PELÉ ETERNO

 

Pelé: técnica invejável e elegância dentro de campo (Foto: El Pais)

No fim da gravação do documentário sobre Pelé, os entrevistados foram convidados a conceder depoimento derradeiro sobre o personagem principal. O ex-zagueiro Oberdan resumiu o sentimento numa frase curta: 


– Para mim, Pelé é eterno.

Gravou isso e foi para casa. Durante a exibição de pré-estreia, um dos produtores o procurou a um canto no cinema e agradeceu:

– Obrigado pela ideia do nome do filme.

Assim nasceu o título Pelé Eterno. Oberdan acertou em cheio na definição do seu antigo companheiro porque passara seus primeiros 10 anos de vida profissional em convivência com o Santos de Pelé. Tornara-se o quarto jogador que mais atuara como zagueiro na história do clube – ou seja, dividia tanto a rotina de conquistas do time mais badalado do mundo quanto suas horas mais bizarras.

Por exemplo. Oberdan era um dos 22 mortais em campo quando o Santos enfrentou a seleção olímpica da Colômbia, em Bogotá. O presidente da República, o ministério, o clero, o judiciário em peso tomaram as tribunas. Excedentes de autoridades alojaram-se em cadeiras improvisadas à beira do gramado e formaram um cerco ao campo. Todos queriam ver Pelé. Seria uma noite memorável não fosse a desmesura do árbitro Guillermo “Chato” Velázquez. O juiz anulou um gol em lance legítimo do atacante Lima, que foi protestar. O problema é que Chato, um irritadiço lutador de boxe, não aceitou a queixa do brasileiro e o esmurrou de leve, e o bolo de jogadores se formou. 


Oberdan (Reprodução internet)


Do nada, Chato virou-se para um dos tantos negros com a camiseta branca do Santos e expulsou um. Não se deu conta de que o punido tinha o 10 às costas. Ao ver Pelé sair de campo, a turma comportada e bem asseada da borda do campo perdeu a compostura. Atirou cadeiras e almofadas. A polícia aos magotes tentou cercar o árbitro e controlar o alambrado que a torcida ameaçava colocar abaixo, aos gritos:

– Pelé, Pelé, Pelé...

Quem o juiz queria expulsar era o volante Mengálvio, gaúcho revelado no Aimoré, de São Leopoldo, antes de ir para o Santos:

– Pelé era assim: nos fazia passar pelas situações mais curiosas.

Uma ordem desceu das tribunas, seguiu pelo túnel e chegou ao ouvido de Chato.

– Que saia Velázquez e volte Pelé.

Colocaram um auxiliar para apitar. No vestiário, de banho tomado, Pelé estranhou quando Oberdan entrou esbaforido, correndo:

– Eles estão chamando. Você tem de voltar!

Pelé retornou ao jogo, e Chato foi embora. Mas deu o troco. Fez queixa dos brasileiros e Oberdan e Pepe passaram a madrugada explicando supostas agressões ao juiz.

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