BOLA, TRAVE E CANELA-Lenivaldo Aragão

 Garrincha driblou nosso psicólogo e o cérebro eletrônico dos russos

 

O homem das pernas tortas, entortando o russo Igor Netto (Foto:Três Pontos)



Pouca gente sabe que o célebre Garrincha, bicampeão mundial em 1958/62, na Suécia e no Chile, um dos maiores jogadores em todo o planeta, tinha um grau de escolaridade baixo. Era considerado muito “burro”. Tanto que no exame psicológico feito pelo professor João Carvalhaes, em 58, antes de a Seleção Brasileira embarcar para a Europa, de onde traria pela primeira vez a Taça Jules Rimet, o ponta-direita do Botafogo foi reprovado. Na definição de Carvalhaes, tratava-se de um bobalhão que nada somaria naquele grupo de foras de série. Isso, do ponto de vista científico.

Mas Paulo Machado de Carvalho, o chefe da delegação, mais tarde cognominado “O Marechal da Vitória”, levou a coisa por menos. Deve ter procurado convencer o preparador psicológico do   time a dar última forma no seu laudo a respeito de Garrincha. Se convenceu ou não, o certo é que o dono da camisa 7 foi mantido na delegação. QI à parte, o cartola achava que, com seus dribles demolidores, ele seria muito útil à Seleção.  

Fazia 20 anos que João Carvalhaes trabalhava no São Paulo, o mesmo clube onde Paulo Machado dava as cartas, como cartola. O professor era considerado o pai da matéria no País. Além de jogadores de futebol, trabalhava com várias classes de trabalhadores, principalmente motoristas.

O caso de Garrincha teve muita repercussão. No preenchimento da ficha, o jogador colocou no campo “profissão”, a palavra “atreta”. Isso dá uma demonstração de seu nível de escolaridade. Era considerado um eterno desligado, e isso, muito antes de ter sido atropelado por uma lambreta, no Rio de Janeiro. Vivia brincando com um e outro, com coisas tipo “teje preso” “teje solto”.

O ‘aluno’ foi muito mal nos itens do exame em que apareciam figuras pela metade, que deveriam ser completadas, com o examinando dando a definição, depois de cumprida sua tarefa. Sobre um desenho meio amalucado disse que se via ali a cabeça – bastante acentuada – de Quarentinha, seu colega no Botafogo.

Foi definido como possuidor de uma inteligência abaixo da média, com instrução escolar primária e grau de agressividade zero. (Garrincha, como jogador, além de contar com algumas brigas no currículo, tinha o hábito de driblar repetidas vezes o marcador até provocá-lo). No teste psicológico na Seleção recebeu 38 pontos entre 123 possíveis.

Para Carvalhaes, não podia sequer dirigir um ônibus. Por isso, o conceituado psicólogo queria impedir sua participação na Copa.

Todavia, apadrinhado pelo manda chuva, lá se foi o “abestalhado” Garrincha para a Europa, onde entortou os “joões” que apareceram à sua frente. Desmoralizou até computador soviético, na época chamado de cérebro eletrônico, que previu uma vitória da Rússia sobre o Brasil. Deu o contrário, e o lateral Igor Netto levou um verdadeiro baile do homem das pernas tortas.

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