Num trabalho do repórter JORGE ALVES, com dados da Folhapress, o jornal O Estado, de Fortaleza, publica esta reportagem:
Num Palco escolhido pelo Santos para brigar pelo título do
Brasileiro de 2004, o Estádio Benedito Teixeira, o Teixeirão, pela terceira vez
vai a leilão em São José do Rio Preto (SP) devido a dívidas do América,
afundado na quarta divisão do Campeonato Paulista.
Depois de sucessivas e fracassadas tentativas desde 2015, um dos
leiloeiros nomeados pela Justiça anunciou o imóvel na OLX oferecendo-o como uma
“área para empreender com 42.900 m²” por R$ 22,05 milhões.
“Tive mais de mil visitas [no site] em um dia, mas alguns me
ligaram com raiva e vi como incomodei um monte de gente que se passou por
torcedor. Dirigentes reclamaram que minha intenção era aparecer”,
disse o corretor Júlio César Cardoso.
Diante dos fracassos, a Justiça autorizou parcelar a
aquisição em até 30 vezes. A área de quase 43 mil metros quadrados, com as
edificações, pode ser adquirida pelo preço mínimo de R$ 21 milhões. O América
acumula R$ 10 milhões em dívidas trabalhistas com 134 ex-funcionários.
ÁREAS NOBRES
Clubes com mais tradição, Portuguesa, de São Paulo, e Náutico,
de Recife, também vivem o drama de perder a “casa própria” por causa
de dívidas. O mesmo acontece com os paulistas Comercial, de Ribeirão
Preto, e União Barbarense, de Santa Barbara D’ Oeste.
Situados em áreas nobres da cidade, os estádios de futebol – boa
parte edificações antigas do tempo em que a cidade ainda estava em formação – não
despertam interesse de compradores por uma série de impasses. Entre eles, os
riscos de uma eterna briga judicial, leis ou tombamentos que proíbem qualquer
outra função que não seja esportiva e o alto custo para demolição de
edificações.
Embora já estivesse penhorado por mais de R$ 55
milhões em ações trabalhistas, o Canindé, estádio da Portuguesa, foi
a leilão em maio. O motivo é uma dívida de R$ 3,7 milhões com um
empresário que cobra comissão pela venda do atacante Diogo ao Olympiakos, da
Grécia, em 2008.
Avaliado em R$ 163 milhões, o Canindé podia ser arrematado por
R$ 98 milhões, mas não houve nenhum interessado em fazer uma oferta. A área
total da sede é de 42.350 m². Uma parte pertence à Prefeitura de São
Paulo, que autorizou a venda.
CONTESTAÇÃO
O departamento jurídico da Portuguesa contestou a diferença
entre o valor do débito (R$ 3,7 milhões) e o da avaliação. “Mesmo que fosse
leiloado, continuaríamos a discutir a efetiva arrematação”, disse a advogada da
Portuguesa Tatiana Morgado.
Além das contestações feitas pela representante legal do
clube, a torcida agiu para dificultar a venda do Canindé. Em março deste ano,
com abaixo-assinado com 5.000 assinaturas, torcedores foram até o Conselho
Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da
cidade (Conpresp) solicitar que o Canindé se tornasse patrimônio
histórico.
Canindé: torcedores da Portuguesa lutam por ele (Reprodução internet) |
O órgão tem até dois anos para uma definição. Em 2016, o próprio
clube já havia recorrido ao Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio
Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), vinculado ao governo estadual,
que arquivou o pedido.
Movimentos como esses geram incertezas e afastam
interessados. “Os investidores procuram áreas desembaraçadas, pois já vão ser
os responsáveis e o processo pode se arrastar por alguns anos”, disse Morgado.
“Brigaremos para manter o Canindé, ele possui um valor histórico para a cidade
de São Paulo e também para a cultura portuguesa.”
NÁUTICO PROTEGIDO
Em Recife, com o leilão da sede do Náutico – área de 41 mil m²
que inclui quadra, piscina e o estádio dos Aflitos – em andamento, o Conselho
de Desenvolvimento de Recife chancelou, no dia 17 de maio, o espaço como Imóvel
Especial de Preservação (IEP).
“Foi uma das maiores conquistas do clube. São dívidas antigas,
fruto de administrações desastrosas no passado, mas eu não queria ser o
presidente do leilão”, disse Edno Melo, mandatário do Náutico.
Situado em uma das áreas mais nobres da capital pernambucana, o
processo de leilão dos Aflitos para quitar débitos de R$ 6 milhões com Imposto
de Renda continua em andamento na Justiça.
Presidente Edno Melo, por enquanto aliviado com os Aflitos (Reprodução internet) |
O advogado do Comercial, Fernando Augustus Teixeira, diz que o
clube não tem condições de regularizar a situação e acredita que, por conta do
tombamento do estádio, dificilmente aparecerá algum interessado no Palma
Travassos.
O tombamento do estádio tem sido a válvula. No entanto, o dono
do imóvel não pode promover grandes mudanças e deve manter a edificação
semelhante ao projeto original. Para Teixeira, essa regra não oferece nenhum
problema.
“Mesmo que queira modernizar, o Comercial não tem dinheiro,
temos dificuldades até para tocar o futebol”, disse o advogado. “Nossa meta é
conseguir investir nas categorias de base, readequar nosso orçamento para
parcelar as dívidas e colocar as contas em dia.”
Em 2018, o Comercial disputou a última divisão do Campeonato
Paulista. Neste ano, pela Série A-3 do Estadual, o time caiu nas quartas
de final. Segundo Teixeira, a dívida judicializada do clube é de R$ 16
milhões.
UNIÃO
BARBARENSE
Hoje na quarta divisão do estadual, o time do União Barbarense,
campeão da Série C do Brasileiro em 2004 e do Campeonato Paulista do
Interior em 1999, é o mais novo a percorrer a via-crúcis do processo de
penhora.
O estádio Antonio Lins Ribeiro Guimarães vai ser inserido no
próximo leilão eletrônico regional, segundo despacho da juíza da vara do
trabalho de Santa Bárbara d’Oeste, Mari Angela Pelegrini, em fevereiro deste
ano. Ela também pediu que o imóvel de 35 mil m² seja avaliado no processo
que reúne cerca de 80 ações, num total de R$ 10 milhões.
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