SATANÁS, CANGAÇO E BAGACEIRA...


 Doro Germano era um jogador muito conhecido no Cariri cearense. Ainda era a fase do futebol jogado apenas por amor. Destacavam-se algumas equipes em Juazeiro do Norte, incrementado centro regional por influência, principalmente, da devoção ao Padim Ciço, que continua atraindo peregrinos de outros lugares, inclusive, dos Estados vizinhos. Os times  mais famosos eram  Guarani, América, Treze e Volante. Não existia o Romeirão, o estádio que anos mais tarde impulsionaria o profissionalismo local.

Nesse contexto enquadrava-se perfeitamente o jovem Teodoro de Jesus Germano, conhecido por Doro Germano. Segundo o professor e historiador da cidade, Raimundo Araújo, no seu “Juazeiro Anedótico”, o rapaz era muito querido e bastante badalado. Defendia, com sucesso, as cores do Volante Atlético Clube.

Manuel Germano, o pai de Doro, sentia-se orgulhoso pelos predicados do filho e por causa de seu prestígio junto aos torcedores e aos cronistas esportivos. Estava sempre com o radinho de pilha colado ao ouvido na hora das resenhas ou dos jogos, embora não manjasse muito do chamado esporte bretão. Os elogios a Doro mexiam com seu sentimento paterno. Aliás, nada lhe interessava, além dos comentários sobre o filho.

Na sua simplicidade de matuto, Seu Mané, como era carinhosamente tratado pela população, certa vez teve um susto, acompanhado de uma tremenda decepção. Ao ouvir a escalação do Volante, antes de um jogo, benzeu-se várias vezes, não sem antes deixar escapar a célebre frase “te esconjuro, peste.”

– Eu não sabia que meu fio tava metido com gente tão desmantelada, de uma só vez – comentou.

O pai de Doro teve motivo para se assustar, a julgar pela relação dos jogadores do Volante: Satanás; Pinga e Vermelho; Doro, Zé Moleque e Cangaço; Pedro Bala, Zé Perigo, Zé Soldado, Geraldo Oião e Bagaceira.  

 

 

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