Toco, Travo e Canela

LENIVALDO ARAGÃO

Um paraíba dando uma de gavião

Campeonato Brasileiro de 2007. Jogo entre Corinthians e Sport, no Pacaembu. O Leão da Ilha derrota o Timão por 2 x 1.O empresário pernambucano George Martins, unindo o útil e o agradável, ao efetuar viagem de negócios à capital paulista, aproveitou para assistir ao jogo e torcer pelo time de seu coração, no caso o Sport..Acompanhado de um primo, morador da Pauliceia Desvairada, torcedor do Corinthians, e integrante da Gaviões da Fiel, a temível torcida organizada corintiana, George mandou-se para o estádio. Aí começa a história.

Em princípio, o desatento ou mesmo desinformado George, foi ao encontro do primo metido numa camisa verde. Amigos do seu cicerone, que formavam um grupo para seguir rumo ao estádio, consideraram o pernambucano um visitante indesejado.
 – Olha, vai com esse 'paraíba' pra longe. O time já não anda bem das pernas e tu trazendo esse teu primo pra 'secar' o Timão?

O pecado do paraíba foi estar usando uma indumentária que lembrava o Palmeiras, um time que a massa corintiana não suporta, nem morta.


(Reprodução internet)


Para os sudestinos, o nordestino já foi pau de arara, cabeça chata e baiano. Vadinho, o grande craque do Central, que depois do alvinegro de Caruaru defendeu Náutico, Santos, São Paulo e Sport, não gostava nem um pouco quando, no treino dos santistas, Pelé lhe passava a bola, gritando:
– Pega aí, baiano.
– Não sou baiano não, sou pernambucano.
– É tudo a mesma coisa – respondeu Pelé.

Coelho, um jornalista nascido na Bahia, da reportagem geral, que trabalhava na capital paulista, me contou que certa vez, fazendo a feira, escolheu um tipo de farinha de mandioca. Foi imediatamente advertido pelo feirante:
– Não leve dessa não, patrão. Tenho uma melhor pro senhor. Isso aí é farinha de baiano.
– Mas eu sou baiano mesmo – respondeu calmamente o freguês, deixando o vendedor meio desapontado.
Hoje, atualizando o antigo tratamento de Pelé a Vadinho, é tudo paraíba.

E foi ao ouvir a advertência do seu colega corintiano, que o primo do rubro-negro George se tocou naquele domingo em que demandava o Pacaembu. Num ambiente de apaixonados e às vezes irracionais corintianos, o parente esverdeado encarnava a torcida do Palmeiras, que a turma do Corinthians quer ver a distância. O jeito foi dar o casaco em que estava envolvido para George poder, disfarçadamente, passar-se por um entusiasmado membro da Gaviões.
Ao chegar ao estádio, o empresário leonino se acomodou entre os corintianos, como se fosse um deles. Torcia apenas de si para si pelo Sport, evitando dar qualquer demonstração de que era um ‘inimigo’ em território alheio.
Vai daí que o Sport fez seu primeiro gol. Vendo a bola no fundo da rede, George não se conteve. Deu um grande pulo, assustando a todos. Quando sentiu a mancada que tinha cometido e ao ver o perigo que estava correndo, inverteu a situação imediatamente:  
 P... que pariu, vai tomar no c... isso não pode acontecer!!!
A cena repetiu-se no segundo gol. Novo pulo, nova ‘esculhambação’ no time corintiano. Protesto de mentira.

Depois do jogo, o primo ‘paulista’ mostrava-se curioso com seus ataques de raiva no momento dos gols do Sport:
– George, o que foi aquilo, você mudou de casaca?
O rubro-negro respondeu:
– Tu achas que eu deixalia de viblá com o gol do glolioso? (não é erro de português, é porque o personagem dessa história, o famoso Bandeirinha, sempre trocou o "r" pelo "l", por sofrer da famosa língua presa).
A presença de espírito do paraíba George fez com que ele evitasse ser triturado pelos apaixonados e às vezes inconsequentes torcedores corintianos por ser um adversário infiltrado e, além de tudo, paraíba.


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