Ilha
do Retiro já sediou um jogo da Copa do Mundo
Na primeira Copa do Mundo realizada no
Brasil, em 1950, conquistada pelo Uruguai ao derrotar os favoritíssimos
brasileiros por 2x1, no Maracanã, o Recife teve o privilégio de ser a única
cidade do Norte e Nordeste a sediar uma partida. Foi no chuvoso domingo 2 de
julho, quando Chile e Estados Unidos enfrentaram-se no Estádio da Ilha do
Retiro, de propriedade do Sport Club do Recife.
O jogo foi assistido pelo governador
Barbosa Lima Sobrinho, mais tarde presidente da Academia Brasileira de Imprensa;
prefeito Moraes Rego; presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Leopoldo
Casado; presidente do Sport, Severino Almeida; e pelo presidente da Fifa, Jules
Rimet.
Estádio da Ilha do Retiro no dia do jogo (Internet) |
A CBD (Confederação Brasileira de
Desportos), antecessora da CBF, fizera várias exigências quando o Sport se
candidatou a receber um jogo da Copa, como a implantação de três novos
vestiários na Ilha, alambrado e outras melhorias, como lance de arquibancada. O
clube, que não dispunha dos valores necessários, empreendeu uma campanha,
pedindo a colaboração da torcida, através da doação de jornais velhos,
garrafas, cimento, tijolo e outros materiais, no que foi atendido, de forma que
quando os representantes da Fifa fizeram a vistoria habitual tudo estava em
ordem.
A ZEBRA DA COPA
Os Estados Unidos haviam protagonizado
a primeira grande zebra da Copa 50 - a segunda seria a da final entre Brasil e
Uruguai - ao derrotar a Inglaterra, em Belo Horizonte, por 1x0, e passaram a
despertar muita curiosidade. As duas equipes ficaram hospedadas no Grande
Hotel, à margem da desembocadura dos rios Capibaribe e Beberibe, onde se situa
hoje o Fórum Thomaz de Aquino Cyrilo Wanderley. Lá hospedavam-se artistas
internacionais que vinham se exibir na capital pernambucana ou que estavam em
trânsito, delegações esportivas etc. Tratava-se do principal hotel da então
terceira cidade do Brasil.
Um jogo que ficou na história (Internet) |
Os representantes da terra de Tio Sam
chegaram ao Recife na madrugada da sexta para o sábado, tendo como maior
atração o haitiano naturalizado norte-americano Joseph Gretjern, autor do gol
histórico que derrotou os ingleses na capital mineira.
Jules Rimet viu o jogo (Internet) |
Debaixo do braço, o herói trazia a bola daquele jogo autografada pelos 22 jogadores –
não havia substituição – que disputaram a partida no Estádio Independência.
Coube ao árbitro pernambucano Batista da Conceição, a missão de servir de
intérprete, nas entrevistas aos jornalistas pernambucanos. Dos 18 jogadores que
vieram ao Recife, 11 eram nascidos nos Estados Unidos, enquanto os outros
tinham naturalização. A procedência deles era: Haiti (2), Bélgica, Polônia,
Escócia e Itália, um cada.
Governador Barbosa Lima (Internet) |
SAUDAÇÃO
EM TRÊS IDIOMAS
Pinto Lopes (Arquivo Jorge JosémSantana) |
Sob
o título “Sensation, Today”, o jornalista e radialista Pinto Lopes, do Jornal do Commercio, publicou um comentário
em português, com mensagens em inglês e espanhol, congratulando-se com os
visitantes, neste teor:
“Hoje às quinze horas, no estádio da
Ilha do Retiro, teremos o sensacionalíssimo e esperado encontro futebolístico
entre as representações chilena e norte-americana. Para os desportistas
pernambucanos, é este o maior acontecimento de todos os tempos, pois se prélios
de maior atração, neste século, se ainda houver aqui, não sobrepujarão ao de
hoje, de vez que se trata de uma partida do quarto campeonato mundial de
‘football’.
Devemos este acontecimento secular
aos esforços do benemérito desportista dr. Leopoldo Casado e ao snr. Severino
Almeida, presidente do Sport Club do Recife.
Realização da mais alta envergadura,
fruto da iniciativa particular, é a praça de desportos da Ilha do Retiro. Nós,
pernambucanos de todo o coração, quando contemplamos aquele majestoso estádio,
não vemos alhambrado, túneis, nem arquibancadas e nem gerais, o que vemos é o
reflexo da audácia de um desportista pernambucano que não apaixona o ‘football’
e que, no entanto deixou o seu nome profundamente ligado àquela obra de arrrojo,
àquela maravilha que mais encanta a cidade encantadora.
Naquela praça de desportos terão que
se digladiar, hoje, os andinos contra os heróis norte-americanos, que
sobrepujaram aos mestres do ‘football’.
Aos ilustres visitantes quero
escrever um bilhetinho, como recordação de um modesto cronista desportivo,
componente da legião dos analfabetos.
TO
YANKEE
Of you lose
the match this afternon – what is not hoped
- all Recife Sportman will have not reason to make critics about jou,
because you have the greatest honor in
this competition. You won the football
teachers.
Your victory over Englishes said tho
the world, that, in football thare’s no little, all them are equals. To you, my
congratulations!
A
LOS CHILENOS
Los insucessos de la representación andina em La presente
competición fueron solamente em el football, pero, asimismo, los chileños non
desprezáron su conducta deportiva, perdendo como se fuessen victoriosos y
finalmente, mantenendo su posición de gentilhomienes.
Los mejores saludos a ustedes, de todos los desportistas de Recife.”
VITÓRIA
MERECIDA DO CHILE
O jogo teve um transcurso regular e
terminou com a vitória do Chile por 5x2, após um empate por 2x2 durante algum
tempo. Os gols foram assinalados por Cremaschi
(2), Robledo, Riera e Prieto, para o Chile, Wallace e J. Souza para os
Estados Unidos.
O árbitro foi o brasileiro de São
Paulo Mário Gardeli, auxiliado por Mário Heyn, do Peru, e Alfredo Alvarez, da
Colômbia. A renda foi recorde em Pernambuco, na época, 290 mil cruzeiros.
Chile: Livingstone; Machuca e Alvarez;
Buesquete, Farias e Rojas; Riera, Cresmaschi, Robledo, Prieto e Ibanez.
Estados
Unidos: Berghi;
Keough e Maca; Mallverny, Colombo e Bahr; Wallace, Parianii, Gretjern, Souza I
e Souza II.
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