NEREU PINHEIRO



Acesso com o Santa em 1999 foi a maior emoção da sua carreira

(Entrevista concedida a Lenivaldo Aragão para o livro “Santa Cruz de Corpo e Alma”, coordenado pelo dirigente do Tricolor João Caixero de Vasconcelos).

Nereu Pinheiro, pernambucano de Olinda, foi o responsável por um dos acessos mais dramáticos do Santa Cruz à Primeira Divisão nacional. Aconteceu em 1999, com o Tricolor obtendo a vaga na elite para o Brasileiro de 2000. 
– Nós pegamos um time que ia cair para a Terceira Divisão. Mandamos embora 14 medalhões, entre eles Mancuso, Almadoz, Paulinho McLaren, Júnior Maranhão, Nelson, que foi do Vasco e do Botafogo, Rocha, atacante que veio do Flamengo, Adauto, lateral esquerdo, e o goleiro Marcelo (Martelotte, mais tarde treinador do time do Arruda no último acesso à Série A e na conquista do título de campeão pernambucano de 2015) – relembrou Nereu.  

O acesso do Santa em 1999 foi uma glória para Nereu (globoplay)


O elenco foi reforçado com o meia Márcio Allan e o atacante Valdomiro, que tinham deixado o Sport.
– Pedi ao presidente Jonas Alvarenga para trazer os dois, que foram de grande utilidade na campanha da classificação – salientou o técnico.

DOIDICE
O campeonato tinha um formato diferente do atual.  Das 24 equipes em ação, oito classificaram-se para disputar um mata-mata que classificou quatro equipes para um quadrangular em que apenas dois times se classificariam para a Primeira Divisão. Nereu recordou tudo:
– Todo o mundo dizia que eu era doido, perguntando ‘como é que o time está pra cair para a Terceira Divisão e Nereu manda quatorze jogadores embora e traz a prata de casa todinha para se incorporar ao grupo?

Um dos 14 dispensados (arquivocoral.com.br)


O ‘PSICÓLOGO’ NEREU
Dos oito classificados, os favoritos ao acesso eram o São Caetano e o América Mineiro. Depois vinham Goiás, que terminou sendo o campeão, Vila Nova e Bahia. Ninguém acreditava no tricolor pernambucano.
– O Santa Cruz se classificou em último lugar e teve que enfrentar o São Caetano, primeiro colocado. Os dirigentes chegavam pra mim e diziam ‘o que você fez já está bom, tirou o time da Terceira Divisão e estamos entre os oito.’ Eu dizia que só estaria satisfeito se colocasse o Santa Cruz na Primeira Divisão – contou Nereu, que continuou com sua narrativa:
– Nós subimos e fomos considerados a maior zebra do campeonato. O São Caetano foi por nós eliminado dentro de casa. Ganhamos por 1x0.  Com o Santa Cruz classificaram-se Goiás, Vila Nova e Bahia. Peguei num jornal que dizia que o Santa Cruz só tinha 13 por cento de chance. Coloquei recortes em alguns quartos da concentração e disse aos jogadores, ‘o cara escreveu isso aí, mas o jogo é dentro de campo, onze contra onze’. Toda vez que ia dar uma preleção, dizia que estava na frente do maior elenco da Segunda Divisão. Na realidade, era tudo ao contrário, e dentro de campo a gente passando por cima.  Eu tinha sido vice-campeão da primeira Copa do Brasil, com o Sport (1989), mas classificar o Santa para a Primeira Divisão foi o maior feito na minha carreira. Foi uma coisa impressionante porque tudo era adverso, só a torcida acreditava. Ver o povo festejando na nossa chegada foi maravilhoso.

RECADO DE HÉLIO DOS ANJOS
Ainda hoje se comenta o empate por 0x0 no Serra Dourada, com o Goiás, na última rodada da fase final, com o Esmeraldino tornando-se campeão e o Tricolor do Arruda, vice. Assim, ambos asseguraram a ascensão à elite. Estava tudo combinado por que o Vila Nova, arquirrival do Goiás, também estava no páreo?
– Saímos daqui praticamente classificados porque a gente ganhou do Bahia, no Recife.  Mesmo que o Vila Nova ganhasse do Bahia, lá, faria nove pontos, como a gente, com os três resultados dentro de casa, mas nós estávamos na frente no índice técnico e no confronto direto porque tínhamos vencido uma e empatado outra com o Vila Nova. O Goiás, também querendo o título, não se arriscou porque quando quis se arriscar a gente meteu uma bola na trave, depois de um escanteio e ficou naquela coisa, cada um administrando de seu lado.  Quando cheguei em Goiás havia um recado no hotel, de que Hélio dos Anjos (técnico do Goiás) queria jantar comigo. Fomos jantar e ele chega ficou branco quando eu disse ‘vim pra ser campeão, meu time está completo, o seu está com quatro desfalques, o juiz é Edilson (Pereira de Carvalho, mais tarde eliminado pela CBF por envolvimento na chamada máfia do apito), que é contra o presidente da federação de Goiás, e tudo está adverso pra você. Por que eu vou jogar pra empate? Vou jogar pra ganhar’. Na saída ele perguntou ‘é isso mesmo que tu queres?’ Eu disse que era. Mais tarde, Carlos Alberto Oliveira (presidente da FPF), um dos maiores desportistas que conheci, procurou falar comigo, botou novamente Hélio na minha frente, e a gente foi administrar.  Quem tivesse chance venceria a partida. Quando eu soube que o Bahia estava ganhando por 4x2 do Vila Nova resolvi botar o time pra frente. Aí Hélio começou a gesticular para mim, estranhando. O 0x0 terminou beneficiando o time dele, enquanto o Vila Nova foi passado para trás. Não me incomodei muito não porque campeão da Segunda Divisão logo é esquecido.

Hélio dos Anjos estava receoso (Globo Esporte)



OS PASTORES
Outro assunto a despertar polêmica foi a presença de dois pastores acompanhando a equipe do Santa Cruz nas viagens. Haveria mesmo necessidade daquela atitude tomada pelo presidente Jonas Alvarenga?
– Hoje, afirmou Nereu, vejo por outra visão, mas mesmo tendo na época uma visão diferente, pois eu ainda não era evangélico, senti que eles colaboraram, como psicólogos, principalmente comigo.  Às vezes, eu com a cabeça quente para administrar um elenco com salários atrasados, jogadores vindo a mim e eu sem ter como sanar os problemas... Foi nessa hora que eles foram importantes, elevando o nome de Deus, dando tranquilidade à gente e dando força. Achei que foi válido. Mas, o válido mesmo foram os jogadores, que lutaram e correram, com salário atrasado e tudo. 

OS CLUBES DE NEREU

Na sua carreira, Nereu Pinheiro trabalhou nestes clubes, em alguns cinco, quatro vezes: Pernambuco - América, Central, Náutico, Olinda, Santa Cruz, Sport e Vitória; Paraíba -  Auto Esporte, Botafogo, Campinense e Treze; Maranhão - Sampaio Corrêa; Rio Grande do Norte - ABC; Sergipe - Itabaiana e Sergipe.


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