BOLA, TRAVE E CANELA/Lenivaldo Aragão

 


Nesse coco eu não vadeio mais...



Há muito tempo, e bota tempo nisso, o Comércio Futebol Clube, de Caruaru, foi convidado a fazer um amistoso em Sertânia. O alvirrubro era um os grandes da Capital do Agreste. Revezava a cada ano, na conquista do título de campeão da cidade, com Central e Vera Cruz. Predominava o semiprofissionalismo, ou amadorismo marrom. A maioria dos jogadores tinha outra atividade fora de campo.

Sertânia está a 180 quilômetros de Caruaru. A estrada não era asfaltada, tornando a viagem um tanto penosa. Daí a necessidade de seguir na véspera. Foi o que aconteceu com o time do Comércio. Chegando lá, já no início da noite, os jogadores foram divididos em grupos, espalhados por casas de família. Quem formava as turmas eram o presidente Walter Lira e o dublê de diretor de futebol e técnico, Mário Cabral.

Um quarteto composto por Escurinho, o fidalgo, Baby, o terror, Erialdo e Alemão – enricou mais tarde, no ramo de transporte de carga, em Minas Gerais – alojou-se no sótão de uma sorveteria, cujo proprietário desmanchava-se em gentilezas a fim de que nada faltasse aos ocupantes do seu improvisado alojamento.

Como o precário sistema de luz tinha entrado em colapso, pois a energia de Paulo Afonso ainda era um sonho, como cantou Luiz Gonzaga, o sorveteiro providenciou um lampião a querosene para seus hóspedes não ficarem no escuro. Não esqueceu de levar uma quartinha com água.

Só que lá para as tantas, o irrequieto Baby, numa de suas costumeiras extravagâncias, terminou quebrando a lamparina e deixando tudo no breu novamente. No domingo, mal saídos da cama, na residência de um dirigente do América, o adversário do Comércio, os dirigentes Walter e Mário foram procurados pelo dono da sorveteria, que soltava labaredas pelas ventas. Não queria mais hospedar ninguém e exigia uma indenização. É que, danificado por Baby numa brincadeira de mau gosto, o lampião passou a noite derramando gás por uma fresta do sótão, justamente sobre o depósito de sorvete.

Por uma brechinha, o gás esparramou-se sobre o conteúdo do reservatório, inutilizando a mercadoria. Irado, o comerciante ‘botou a faca nos peitos’ dos diretores do Comércio, cobrando o triplo do que o sorvete valia. Que jeito? Tiveram que pagar. E Baby ainda zonava, revivendo o Rei do Baião:

"Nesse coco num vadeio mais, apagaro o candeeiro e derramaro o gás."

 

 

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