Lucídio José de Oliveira
O texto, de minha autoria, foi publicado
originariamente em TABLOIDE, um semanário de futebol que circulou no Recife nos
bons tempos dos anos 80. Era editado por Olbiano Silveira e o eterno Lenivaldo
Aragão. Eu colaborava com uma coluna falando de coisas do passado. Vibrante,
páginas com título na primeira página colorido, edição primorosa, TABLOIDE
marcou época e deixou saudade.
(Conheci
Zeca algum tempo depois, quando da segunda edição de Náutico, a bola e as lembranças, em 2008. Um cidadão de bem.
Contador aposentado, oitentão, cuidava da mulher, portadora de doença
incapacitante. Moravam os dois no Derby em apartamento ao lado do quartel .Eestivemos
lá, eu e o amigo Newton Moraes. levando a ele um exemplar de NBL a ser lançado em breve na sede no
clube. Lúcido, de boa memória, conversamos sobre os seus bons tempos de
futebol).
"ZECA PENEIRA”
Zeca não
era um goleiro fora-de-série, desses que são a garantia de que sua meta se
mantenha incólume até o final do jogo. Mas teve seus dias de glória. Em 1945,
ano alvirrubro, foi titular absoluto, único jogador a participar de todos os
jogos da jornada vitoriosa, sem conceder vez a reservas.
Com Zeca, acontecia coisa interessante. Capaz de fechar o gol numa partida, era de deixar passar tudo, uma verdadeira peneira, na outra. Daí, o apelido: Zeca Peneira. A torcida do Náutico vivia com o coração na mão por causa de Zeca. A do Sport, o eterno rival, aproveitava e caía de pau em cima do goleiro alvirrubro. A cada má jornada sua, o que passou a ser frequente depois de 45, vinha o grito da arquibancada, atrás do gol, no estádio dos Aflitos: - “Zeca Peneira, Zeca Peneira!” Isso deixava o goleiro mais inseguro ainda. E a torcida timbu bem mais angustiada.
As voltas que o mundo dá... O futebol, também. Decisão do certame de 1951. O Sport estava sem goleiro. Manuelzinho, que era uma legenda das cores rubro-negras, havia sido escolhido como bode expiatório da catástrofe leonina no famoso 5x1 (o Náutico com apenas dez homens em campo e um goleiro improvisado, virando o placar na célebre goleada), jogo que mudou a história do campeonato.
Depois dessa partida histórica, o Sport entrou em parafuso e estava a pique de perder o título para o Náutico, o que terminou acontecendo, um título que estava ao alcance de suas mãos, aparentemente ganho.
Zeca acabara de fazer uma boa temporada na Bahia, campeão pelo Ipiranga. Estava ali a solução. Foi contratado às pressas. Na melhor-de-três, disputada já no ano seguinte, em janeiro de 52, teve uma atuação correta, fez valer sua experiência. Foi bastante elogiado pela crônica. Mas o Náutico acabou levando a melhor, campeão mais uma vez, 1x0 na partida final e decisiva.
Agora, era a vez da torcida alvirrubra ir à forra. Depois que o Náutico fez 1x0, toda vez que o arqueiro rubro-negro ia até bem perto do alambrado buscar a bola para não perder tempo - na época ainda não existia o gandula -, o torcedor timbu enchia os pulmões:
- Zeca Peneira, Zeca Peneira!
É
verdade, vida de goleiro nunca foi fácil."
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