ALÔ, ALÔ, SAUDADE-Paulo Moraes

O Homem do Rifle e Mestre Ziza


 

O fantástico Bita, num dos encontros em campo, com o Rei Pelé (Foto: internet)

Saudade, de Zizinho por ouvir dizer, de Bita que vi desfilar com maestria pelos campos de futebol de nossa terra. Vou falar deles, mas antes quero registrar o passo dado para o Céu, assim imagino, de um camisa 7 do passado. Falo de Joel, um ponta-direita da jornada do penta do Santa - 69/73.
   Abro o zapp do celular e lá estão recados de Fernando Santana e de Ramon, ídolos daquela época do Tricolor sempre campeão, e companheiros de equipe, de Joel Pereira. Informam sobre a morte dele.
Joel tinha 71 anos, era diabético e passava por sessões de hemodiálise. No Santa, Joel dividiu a posição de ponta-direita com Cuíca, outro inesquecível nome do Penta, em 1969 e 1970. Você que tem uns 55 anos, lembra-se deles? Joel jogou depois, por exemplo, pelo Náutico e pelo Marítimo de Portugal. Joel, o Carneirinho, e Fernando Santana eram amigos desde a infância dos tempos do bairro recifense Jardim São Paulo. Conheci o ilustre camarada Joel quando era repórter da Rádio Jornal e do Jornal do Commercio. Não é porque ele nos deixou, mas Joel era gente muito boa.
   Agora, minhas letras recordam um
craque daqueles anos, que deslumbrou o povo da arquibancada ou de ouvido colado nos rádios ABC, Philips e Telefunken, para citar as três marcas que ilustravam com grandes e respeitadas vozes, os bons e adorados duelos da bola.
   No dia 11 de agosto seria o aniversário de Bita, que faria 79 anos, se vivo fosse. A juventude de hoje há de perguntar quem era Bita. Era um meia avançado, quase centroavante. Os mais velhos não precisam ser tão velhos como eu, que tenho 76 anos, lembram-se bem dele e haverão de contar a história de um camisa oito esplêndido de antigamente.
   Bita tinha um chute certeiro. A bola batida por ele, raramente ia fora. Foi o "Homem do Rifle", como o denominou outro grande da época, o saudoso jornalista Aramis Trindade, craque da escrita no maravilhoso e já extinto vespertino Diário da Noite, o filho brincalhão e mais novo da Empresa Jornal do Commercio.
   Bita fazia gols, muitos gols. Fez 223 com a camisa alvirrubra do Náutico em 295 jogos. Foi artilheiro do Campeonato Pernambucano em 1964, com 24 gols; 22 em 1965, e 20 em 1966. Foi goleador da Taça Brasil, a hoje Copa do Brasil. Balançou a rede nove vezes na competição de 1965 e dez em 1966.
Foi um dos mais famosos atacantes do hexa Náutico e do futebol nacional. Num só jogo, numa noite de 1966, no estádio do Pacaembu em São Paulo, fez quatro gols no extraordinário e consagrado Gilmar dos Santos Neves, o goleiro Gilmar, do Santos de Pelé e de tantos, tantos outros, como Zito e Pepe, para citar os dois. 5 a 3 foi o resultado da partida.

Bita, o artilheiro que deixou saudades (Foto: Arquivo do Blog)


Recordo de uma noite, nos Aflitos, quando Sílvio Tasso Lasalvia, o olindense Bita, marcou quatro vezes no meu Santa Cruz. Pobre do zagueiro Adalberto, seu marcador naquele 29 de setembro de 1965. O jogo, pelo campeonato estadual, acabou quatro a zero para o conhecido timbu de Rosa e Silva.
   Bita, Bita, Bita. É bola na rede, como gritava Ivan Lima, o maior nome do rádio esportivo pernambucano nos anos 60 e 70.
   Bita, campeão pernambucano pelo Santa Cruz, em 1972, e ganhador do Troféu Belfort Duarte, concedido no passado ao jogador que passava dez anos sem ser expulso nos campos do futebol brasileiro. Merecia ter ido a uma Copa do Mundo, a de 1966 na Inglaterra, por exemplo. Você talvez queira saber a causa pela qual Bita não jogou fora do Recife. O joelho, gente boa, machucado, não deixou. Chegou a ter o passe comprado pelo Nacional de Montevidéu. Mas, por culpa do maldito e inimigo joelho, foi devolvido.
   Saudade, saudade do 'negão' dos Aflitos.
   Viro a página e vejo no calendário o dia 14 deste mês de setembro. Zizinho, o Mestre Ziza. Faria 100 anos de idade. Foi um dos cracões do futebol brasileiro dos anos 40 e 50. Foi eleito o craque da Copa de 50, de triste memória e realizada no nosso país. Perdemos a final para o Uruguai, todos ou quase todos sabem. O vice foi como o último lugar, eita frustração viveu o povo brasileiro naquela tarde do domingo 16 de julho no ensolarado Maracanã e em todos os recantos desse amado Brasil. Faz muito tempo, ninguém esquece o triste dia da derrota de 50. Ainda bem que eu só tinha quase cinco anos e nem sabia o que era futebol, esse apaixonante esporte da bola.

