Num Campeonato Brasileiro houve um jogo do Náutico no
Couto Pereira, em Curitiba. O adversário era o dono da casa, ou seja, o
Coritiba. O Timbu tinha um timaço, onde pontificavam o goleiro Neneca, Beliato,
Sidcley, Djalma Sales, Pedro Omar, Juca Show, Vasconcelos, Jorge Mendonça, Lima etc. Sem
falar no famoso Dedeu, um ponta-direita velocista e goleador. Era autor, de
fato a na verve popular, de frases, as mais estropiadas possíveis.
O Coritiba não ficava atrás do Náutico. Sua equipe era
valiosa. E, empurrado pela torcida, partiu logo para o ataque, cumprindo a
obrigação de todos que jogam em seu campo. O Náutico resistia bravamente,
porém, não evitou que o primeiro tempo terminasse com a vitória parcial do Coxa
Branca por 1 x 0. Os paranaenses tinham uma dupla de ataque poderosa, formada
por Paquito e Tião Abatiá. Era a dupla dupla caipira, que fazia muitos estragos
nas defesas que cruzavam seu caminho. Com o correr dos anos, Paquito chegou a
defender o Santa Cruz.
Na segunda fase, o Náutico entrou apertando, levando o Coritiba a recuar. E
quase até o fim da partida, esta foi tônica, os pernambucanos forçando e os
paranaenses se segurando. Já perto do apito final, Dedeu recebeu uma bola, no
capricho, e fuzilou inapelavelmente, empatando o jogo. O placar de 1 x 1
permaneceu até o juiz dar o encontro por encerrado.
Antes do encerramento, Tião Abatiá achou de soltar uma
gracinha para Neneca, paranaense, que havia começado sua carreira no Londrina,
time que leva o nome da cidade onde o goleiro tinha nascido. O homenzarrão Neneca
não gostou e reagiu. Formou-se um grosso sururu. Neneca, com seu físico
avantajado, batia em qualquer coxa que se aproximasse.
Deu trabalho, mas os ânimos foram acalmados. O Náutico
ficou reduzido a dez homens porque depois das bordoadas que havia distribuído, Neneca
pegou a reta, rumo ao vestiário após ver o árbitro levantar o cartão vermelho à
sua frente. Como já tinha feito as substituições a que tinha direito, o técnico
Orlando Fantoni teve que tirar um atacante para poder acionar Luís Fernando, o
reserva de Neneca.
Terminado o jogo, o clima já era de paz, pois geralmente
briga de futebol começa e termina lá dentro. Um repórter de rádio tratou de
entrevistar Dedeu que, além de ter empatado o jogo, realizara uma grande
exibição. E o ponta-direita baiano, falando no seu linguajar engraçado, dizia
estar feliz pelo empate obtido longe dos Aflitos, ainda mais por ter assinalado
o gol de seu time.
O repórter abordou a brabeza do londrinense Neneca, e
Dedeu nem esperou que o entrevistador terminasse a pergunta. Foi logo
atravessando o samba, em defesa do companheiro:
– Neneca é um cara muito legal. Aquilo que aconteceu com
ele foi casual...
Ou seja, o goleirão saiu distribuindo sopapos a torto e a
direito por mera casualidade.
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