SELEÇÃO CACARECO (Fim)

 Reabilitação contra o dono da casa e derrota na despedida


A Seleção Cacareco ficou na história por ter representado o Brasil no exterior (Foto: Arquivo do Blog)


 A derrota para o Uruguai causou tristeza, mas não   frustração. A Celeste tinha tradição e impunha   respeito. As atenções Do Brasil logo se voltaram para o terceiro jogo, contra o Equador, o dono da festa. Gentil Cardoso mudou a meia cancha, escalando Zé Maria, um volante técnico, ofensivo, no lugar de Biu, mais capacitado à marcação. E a Cacareco precisava atacar. Zé Maria, aliás, tinha trabalhado com Gentil Cardoso em 1955, quando o Sport sagrou-se campeão pernambucano, no ano de seu cinquentenário. Durante um bom tempo foi o capitão da equipe rubro-negra.

Com essa modificação, Gentil adotava o sistema 4-2-4, com o qual o Brasil tinha levantado o Mundial na Suécia, mas ainda pouco utilizado pelos clubes brasileiros. O meio de campo passava a ser formado por Zé Maria e Geraldo.  

O Equador podia não ter prestígio no futebol sul-americano, mas merecia respeito porque vinha de um empate por 1 x 1 com a bicampeã   Argentina. E jogava em casa.

O empate que o Equador havia conseguido diante dos argentinos entusiasmou a torcida local, que lotou o estádio para o jogo contra o Brasil. A Cacareco dominou e poderia ter até aplicado uma goleada. Mas não foi esta a impressão inicial, posto que, de saída os brasileiros levaram um susto. Aos 12 minutos, o atacante Raffo abriu a contagem para os donos da casa, deixando o time de Gentil Cardoso um tanto desarrumado por alguns instantes.

Como era superior, a Seleção Brasileira aos poucos reorganizou-se. Aos 20 minutos, o centroavante Paulo empatou o jogo. O Brasil continuou atacando e saiu para o intervalo com o placar favorável: 2 x 1. O gol de desempate foi assinalado de cabeça por Geraldo, o jogador mais técnico da equipe brasileira.

Na segunda fase, a Cacareco permaneceu senhora da situação. A Seleção Equatoriana partiu para cima, mas encontrou uma barreira intransponível. Quando conseguia chutar, tinha no goleiro Waldemar seu último e imbatível obstáculo.


O bom goleiro Waldemar 

A partida ia se aproximando do fim, com os equatorianos lutando infrutiferamente, em busca do empate, quando, num contra-ataque, o cearense Zé de Melo assinalou o terceiro gol dos brasileiros. Resultado final, Brasil 3 x 1 Equador.

Foi uma festa. A vitória reabilitadora apagava a mágoa causada pela derrota diante dos uruguaios, e os brasileiros recebiam muitos elogios pelo bom futebol apresentado.

A Rádio Bandeirantes, na voz de Darcy Reis, se encarregava de espalhar aos quatro ventos o sucesso da Cacareco diante do dono da casa, além das rádios locais, Clube, Jornal do Commercio e Olinda.

Brasil: Waldemar; Zequinha, Edson e Givaldo; Zé Maria e Clóvis; Traçaia (Tião), Zé de Melo, Paulo, Geraldo (Biu) e Elias (Goiano).

Equador: Bonnari; Arguelo e Gonzabay; Galarza, Gomez e Zaguirre; Balseca, Palacios, Raffo, Spencer e Canarte.

A arbitragem foi do uruguaio Esteban Mariño, conhecido dos pernambucanos. Ele havia trabalhado no Brasil, contratado pela Federação Paulista, tendo sido cedido para apitar os três jogos do supercampeonato de 1957, disputado já em 1958, e ganho pelo Santa Cruz. Os resultados foram estes:

Náutico 1x1 Sport

Santa Cruz 3x1 Náutico

Santa Cruz 3x2 Sport.

FRACASSO NA DESPEDIDA

A vitória sobre o Equador deu novo ânimo à Cacareco, que partia agora para seu jogo mais perigoso. O adversário seria a Argentina, time no qual brilhava Sanfilipo, a nova sensação do futebol da terra do tango, e que anos depois defenderia o Bahia.

