O ponta Carlinhos tirou Meu Velho de letra
Carlinhos era um
ponta-direita de altura mediana, louro, de muita habilidade. Defendeu os dois
grandes rivais Sport e Santa Cruz – no Tricolor do Arruda, seu avô, o médico
Álvaro Ramos Leal, e o tio Nilson Ramos Leal, médico e deputado estadual, deram
as cartas durante muito tempo. Pai do jornalista Carlos Percol, morto no
acidente aéreo que vitimou o ex-governador Eduardo Campos, Carlinhos foi também
do América. Depois de passar por esses três clubes do Recife, jogou em Alagoas,
pelo CRB, onde viu Luciano, mais tarde A Maravilha do Arruda, saído de
Pesqueira, no Agreste de Pernambuco, -PE, começar a despontar no juvenil, antes
de se projetar no Santa Cruz.
Carlinhos foi um exímio driblador (Reprodução internet) |
Em 1956, corria o Torneio Pernambuco-Bahia,
uma cópia do Rio-São Paulo que não prosperou. Lá chamavam Bahia-Pernambuco. Para
os gaiatos era o Torneio PEBA. Pernambuco tinha na competição, América,
Náutico, Santa Cruz e Sport, enquanto a Bahia era representada por Bahia,
Galícia, Ipiranga e Vitória. A primeira e única edição do torneio foi ganha
pelo Santa Cruz, na época dirigido por Waldomiro Silva, que comandava os
juvenis e quebrou o galho no time profissional, que estava sem treinador após a
saída de Oto Vieira.
Numa sexta-feira, o Sport
saiu do Recife para saldar um dos seus compromissos na Boa Terra. No hotel, na
distribuição dos quartos, ficaram juntos o ponta-direita Carlinhos e seu
reserva Meu Velho, que mais tarde brilharia no Vasco da Gama. Depois que a
delegação estava alojada, saiu a informação oficial de que no dia seguinte (o
jogo seria no domingo) haveria licença após o treino, para compras e passeio
pelo centro de Salvador.
Em dado momento, Carlinhos
resolveu dar um balanço nas suas finanças e espalhou sobre uma mesinha o
dinheiro que levara, passando a contar as cédulas. Atraído pela cena, Meu
Velho, que estava batendo biela, resolveu arriscar:
– Carlinhos, eu viajei liso
e estou precisando de dinheiro emprestado. Quando a gente voltar para o Recife
eu lhe pago.
Carlinhos deve ter se
arrependido da hora em que exibiu seu capital. Mas, emérito driblador que era,
com a bola nos pés, tirou logo Meu Velho
da jogada:
– Não dá, Meu Velho. Esse
dinheiro só vale em Pernambuco e era preciso trocá-lo por dinheiro baiano.
Acontece que banco aqui não abre no sábado (naquele tempo as agências bancárias
em todo o território nacional funcionavam aos sábados pela manhã), sendo assim
não tenho condições de trocar.
Sem dúvida, um drible rápido
e sutil em Meu Velho, como Carlinhos costumava fazer com seus marcadores.
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