SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE

 Estádio Otávio Limeira Alves, uma homenagem merecida



LENIVALDO ARAGÃO


Primeiros passos do Ypiranga: Doroteia Balbino (madrinha), Geraldo Bernardino, Mário Limeira Alves, Zé Paulo, Miguel Jerônimo, Pedro Paulo, João Preto, Zé Fuminho (goleiro), Otávio Limeira Alves, Zé Pequeno, George, Macaco, Zé Dantas, Florzinho, Artur Massa Bruta e Inácio Cesário Aragão (Foto: Arwuivo do Blog)



  


O nome foi dado ao antigo campo do Ypiranga de Santa Cruz do Capibaribe, no já longínquo 1955, portanto, há 66 anos. Eu e o primo Fernando Ivo Aragão (Fernando de Ivo Paca), recentemente falecido em Brasília, onde residia há muito tempo, elaboramos um texto para o jornal A Defesa, de Caruaru, a respeito de uma confusão havida num amistoso do Ypiranga contra uma equipe amadora caruaruense. O pau havia quebrado num tumulto iniciado pela turma de fora, e nosso interesse era defender a honra da então pequena vila do município de Taquaritinga do Norte. 

Achamos que seria hora de tratarmos o campo do time da nossa cidade como estádio, a exemplo do que ocorria em outros municípios. Sugeri o nome de Otávio, fundador, ex-jogador do clube, juntamente com o irmão Mário. Fernando aprovou entusiasticamente. Tatá, na intimidade famíliar,, havia obtido junto ao pai, o avançado para os padrões da época, empreendedor Luiz Alves da Silva, responsável entre outros benefícios pela implantação da luz elétrica em Santa Cruz, a doação de um terreno, naquele tempo, bastante afastado da “rua”, para a rapaziada do Ypiranga treinar e jogar. Nossa ideia foi bem aceita, e a denominação é mantida até os dias atuais.

No momento, corre no Recife uma onda de descaracterização de tradicionais nomes de logradouros públicos, como as ruas Nova e Sete de Setembro, só para citar duas conhecidas artérias.

Sei que tal pensamento, em relação ao estádio do Ypiranga, nem de longe passa pelas cogitações de quem quer que seja, na Cidade das Confecções, nascedouro do fenômeno “sulanca”, que se espalhou pelo Estado e pelo País. No caso, tal possibilidade estaria mais difícil de se concretizar por se tratar de uma propriedade privada.

Quando conheci Otávio de perto, ele já estava destinado por uma dessas desagradáveis circunstâncias da vida a viver acamado, face a uma paralisia que o acometera. A medicina ainda caminhava lentamente.

Num dos capítulos do meu primeiro livro, “No Pé da Conversa”, conto um fato passado no ambiente em que ele vivia, o qual aqui sintetizo: em 1950, quando da decisão da Copa do Mundo, no Maracanã, um dos pouquíssimos locais onde se podia ouvir a transmissão do jogo era no aposento especial de Otávio, contíguo à residência da família, através de um potente rádio de quatro válvulas, que funcionava a bateria, com o som indo e voltando. Energia, mesmo assim fraca, só das 18 às 22 horas. E a grande final foi disputada à tarde.

No quartinho de Otávio, como chamávamos, não faltava gente dia e noite, pois ele era muito querido na cidade. Convicto, como de resto toda a população brasileira, de que o Brasil seria campeão do mundo naquele 16 de julho, o entusiasmado desportista mandou armar diante de seu alojamento uma girândola para festejar a inédita conquista pela Seleção Brasileira. O Escrete, como era chamado, contava com um pernambucano, o artilheiro da Copa, Ademir, originário do Sport Club do Recife – o Centro Esportivo do Pina orgulha-se por Ademir, nascido no bairro, ter vestido sua camisa antes de ingressar no Leão, para onde foi levado por seu pai, Antônio Menezes, o popular Muriçoca, que fazia parte do futebol juvenil leonino. 

O resultado todos sabem. O Brasil deixou a Taça Jules Rimet fugir para o Uruguai. Isto posto, como dizia o padre Cursino, meu professor de matemática no Seminário São José, em Pesqueira, surgiu uma discussão sobre o que fazer com os fogos. Levar para onde? Foi quando Raimundinho (Raimundo Balbino) e outros gaiatos da cidade tiveram a ideia de botar a girândola no ar para não ficar com aquilo guardado sem saber quando usar. E haja foguetório, com muita gente saindo à rua para comemorar a vitória que não houve.


Foto: Divulgação


Do quartinho de Otávio saíam todos os domingos, em fila indiana, em abrandada corrida rumo ao campo do Ypiranga, dois times de meninos, o Verde e o Encarnado, que se enfrentavam amistosamente, ambos organizados e sustentados por Otávio. Além disso, nas horas necessárias, tal qual um mecenas, aquele amante do futebol contribuía para não deixar cair a hoje Máquina de Costura, de cuja criação, em 3 de julho de 1938, havia participado.

 

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