BOLA, TRAVE E CANELA-Lenivaldo Aragão

 A DONA DO TIME E O HOMEM DA COBRA

 



Semifinais do Campeonato Pernambucano da Terceira Divisão de 1993. Vão se enfrentar Barcelona do Jordão e Continental da Várzea, no campo do Barcelona.

Da parte do Continental, Djanira, a presidenta e fundadora do clube, nascido em 1953, toma todas as providências para o deslocamento da equipe. Na hora aprazada, a turma sobe para a carroceria de um caminhão, esbanjando entusiasmo. Ao lado dos jogadores vai muita gente agregada. É uma turma de fanáticos que não perde um jogo do Continental. A presidenta segue à parte, de carro particular, ao lado de sua diretoria. Mas sempre acompanhando o caminhão.

Na Estância, um rapaz, conhecido dos jogadores, conduzindo um saco, junta-se a eles. Ao chegar ao campo do Barcelona, o tal torcedor desce, levando sua ‘bagagem’. Imediatamente mostra o conteúdo aos amigos varzeanos. Era nada mais nada menos que Paquita, uma cobra enorme que ele criava, juntamente com Rainha, outro ofídio de sua propriedade e estimação, que tinha ficado em casa. Foi um rebuliço. Todos de assustaram, pulando para trás. Logo a notícia de que havia uma cobra no campo se espalhou. Não se tratava de cobrinha, mas de cobrão. A curiosidade tomou conta de todos no local onde se realizaria a partida. E o medo também, pois ninguém estava a fim de levar uma picada.

Quando a história chegou aos ouvidos da prudente e cuidadosa Djanira, a cartola foi informada de que o homem pretendia entrar em campo, juntamente com o time do Continental, mostrando Paquita, que assim fazia as vezes de mascote. Conhecendo todas as retas e curvas do futebol amador, a presidenta da equipe da Várzea ficou apavorada. O Continental poderia ser punido e até perder os pontos. Logo naquele domingo, quando o jogo seria presenciado por Seu Roma (o recentemente falecido Romildo Sant’Anna), o homem da Federação, que cuidava do campeonato amador? De jeito nenhum, raciocinou Djanira.  Ainda havia o perigo de o animal ser sacrificado pela torcida do Barcelona, caso conseguisse escapar da vigilância de seu dono. Isso ela disse ao proprietário de Paquita. O exótico torcedor explicou porque havia levado a cobra a campo:

– Não foi por nada não, dona Djanira. Eu só queria assustar o pessoal do Barcelona.

Ciosa das suas obrigações, a presidenta do Continental proibiu que ele mostrasse a cobra à multidão.

Frustrado, porém resignado, o torcedor meteu a cobra no saco, mas continuou em campo, com a bichona serpenteando lá dentro e fazendo o tecido do seu abrigo provisório se mover. A essa altura, quem estava amedrontado era o pessoal do Continental, temendo que se houvesse um gol aquele doido jogasse Paquita para cima, na comemoração.

Querendo ou não, Paquita continuou, mesmo ensacada, acompanhando o Continental na sua jornada para chegar à final da Terceira Divisão, como uma espécie de talismã. Dias depois terminaria campeã, junto com o time da Várzea. Mas sem direito de, pelo menos, botar a cabeça de fora.

 

   

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