Como o Brasil não podia ser mais campeão, admitia-se a possibilidade da obtenção do vice-campeonato, o que já seria muito bom. Porém, para que isso acontecesse seria necessário derrotar a Argentina.

Jogadores no ônibus, rumo ao estádio


Os   brasileiros   entraram   em   campo pensando em endurecer o jogo, baseados num raciocínio lógico: se o Equador empatara com a Argentina por 1x1, o Brasil, que vinha de uma vitória de 3x1 sobre os equatorianos, estava capacitado a ombrear-se com seu velho rival. Porém, a Cacareco   esteve   longe   de   mostrar o futebol apresentado contra os donos da casa   e foi sufocada pela força avassaladora dos argentinos.

Logo aos 2 minutos, a Argentina abria o placar: Garcia.  A Cacareco parecia estática, enquanto los hermanos procuravam tirar proveito da situação. Apesar de o goleiro Waldemar ter feito notáveis intervenções, os argentinos voltaram a balançar a rede aos 28, com Sanfilipo: 2x0.

Na segunda fase, Gentil Cardoso, procurando encontrar o caminho da reação, colocou Goiano, descansado, em lugar de Elias. De início, deu certo. Aos 18, Geraldo diminuía a diferença no placar: 2x1. A Cacareco passou a   fazer pressão e teve uma magnífica chance desperdiçada por Goiano. Este ficou frente a frente com o goleiro Negri, entretanto, isolou a bola.

Animado, o selecionado argentino cresceu, deixando os brasileiros atônitos. E a tônica   da   partida   passou   a   ser   esta:  a Argentina atacava e o Brasil se defendia. Sanfilipo fez o   terceiro gol argentino aos 44 e fechou o placar no segundo minuto dos acréscimos: Argentina 4x1 Brasil.

Brasil: Waldemar; Zequinha (Geroldo), Edson, Clóvis e Givaldo; Zé Maria e Geraldo; Traçaia, Zé de Melo, Paulo (Biu) e Elias (Goiano).

Argentina: Negri; Murva, Arido e Guidi; Marino e Arredondo; Facundo, Sanfilipo, Garcia, Ruiz e Beleín.

Árbitro, Steban Mariño, do Uruguai. 

BOA IMPRESSÃO

Apesar de tudo, a Cacareco agradou. Para os jornais equatorianos, bem como para os treinadores do Uruguai (campeão), Argentina (vice) e Equador, o futebol apresentado pelo Brasil foi de alto nível.

O treinador da Seleção Equatoriana, Juan Lopez, disse que a equipe brasileira causou-lhe uma boa impressão:

– Era fácil constatar que tinha um padrão de jogo definido, jamais agindo desordenadamente.

Aliás, de uma coisa o vaidoso Gentil Cardoso e orgulhava. As equipes treinadas por ele tinham estilo. Sabiam o que queriam e estavam longe de jogar de maneira estabanada.

Depois de destacar as qualidades técnicas de alguns jogadores, principalmente do goleiro Waldemar, Juan Lopez arrematou:

– Só um país, como o Brasil, pode se dar ao luxo de formar várias seleções jogando um futebol de categoria.

Corazzo, o técnico do Uruguai, o campeão do Sul-Americano Extra, não deixava por menos:

– Jamais pensei que fora do Eixo Rio-São Paulo pudesse ser formada uma seleção de tanta capacidade técnica.  

 

RETROSPECTO DO CAMPEONATO

19

Brasil 3x2 Paraguai

Uruguai 4x0 Equador

Argentina 4x2 Paraguai

Equador 1x1 Argentina

Brasil 0x3 Uruguai

Uruguai 5x0 Argentina

Brasil 3x1 Equador

Brasil 1x4 Argentina

Uruguai 1x1 Paraguai

Equador 3x1 Paraguai

 

Campeão, Uruguai

Vice-campeã, Argentina

3º colocado, Brasil

4º colocado, Equador

5º colocado, Paraguai

 

 

 

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