BOLA, TRAVE E CANELA-Lenivaldo Aragão

 Um bicão na Copa do Mundo

 

 



Na Copa do Mundo da Itália, em 1990, entre vários grupos que se formaram no Recife para atravessar o Atlântico, um era constituído pelo supervisor do Sport, Adelson Wanderley, e pelos, na época, dirigentes do Santa Cruz, Natan Alexandrino, Gildo Vilaça e Jorge Ribeiro, o popular Chacrinha. Podem os torcedores mais radicais estranhar o fato de um profissional de um clube estar unido a “inimigos”, numa viagem de recreio ao exterior. Mas é que a rivalidade naquele tempo existia apenas no momento em que a bola estava rolando. Na hora do pega era cada um pro seu lado, mas fora disso, todo o mundo era amigo. Pelo menos, quase todos.

Pois é, o quarteto cruzou o oceano, passou por Portugal, onde Gildo Vilaça fez questão de mostrar sua terra aos companheiros de viagem – havia 40 anos que vivia no Brasil, mas como bom filho, nunca esqueceu a “santa terrinha”. No país daCopa, a caravana logo entrosou-se com o pessoal da imprensa pernambucana. Gildo Vilaça irmanou-se tanto que acabou dentro. Literalmente. Seus companheiros de viagem ficavam embasbacados quando viam-no em lugares aos quais só os jornalistas tinham acesso. É que ele era um verdadeiro repórter-bicão, desses que estão em toda parte, de carteirinha e tudo.



O caso é que na equipe da Rádio Clube havia um lugar vago, uma vez que todos tinham sido inscritos com muita antecedência. Já doente, o saudoso Jaime Cysneiros não teve condições de viajar. Na hora de o pessoal pegar as credenciais, no Centro de Imprensa, Ralf de Carvalho, o chefe da equipe da antiga PRA 8, sugeriu que Gildo Vilaça se apresentasse como sendo Jaime. Pelo menos assistiria aos jogos numa boa, cercado de todo o conforto possível.

– Uma boa ideia – exultou o dirigente do Santa Cruz.

Cada jornalista dava seu nome e recebia o crachá que o credenciava a circular por lugares vedados a outros pobres mortais. No momento em que perguntaram o nome de Gildo, o português brasileiro prontamente respondeu:

– Jaime Cysneiros.

A jovem italiana, que, com a ajuda de um brasileiro, atendia ao pessoal, meteu o dedo no micro e nada de aparecer o nome do falso Jaime. Gildo ficou meio desconfiado, pensando no que poderia acontecer, se descobrissem que ele estava querendo passar a perna na Copa, ou seja nos organizadores da Copa. A moça confirmou o nome do “radialista”, digitou novamente e nada. E agora? Ficaram uns olhando para os outros com cara de loló, quando o iluminado Adílson Couto passou um bizu:

– Veja aí, Rádio Clube de Pernambuco.

Foi ela tocar, para aparecer na telinha a relação de todos os inscritos da PRA-8, onde constava o nome de Jaime Cysneiros.

– Eu não disse que meu nome estava aí? festejou Gildo Vilaça, provocando a reação da já irada recepcionista, que fez um comentário num italiano bastante compreensível:

– Eu digitava com i e ele não dizia que era y. Esse aí não sabe nem ler o nome dele...

Gildo Vilaça deu o troco, como autêntico bicão:

– Meu nome é com i e eu não tenho culpa se escreveram com y.

E com a maior cara de pau, apanhou sua (?) credencial, passando a desfrutar das delícias da Copa por dentro.

(Coluna modificada, devido a um equívoco inicial, trocando a Copa de 1990 pela de 1982, pelo que pedimos desculpas aos nossos leitores internautas).

 

 

 

 

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