Reabilitação contra o dono da casa e derrota na despedida
A Seleção Cacareco ficou na história por ter representado o Brasil no exterior (Foto: Arquivo do Blog) |
Com essa modificação,
Gentil adotava o sistema 4-2-4, com o qual o Brasil tinha levantado o Mundial
na Suécia, mas ainda pouco utilizado pelos clubes brasileiros. O meio de campo
passava a ser formado por Zé Maria e Geraldo.
O Equador podia não ter
prestígio no futebol sul-americano, mas merecia respeito porque vinha de um
empate por 1 x 1 com a bicampeã
Argentina. E jogava em casa.
O empate que o Equador
havia conseguido diante dos argentinos entusiasmou a torcida local, que lotou o
estádio para o jogo contra o Brasil. A Cacareco dominou e poderia ter até
aplicado uma goleada. Mas não foi esta a impressão inicial, posto que, de saída
os brasileiros levaram um susto. Aos 12 minutos, o atacante Raffo abriu a
contagem para os donos da casa, deixando o time de Gentil Cardoso um tanto
desarrumado por alguns instantes.
Como era superior, a
Seleção Brasileira aos poucos reorganizou-se. Aos 20 minutos, o centroavante
Paulo empatou o jogo. O Brasil continuou atacando e saiu para o intervalo com o
placar favorável: 2 x 1. O gol de desempate foi assinalado de cabeça por Geraldo,
o jogador mais técnico da equipe brasileira.
Na segunda fase, a
Cacareco permaneceu senhora da situação. A Seleção Equatoriana partiu para
cima, mas encontrou uma barreira intransponível. Quando conseguia chutar, tinha
no goleiro Waldemar seu último e imbatível obstáculo.
O bom goleiro Waldemar |
Foi uma festa. A vitória
reabilitadora apagava a mágoa causada pela derrota diante dos uruguaios, e os
brasileiros recebiam muitos elogios pelo bom futebol apresentado.
A Rádio Bandeirantes, na voz
de Darcy Reis, se encarregava de espalhar aos quatro ventos o sucesso da
Cacareco diante do dono da casa, além das rádios locais, Clube, Jornal do Commercio e Olinda.
Brasil: Waldemar; Zequinha, Edson e Givaldo; Zé Maria e Clóvis; Traçaia
(Tião), Zé de Melo, Paulo, Geraldo (Biu) e Elias (Goiano).
Equador: Bonnari; Arguelo e Gonzabay; Galarza, Gomez e Zaguirre; Balseca, Palacios,
Raffo, Spencer e Canarte.
A arbitragem foi do uruguaio Esteban
Mariño, conhecido dos pernambucanos. Ele havia trabalhado no Brasil, contratado
pela Federação Paulista, tendo sido cedido para apitar os três jogos do
supercampeonato de 1957, disputado já em 1958, e ganho pelo Santa Cruz. Os
resultados foram estes:
Náutico 1x1 Sport
Santa Cruz 3x1 Náutico
Santa Cruz 3x2 Sport.
FRACASSO NA DESPEDIDA
A vitória sobre o Equador deu novo
ânimo à Cacareco, que partia agora para seu jogo mais perigoso. O adversário
seria a Argentina, time no qual brilhava Sanfilipo, a nova sensação do futebol
da terra do tango, e que anos depois defenderia o Bahia.
Como o Brasil não podia ser mais
campeão, admitia-se a possibilidade da obtenção do vice-campeonato, o que já
seria muito bom. Porém, para que isso acontecesse seria necessário derrotar a
Argentina.
Jogadores no ônibus, rumo ao estádio |
Os
brasileiros entraram em
campo pensando em endurecer o jogo, baseados num raciocínio lógico: se o
Equador empatara com a Argentina por 1x1, o Brasil, que vinha de uma vitória de
3x1 sobre os equatorianos, estava capacitado a ombrear-se com seu velho rival.
Porém, a Cacareco esteve longe
de mostrar o futebol apresentado
contra os donos da casa e foi sufocada
pela força avassaladora dos argentinos.
Logo aos 2 minutos, a Argentina abria
o placar: Garcia. A Cacareco parecia
estática, enquanto los hermanos
procuravam tirar proveito da situação. Apesar de o goleiro Waldemar ter feito
notáveis intervenções, os argentinos voltaram a balançar a rede aos 28, com
Sanfilipo: 2x0.
Na segunda fase, Gentil Cardoso,
procurando encontrar o caminho da reação, colocou Goiano, descansado, em lugar
de Elias. De início, deu certo. Aos 18, Geraldo diminuía a diferença no placar:
2x1. A Cacareco passou a fazer pressão
e teve uma magnífica chance desperdiçada por Goiano. Este ficou frente a frente
com o goleiro Negri, entretanto, isolou a bola.
Animado, o selecionado argentino
cresceu, deixando os brasileiros atônitos. E a tônica da
partida passou a
ser esta: a Argentina atacava e o Brasil se defendia.
Sanfilipo fez o terceiro gol argentino
aos 44 e fechou o placar no segundo minuto dos acréscimos: Argentina 4x1
Brasil.
Brasil: Waldemar; Zequinha (Geroldo), Edson, Clóvis e Givaldo; Zé Maria e
Geraldo; Traçaia, Zé de Melo, Paulo (Biu) e Elias (Goiano).
Argentina: Negri; Murva, Arido e Guidi; Marino e Arredondo; Facundo, Sanfilipo,
Garcia, Ruiz e Beleín.
Árbitro, Steban Mariño, do Uruguai.
BOA IMPRESSÃO
Apesar de tudo, a Cacareco
agradou. Para os jornais equatorianos, bem como para os treinadores do Uruguai
(campeão), Argentina (vice) e Equador, o futebol apresentado pelo Brasil
foi de alto nível.
O treinador da Seleção
Equatoriana, Juan Lopez, disse que a equipe brasileira causou-lhe uma boa
impressão:
– Era fácil constatar
que tinha um padrão de jogo definido, jamais agindo desordenadamente.
Aliás, de uma coisa o
vaidoso Gentil Cardoso e orgulhava. As equipes treinadas por ele tinham estilo.
Sabiam o que queriam e estavam longe de jogar de maneira estabanada.
Depois de destacar as
qualidades técnicas de alguns jogadores, principalmente do goleiro Waldemar,
Juan Lopez arrematou:
– Só um país, como o
Brasil, pode se dar ao luxo de formar várias seleções jogando um futebol de
categoria.
Corazzo, o técnico do
Uruguai, o campeão do Sul-Americano Extra, não deixava por menos:
– Jamais pensei que fora
do Eixo Rio-São Paulo pudesse ser formada uma seleção de tanta capacidade
técnica.
RETROSPECTO DO CAMPEONATO
19
Brasil 3x2 Paraguai
Uruguai 4x0 Equador
Argentina 4x2 Paraguai
Equador 1x1 Argentina
Brasil 0x3 Uruguai
Uruguai 5x0 Argentina
Brasil 3x1 Equador
Brasil 1x4 Argentina
Uruguai 1x1 Paraguai
Equador 3x1 Paraguai
Campeão, Uruguai
Vice-campeã, Argentina
3º colocado, Brasil
4º colocado, Equador
5º colocado, Paraguai
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