Bráulio de Castro partiu, deixando seu legado na história tricolor

 

(Foto: Overmundo)


 Por intermédio de meu irmão, jornalista Paulo Moraes, recebo a triste notícia da morte do nosso  amigo Bráulio de Castro, 78 anos, compositor e cantor, com várias músicas dedicadas ao Santa Cruz, sua paixão. Como um dos cronistas esportivos contratados para a elaboração do livro “Santa Cruz de Corpo e Alma”, coordenado por João Caixero de Vasconcelos, e lançado em 18/05/2016, em três volumes, tive a missão de entrevistar Bráulio. Conversa amena e agradável numa manhã de calmaria no tradicional Pátio de São Pedro, um reduto da musicalidade pernambucana. Presto minha homenagem ao ilustre torcedor do Santinha, publicando o texto que a ele se refere, que tem como título “Bráulio de Castro leva para os discos sua paixão tricolor”. Vejam:

 Quando o Santa Cruz sagrou-se campeão pernambucano de 2011, iniciando a caminhada para a conquista de mais um Tri, o compositor e cantor Bráulio de Castro, nascido em Bom Jardim e residente em Olinda, com passagem de 23 anos pela cena musical de São Paulo, aproveitou o momento de euforia para editar o CD “Santa Cruz Futebol Clube – Campeão Pernambucano de 2011”.

A capa traz o conhecido torcedor Bacalhau e seus dentes nas cores da Cobra Coral, e das 12 músicas constantes no disco, nos gêneros frevo-canção, samba e coco, 10 são de Bráulio, uma de sua mulher, Fátima de Castro, e outra dos Irmãos Valença. Os intérpretes, todos tricolores, são o próprio Bráulio, Fátima, Bubuska, Walmir Chagas (O Veio Mangaba), Ed Carlos e Chico Nunes. Os títulos das composições traduzem a alegria que o povão vivia naquele momento em que o Santa quebrava um hiato e voltava a reinar em Pernambuco, depois de ter sido campeão em 2004. Eis o conteúdo do CD: Sorrindo à Toa, Bandeira do Santa Cruz, Nasci Santa Cruz, História de um Super Campeão, Cobrinha Sapeca, É Lá e Lô, O Veneno da Cobra Coral, Bacalhau de Garanhuns, O Papa Taças, Mestre Tará, A Minha Cobra, Veneza Brasileira, A Cobra Vai Fumar e Papai Tricolor.

Anteriormente, ele tinha exaltado o time de sua paixão, com o CD “O Veneno da Cobra Coral”, patrocinado pelo conselheiro Severino Santiago, aparecendo como compositores, Bráulio de Castro, Irmãos Valença, Paulo Elias, Capiba, Jorge Costa, Ed Carlos, Fernando Neves, Leôncio Rodrigues e Fátima de Castro. Interpretação de Bubuska, Walmir Chagas, Ed Carlos, Bráulio de Castro, Chico Nunes e Fátima de Castro. O texto de apresentação é do consagrado jornalista Paulo Moraes. Bráulio não para quando se trata de glorificar o Santa Cruz. A partir do ano passado tratou de elaborar uma nova produção, agora para comemorar o centenário do Santa.

(Foto: Arquivo do Blog)


 FAMÍLIA TRICOLOR

O compositor, que entre outras facetas comanda o cordão carnavalesco satírico, etílico e libidinoso Bacia d’Água, que sai durante o Carnaval, no bairro do Recife, nasceu em Bom Jardim, no Agreste pernambucano, sob a bênção do avô Ademário, músico; do pai Zé Dácio, e de outros membros da família, todos torcedores do Santa Cruz – para variar, a esposa Fátima e a filha Estela Carielli são tricolores. Em 1949, com sete anos, veio morar com o avô, no Recife, para estudar. Na Rua Ambrósio Machado, na Iputinga, havia alguns bangalôs que abrigavam gente remediada. No outro lado, separados por um pontilhão, pessoas humildes, todas amantes do Mais Querido. Era a turma de Bráulio.   – Morava num dos bangalôs, um funcionário da Great Western (mais tarde Rede Ferroviária do Nordeste) chamado Valdemar Aciolly, torcedor do Sport. Quando eles perdiam para o Santa Cruz, a gente esperava sua chegada do jogo, no pontilhão, soltando fogos. Se o Sport ganhava, ele se vingava, com os filhos, também com foguetório. Tudo isso acontecia numa boa, só por brincadeira, sem a violência que hoje em dia impera entre uma parte dos torcedores – recordou Bráulio

Se já gostava, Bráulio fortaleceu sua imensa afeição pelo Clube das Multidões em 1954 ao assistir a um treino, no antigo Alçapão do Arruda, em que o centromédio Aldemar, vindo do Vasco da Gama, juntamente com o volante Calico, era apresentado à torcida.

–Passaram uma bandeira para pedir a ajuda dos torcedores, eu dei quinhentos réis, digamos, cinquenta centavos de hoje, outros deram um, dois cruzeiros. Ainda me emociono quando recordo aquele episódio. Era gente de pés descalços saída dos morros, daquela periferia, todos contribuindo com o que podiam e demonstrando no rosto sua felicidade em poder ajudar. Sei que o treino com o goleiro Barbosa rendeu muito mais, mas aquele com Aldemar me marcou – lembrou o tricolor bonjardinense.

 

EM SÃO PAULO COM O POVÃO

Em 1968, Bráulio foi passar um ano em São Paulo e ficou mais de duas décadas. Acompanhava o noticiário esportivo de Pernambuco, sintonizando as ondas curtas das rádios Clube e Jornal. Às vezes, amigos do bairro Ipiranga passavam-lhe alguma informação, principalmente quando a Cobrinha fazia uma grande contratação. Ao chegar à capital paulista bandeou-se para os lados do São Paulo, que tem as mesmas cores do Santa Cruz, mas não resistiu ao primeiro clássico contra o Corinthians. Ele conta:

– Quando vi aquela vibração da massa, comparei com a alegria do povão do Santinha e disse ‘é ali o meu lugar’. Passei a torcer pelo Corinthians, mas sem jamais esquecer o meu Santa Cruz.

Pelo seu desembaraço e pelo pendor artístico, logo tornou-se conhecido entre os torcedores corintianos e no seio da crônica esportiva. Em 1970, quando o Santa Cruz debutou no Campeonato Brasileiro, então chamado de Nacional, foi enfrentar o Corinthians. Ao passar pelas cabines de rádio do Pacaembu, o compositor pernambucano foi interpelado pelo narrador Osmar Santos, que conhecia seu amor ao Mais Querido:  

– E hoje?

– Sou a Diana do Pastoril.

Logicamente, ninguém entendeu, e Bráulio colocou o Santa em primeiro lugar, dizendo que torceria pelo mais humilde, no caso, o Santa. Deu empate.

Como qualquer torcedor pernambucana de sua época, não esquece o supercampeonato de 1957, o primeiro conquistado pelo Tricolor, com uma vitória por 3 x 2 sobre o Sport, na Ilha do Retiro, num jogo em que só precisava empatar. Acompanhou o pentacampeonato a distância, mas os nomes de Givanildo, Luciano e Ramon não saem de sua mente. De um passado mais distante recorda-se do ponta-direita Jorge de Castro, do atacante Rudimar e da zaga Palito e Godofredo.

– Um matava, outro enterrava – brinca, exaltando a eficiência da dupla.

Na fase contemporânea admira Caça Rato, pelo seu carisma junto ao povão tricolor, sobre quem fez uma música quando surgiu a brincadeira de sua ida para a Seleção Brasileira.

 

 

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