitadas. O Sr. Aristheu  Accioly Lins propõe então o nome de Liga Sportiva Pernambucana, que é aceito.
            O Sr. Presidente nomeia a comissão para elaborar os estatutos, que ficou assim constituída: Eduardo Lemos, relator, Bruno Burline, João Ranulfo, Alcindo Wanderley e Joaquim Chaves. O Sr. Bruno Burline pede a palavra e propõe que os clubes na próxima reunião apresentem a lista de associados. Depois de diversos apartes dos Srs. Joaquim Chaves e Antonio Miranda, achando que era cedo, foi rejeitada. O Sr. Miranda propõe que os clubes oficiem à Liga, apresentando seus representantes e que em caso de faltarem alguns deles, também seja oficiada à Liga, designando seus substitutos para evitar que de futuro não acontecesse o que estava vendo na atual sessão, pois que o Sr. João Ranulfo era do Agros e do Flamengo, e no entanto estava representando o primeiro desses clubes. É aprovado. O presidente encerra a sessão e marca para segunda-feira, 21 do corrente, às 18 horas, uma nova reunião.


PRIMEIRA DIRETORIA

Poucos dias depois da fundação foi aprovada a filiação de dois novos clubes: Coligação Sportiva Recifense e Torre Sport Club.

Em 7 de julho, a Liga tinha sua primeira diretoria eleita, com a seguinte constituição: presidente, Alcebíades Braga; vice-presidente, Olinto Jacome; 1º secretário, Olinto Araújo; 2º secretário, José Albuquerque; tesoureiro, Aristheu Accioly Lins; orador, Luiz Machado Dias; vice, Alberto Campos; presidente da Comissão de Jogos, José de Orange.

Durante os anos, a Liga sofreu várias transformações no seu formato e na sua denominação até chegar à Federação Pernambucana de Futebol.

Nota-se a ausência de Náutico e Sport dos quadros iniciais da Liga, à qual terminaram aderindo, diante do interesse em participar do Campeonato Pernambucano.

ADESÃO DO NÁUTICO 
Fundado em 1901, especificamente para praticar o remo, o Clube Náutico Capibaribe só veio a aderir ao futebol em 1909, cinco anos depois da fundação do Sport Club do Recife.

Associados do Alvirrubro começavam a se bandear para os lados do Rubro-Negro, seduzidos pelo jogo da bola. O Náutico, como se sabe, reagiu desde os primeiros momentos à prática do novo esporte. Liderada por Bento Magalhães, um dos fundadores, a maioria dos diretores era contrária à implantação da nova atividade esportiva, alegando que o clube tinha sido criado com a finalidade náutica. Além disso muita gente não achava graça em ver um bando de marmanjos vestindo calções, correndo atrás de uma bola.

A turma mais jovem, composta quase toda de remadores, não pensava assim. Alguns daqueles rapazes começavam a se misturar aos jogadores rubro-negros para participar dos treinos que se realizavam na campina do Derby. Para não perdê-los, o Náutico, por decisão do presidente Ernesto Pereira Carneiro, terminou aderindo ao futebol. Numa Assembléia Geral realizada em 14 de julho de 1909 houve a reforma dos estatutos e foi criado o Departamento de Esportes Terrestres, cuja direção coube a Camilo Pereira Carneiro, irmão do presidente do clube.
Na sua edição de 12 de maio daquele ano, o Jornal Pequeno já fazia uma pequena referência à adesão do Náutico ao futebol, dizendo: “Consta-nos que os rapazes do Náutico tratam de formar um, eleven para bater-se com os do Sport Club”.
            O mesmo jornal, em 21 de junho, voltava a falar sobre o futebol alvirrubro, agora oficializado, como relata o pesquisador Carlos Celso Cordeiro, na primeira parte do seu Náutico – Retrospecto de Todos os Jogos. Eis a nova notícia:
            “Houve hontem no magnífico ground do Derby o primeiro match-training dos estimados rapazes do Náutico. Às 5 horas da manhã lá estavam já todos os moços que deviam parte no jogo, alegres e promptos para entrar em combate. Foram logo designados os lugares dos jogadores que tomaram lugar no match-training. Pertencem a este team os arrojados foot-ballers: R.Maunsell, Hermann Ledebour, João Drayer e Artur Lundgren. Os ensaios terminaram pouco depois das 8 horas da manhã, deixando a melhor impressão ao sr. R. Mausenll, instructor dos moços. Serviu de referee o sr. Hermann Ledebour. Damos parabéns aos rapazes do Náutico pelo bonito começo no foot-ball”.
            Assim que decidiu acatar o futebol, o presidente Ernesto Pereira Carneiro acertou um amistoso com o Sport. Assim, no dia 24 de julho de 1909 era disputado o primeiro Náutico x Sport, hoje chamado de Clássico dos Clássicos, e que este ano completará cem anos.
            O jogo foi realizado no British Club e atraiu um grande público. Apesar de ser um principiante, o Náutico venceu o duelo com os veteranos rubro-negros pela contagem de 3 x 1, o que causou uma imensa surpresa.
            Começava assim a maior rivalidade do futebol pernambucano.

PRESIDENTES

Aristeu Acyolli Lins – 1915
Alcebíades Braga – 1915
Henrique Jacques – 1915
Melchior do Amaral – 1915/1917
Manoel da Silva Guimarães – 1918/ 1919
João Reinaldo da Costa Lima – 1919/1920
João Duarte Dias – 1920
Loyo Neto – 1920/1921
Artur Campelo – 1922/1924
Cícero Brasileiro de Melo – 1925/1926
Júlio de Melo Filho – 1926/1927
Renato Silveira – 1927/1928/1929/ 1930
Maviael do Prado – 1928/1930/ 1935
Carlos Rios – 1929/1930
Sebastião Maciel – 1936/1937
Edgar Moury Fernandes – 1938
Tavares Buril – 1938/1939/1940/ 1941
Sidrack Correia de Oliveira – 1940
Alfredo Ramos – 1941/1943
Edson Moury Fernandes – 1943/ 1945
Nilo de Brito Bastos – 1946/1947
Osvaldo Salsa – 1947
Leopoldo Casado – 1947/1948
José Rêgo Vieira – 1949/1950
Sigismundo Cabral de Melo – 1951/ 1953
Évio de Abreu e Lima – 1953/1954
Rubem Rodriges Moreira – 1955/ 1982
Dilson Prado Cavalcanti – 1982/ 1985
Carlos Frederico Gomes de Oliveira – 1985/1995
Carlos Alberto Gomes de Oliveira – 1995/ 2011
Evandro de Barros Carvalho – 2011 até a atualidade



           


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