Toco, Travo e Canela


Castor na marca do pênalti


O antigo cartola carioca Castor de Andrade, um dos chefes do jogo do bicho, atividade que no Rio de Janeiro, ao contrário de Pernambuco, por exemplo, é tido como ilícito, era um misto de gentleman e truculento. Entre outras coisas, foi considerado mandante da agressão física feita ao então presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Fred Oliveira, na calçada da CBF, em 1987.

Castor mudava de uma para outra situação em questão de segundos. Ao contrário do pai, Eusébio de Andrade, conhecido como Seu Zizinho, que não tinha estudo, o odiado e ao mesmo tempo amado Castor fazia questão de ostentar no dedo o anel de advogado. Cabelo engomado, fundador e patrono da Escola de Samba Mocidade Alegre de Padre Miguel e… revólver na cintura, dava as cartas no Bangu Atlético Clube.



Uma de suas diversões era colocar uma – ou várias cédulas – de 100 cruzeiros em cima do travessão, na época quadrado e não redondo, como hoje, e provocar os jogadores banguenses, entre eles Nívio, um ponta-esquerda de chute certeiro. Quem derrubasse as notas, acertando o travessão, ficava com elas. Diziam até, na base do folclore, que Nívio comprou sua casa com as notas que derrubou.

Castor era um meliante, para usar o jargão policial, já que seu grande negócio, o jogo do bicho era proibido no Rio. Por outro lado, a comunidade amava-o. Foi uma figura tão importante, que chegou a chefiar a delegação da Canarinha numa excursão pela Europa. Mais de uma vez frequentou a cúpula da política nacional.

Tinha um gênio terrível. Num jogo no Maracanã, o Bangu precisava da vitória. Castor no banco de reservas, ao lado do treinador, do médico, do massagista, e vestindo uma camisa de seda branca impecável, acompanhava tudo “ajudando” a orientar os jogadores. Zero a zero, Castor nervoso, e o juiz resolveu apostar na sorte, marcando pênalti contra o Bangu. Foi aí que o mundo do futebol ficou sabendo que o revólver escondido por baixo da camisa de Castor, era cromado, com cabo de madre pérola. E brilhava como uma joia, sob os refletores do Maracanã.

De queimante na mão, Castor invadiu o gramado e chegou na cara do juiz, perguntando “o que você marcou?”.

O juiz titubeava na resposta – e dizem que estava quase apontando falta a favor do Bangu – quando providencialmente chegou a polícia e botou ordem na casa.



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