A picardia do jornalista Aramis Trindade na revista Textos





Está circulando a segunda edição da revista bimestral Textos, que tem como diretores Sérgio Moury Fernandes e Luciano Moura, e como editor, Luiz Otavio de Melo Cavalcanti, e como diretor. A publicação conta com a colaboração de recifenses, natos ou absorvidos, falando de assuntos os mais diversificados, tendo o Recife ou de sua gente, como tema.
Fiz parte de uma dúzia de convidados para atuar no segundo número, que está sendo distribuído gratuitamente. Escrevi sobre uma figura que marcou época no jornalismo esportivo da capital pernambucana por causa da sua criatividade e das pinceladas de deboche que espalhava sobre suas crônicas. Vejam:

“A criação e a irreverência de Aramis

Cronista esportivo e advogado, o criativo Aramis Trindade divertia os leitores do vespertino Diário da Noite, cuja saída para as mãos dos gazeteiros, no meio da tarde, era anunciada por uma estridente sirene. Pertencia à Empresa Jornal do Commercio e tinha uma linguagem aberta, bem ao gosto do povão, ao contrário do outro órgão da empresa, o matutino Jornal do Commercio, de conteúdo mais formal. Aramis escrevia, sob o pseudônimo de Cabo Tino, a coluna “Coisas de Mercenários”, misturando ficção e realidade, como neste parágrafo sobre uma homenagem do Íbis ao inesquecível Rubem Moreira: “À noite, Rubão chegou à sede do clube. À porta, uma pequena banda tocou o imortal hino da Federação Pernambucana de Futebol – Rubem Moreira é Nosso e o Boi Não Lambe.”.

Jornalista Aramis Trindade


Torcedor do Santa Cruz, Aramis fustigava o clube de sua paixão numa época em que havia campanhas para arrecadar tijolos, garrafas e jornais velhos, visando à construção de um estádio. Em depoimento para o livro “Santa Cruz de Corpo e Alma”, ele contou: “O Santa Cruz já era o Clube das Multidões. O nome foi dado pelo deputado Edgar Moury Fernandes. Os filhos do inesquecível presidente, Nena, Nanazinha, Chico, Son, Luca, Bebé e Dega vincularam-se de corpo e alma ao Tricolor do Arruda, que lutava para ter seu estádio. Os grandes clubes não queriam jogar no alçapão do Arruda. O Tricolor era o primo pobre do futebol pernambucano.” O Santa fazia festas em busca de dinheiro, e Aramis debochava, anunciando no DN um Cuscuz ao Luar, um Sarapatel Dançante e um Munguzá Dançante. Isso num tempo em que o aristocrático Náutico promovia bailes de gala que encantavam os cronistas sociais Alex, Altamiro Cunha, Clovis Menezes e miais tarde João Alberto.”

O Santa Cruz contratou o lateral Ananias, assim definido por Aramis: “Baixo, torado no grosso, cujo pescoço parece um rolo de coqueiro, com torcida própria”. Logo apelidou-o de Galã das Gerais. Outras criações suas no Santa Cruz: Repúblicas Independentes do Arruda (estádio tricolor); Juventude Transviada (equipe de aspirantes). Nome de um filme em que o artista James Dean simbolizava a rebeldia inerente à mocidade. O ‘aspira’, formado por jogadores saídos do juvenil não respeitava ninguém, tendo sido campeão invicto; Marcelino – Faustino, 18 anos, supercampeão de 1957 pelo Santa, desmantelava as defesas adversárias. Alusão ao filme Marcelino Pão e Vinho, em que um garoto criado num convento não dava sossego aos frades, revolucionando o claustro; Gato Preto – Mauro, um dos goleiros do Santa Cruz em 1957.

Na época do Náutico hexacampeão, o DN, que se denominava “o mais lido”, mantinha uma chapa pronta, no tempo dos linotipos, com o título Ninguém detém o Náutico. O goleador Bita que tinha um chute mortal, era O Homem do Rifle, título de filme. Já o time alvirrubro recebeu a alcunha de Os Intocáveis, produção cinematográfica sobre a perseguição de um grupo policial ao gângster Al Capone. O Sport foi chamado de Papai da Cidade numa ocasião em que atropelava. O dirigente Leopoldo Casado, de cabelos grisalhos, era a Raposa Prateada. Com a entrada do Central no Campeonato, em 1961, surgiu o País de Caruaru. O epíteto Seleção Cacareco apareceu em 1959, quando Pernambuco representou o Brasil num Campeonato Sul-Americano Extraordinário, no Equador. Cacarecos são coisas velhas, sem serventia. A equipe foi reforçada por quatro jogadores que estavam barrados no Rio e São Paulo. Aramis extrapolou em 1964 ao chamar o time do Ceará de tricampeão de bozó. Sobrou para o Náutico.


Já que estamos em tempo de louvação a Momo, o advogado, fundador e presidente do Bloco Carnavalesco Misto Pára-Quedista Real, advogado Humberto Vieira de Melo, conta como nasceu o próprio.


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