Toco, Travo e Canela


O SONHO DE BARTOLOMEU


O jornalista e advogado Bartolomeu Marinho, nascido em Belo Jardim, com passagem pelos bancos escolares de Caruaru, que atuou na Rádio Clube e no Diario de Pernambuco, hoje vivendo uma merecida aposentadoria, no bairro de Piedade, no Recife, pulou de contente, certo dia, no já longínquo 1955, quando foi anunciado um passeio da família à Capital. Ele conta como foi:

            Só Deus sabe a alegria que tomou conta de mim. A noite do sábado (5 de março) foi de uma tremenda ansiedade para mim. Ao mesmo tempo fiquei ‘ancho’ da vida. Não parava de falar aos amigos: “Amanhã vou ver Ademir jogar”. E passei a noite toda jogando sinuca no salão de Zé Valentim, um dos mais frequentados da época em Belo Jardim. Ganhei e perdi, mas joguei a noite toda. Minha grande intenção era passar o tempo.

Ademir (Reprodução internet)

            A verdade é que eu estava eufórico para ver pela primeira vez o maior centroavante da época, o pernambucano Ademir, o principal artilheiro da Copa do Mundo de 1950, com 9 gols, superando Stabile (1930) e Leônidas (1938). Ademir ainda era um grande jogador. E, afinal de contas, eu era louco para vê-lo jogar.
            Zezito, meu primo, à noite, quando ia dormir, dizia aos pais:
“Bênção papai, mamãe, e Deus proteja Zizinho, Ademir e Jair”, e isso me influenciou de tal modo que, quando soube que a Seleção Carioca viria jogar no Recife, e Ademir estava no time, fiquei sonhando em assistir ao jogo. E tinha mais, o jogo era contra o Náutico, o time que aprendi a simpatizar desde o tricampeonato de 1952.
            Cansado de tanto jogar sinuca, quase não dormi na noite de sábado. O pensamento era um só. a viagem ao Recife para ver Ademir jogar. No domingo de manhã, quando acordei e me levantei da cama, recebi a péssima notícia: o motor da Internacional de seu Júlio quebrou e só poderia ser consertado na segunda-feira. A viagem foi cancelada.
            O pior é que eu, além de não ter visto Ademir jogar, deixei também de assistir à grande vitória do Náutico sobre os cariocas (seleção do Distrito Federal) por 2 x 1, gols de Hamilton e Rubinho para os alvirrubros, e Cido (contra) para a seleção metropolitana do Rio de Janeiro.
            Para meu consolo, guardei nos meus arquivos a ficha técnica do grande jogo:
            NÁUTICO 2 x 1 SELEÇÃO DO DF, Ilha do Retiro, 6/3/1955. Juiz: Alberto da Gama Malcher. Auxiliares: Argemiro Félix de Sena e Anísio Morgado. Renda: Cr$ 480.240,00. Público: não revelado. Náutico: Manoelzinho, Cido (Ivanildo) e Antoninho; Gilberto, Gago e Jaminho (Claudionor); Jorginho, Hamilton, Ivson, Rubinho e Zeca (Wilton). Técnico: Sílvio Pirilo. Seleção Carioca: Hélio, Mirim e Pinheiro (Edson); Osvaldinho, Dequinha e Edson II; Garrincha, Rubens, Ademir (Índio), Didi (Vavá) e Nívio (Pinga). Técnico: Martim Francisco.



Comentários