Zizinho e uma das taças que ajudou o Brasil a ganhar (Foto: terra.com.br)


   Já falei demais daquela derrota por dois a um, quando jogávamos pelo empate para dizer bem antes de 1958, que "a Copa é nossa, com o Brasil não há quem possa". E vamos a Zizinho. Era um meia atacante espetacular, talvez o maior do mundo, antes do Rei Pelé. Falo isso pelo que li sobre a história dele.
  Tomás ou Zizinho. Ou ainda Mestre Ziza, brilhou no Flamengo que tinha a glória de lutar, o Flamengo tricampeão carioca em 1942/43/44; no Bangu. Sim, no Bangu, que foi grande nos tempos dos Andrade. Eusébio, o pai, e Castor, o filho. Foi grandioso no São Paulo, campeão paulista de 1957. Não escutei em Caruaru a irradiação da final. Vi fotos, semanas depois, numa revista da época. Nem lembro qual. No time do São Paulo, dirigido pelo húngaro Bela Guttmann, um técnico famoso naquele tempo, estavam o lateral-direito De Sordi, titular da nossa seleção na Copa de 58 até antes da final com a Suécia, o volante Dino Sani, também do mesmo mundial e que não participou da decisão regional com o Corinthians. Não deve-se esquecer do zagueiro Mauro, o capitão do tricolor do Morumbi, ele reserva na Suécia e titular no Chile no bi de 62. Havia no São Paulo ainda o ponta Canhoteiro, o Garrincha da esquerda. Era muito bom o Canhoteiro, dizem. E dizem ainda, muito bom de farra nas noites paulistanas. Todos comandados pelo gigantesco Zizinho.

O Rei Pelé com seu grande ídolo (Foto: ndmais.com,br)


   Zizinho não foi à Copa de 54, na Suíça, como punição por ter sido taxado de indisciplinado durante o Sul-Americano de um ano antes. Nascido na cidade de São Gonçalo, Estado do Rio de Janeiro, depois de encerrar a carreira, virou fiscal de rendas e chegou a ser colunista do Jornal dos Sports.
   Para encerrar esse pedaço de escrita, transcrevo, gentilmente cedido por ele, uns fantásticos dizeres do médico, jornalista e escritor Roberto Vieira sobre Zizinho. São letras tão bem arrumadas quanto à maestria do homenageado de 100 anos. De 100 anos, se Ziza estivesse entre nós, é claro.
   "Zizinho perdeu pênalti como Zico.
   Zizinho substituiu Leônidas.
   Zizinho foi o ídolo de Pelé.
   Zizinho foi amigo de Puskas no Rio.
   Zizinho iria para a Itália se fosse
   campeão em 50.
   Schiaffino no Bangu.
   Flávio Costa e Bela Guttmann eram
   seus fãs.
   A história do futebol brasileiro sua irmã.
   Após 1958 tudo isso foi traçado pelas ondas suecas.
   Zizinho se tornou um José de Alencar.
   Um Machado de Assis.
   Um Olavo Bilac ou Noel Rosa.
   O futebol brasileiro virou bossa nova.
   Mutante. 
   Didi e Jair riam à beça.
   Gerson também.
   Zizinho, Fried, Domingos, o Diamante e Ademir.
   Melhor que eles?
   Ninguém.
   Mané de vez em quando.
   Romário e Ronaldos na lua cheia.
   Rivaldo na lua nova.
   Os cem anos de Zizinho são cem anos do Brasil rural.
   Tornando- se cinema transcendental.
   Cem anos do gênio de verso e passe fácil.
   Zizinho que foi o primeiro supercraque.
   A sofrer da mortal síndrome dos que não foram campeões mundiais.
   Como se Copa do Mundo não fosse terra repleta de pernas de pau..."
   Era show Zizinho. Foi show Roberto Vieira. E vocês, amigos e amigas, são shows!
  Até a próxima. 

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