O ‘oftalmologista’ do Timbu Coroado

A folia do Timbu Coroado



Folião, nunca abri mão de dar meus pulos por aí afora. Hoje a pisada é outra, mas a gente ainda ensaia. Portanto, saio do mundo da bola para me agarrar minha sombrinha.

            Jaime de Brito Bastos, conhecido no mundo esportivo como Jaime da Galinha, falecido há 14 anos, era uma figura eclética. Foi superintendente da Federação Pernambucana de Futebol na época do célebre Rubem Moreira, jogou basquete, trabalhou burocraticamente ou dentro de campo nos três clubes grandes de Pernambuco, tendo chegado a ser técnico do Santa Cruz e fez uma porção de coisas. Formado em educação física, dedicou-se durante muitos anos ao SESI. Teve uma passagem por Caruaru, trabalhando na Coca Cola, época em que, apoiado pelo presidente Valter Lira comandou a equipe de natação do Comércio Futebol Clube.

            Jaime, alvirrubro de carteirinha, morava junto ao Náutico, quase na esquina da Rua 48 com a Angustura. Figura queridíssima. Todos os anos esperava a passagem, no domingo de carnaval, do bloco Timbu Coroado pela frente de sua casa, para refrescar os foliões com jatos d’água, pois, com o sol a pino, todos já chegam por ali esbaforidos, depois de frevar tanto pelas cercanias alvirrubras.

            Numa dessas ocasiões eu estava no meio da timbuzada. Como sempre, botei no bolso os óculos que uso há décadas. De repente, a passagem pela residência de Jaime, que cumpria seu ritual, direcionando uma grossa mangueira para todos os lados.  Dirigi-me para cumprimentá-lo por se tratar de um amigo de velhos carnavais.

Quando bati no seu ombro, ele se virou subitamente e eu levei um jato no olho direito, justamente o mais afetado pelo astigmatismo que trago do berço. Passei o resto do Carnaval sentindo uma dorzinha incômoda, como se tivesse levado um soco no olho. Mas em se tratando da folia de Momo, deu pra ir levando.

Depois da frevança, já na Quarta-Feira de Cinzas, caminhando pela praia, notei que alguns letreiros que não enxergava direito, a olho nu, tornavam-se mais claros para mim. Fui ao oculista Elmano, que atendia o Sindicato  dos Jornalistas, na Av. Guararapes, Edifício Santo Albino. Ele me examinou cuidadosamente, principalmente depois que lhe narrei o incidente, e chegou à conclusão de que tinha havido uma retração no meu problema ocular, uma visão capenga tinha melhorado um pouco. E passou novos óculos, com menos graus.

Moral da história: sem querer, Jaime da Galinha havia feito em mim uma operação cirúrgica com sua mangueirada em pleno Carnaval.

Em primeiro plano, Jaime e seu companheiro de muitos anos no Sesi Carlos Falcão, de óoculos



Comentários

  1. Jaime será sempre inesquecível para os que tiveram o privilégio de conviver com ele.

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