Banda Novo Século, um orgulho para Santa Cruz do Capibaribe

 

 

 Banda Musical Novo Século numa  noite festiva em 2019 (Reproução do Blog do Ney Lima)


Nesta segunda-feira, 4 de outubro, está em festa a Sociedade Musical Novo Século, de Santa Cruz do Capibaribe, a vibrante cidade do Agreste Setentrional de Pernambuco, que deu, nos anos 50 do século passado, os primeiros passos para o surgimento do Polo das Confecções, hoje englobando várias cidades de Pernambuco e de Estados vizinhos.

A Novo Século, fundada em 4/10/1900, quando os anos mil e oitocentos estavam indo embora e o século XX já se preparava para se espraiar pelo Universo, está completando 121 anos de fundação. Durante todo esse tempo, apesar das crises que tem vivido, a exemplo de outras bandas centenárias espalhadas por esse Brasil encantador, mas às vezes devastador, quando se fala de cultura, a Novo Século tem sido amada e sempre ocupando um lugar no coração de cada santa-cruzense, nativo ou adotado.

É verdade que os tempos são outros, mas foram raros os meninos da minha época não acompanharam a nossa querida banda desfilando garbosamente pela Rua Grande, em alvoradas guiadas pelos primeiros raios solares ou dirigindo-se à igreja matriz em algum dia festivo. Depois o programa era acompanhar a retreta em coreto armado em meio à festa popular. E no Carnaval acompanhando o Zé Pereira, que ninguém sabia quem era, ou puxando os foliões do bloco Última Hora.  

Em 1914, a Novo Século já ostentava sua potência. O terceiro, esquerda/direita da fila da frente é José Synésio Aragão, clarinetista, e que mais tarde gerente da Sanbra (Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro), em Caruaru. Identificação de seu neto Flávio Aragão de Mello  (WordPress.com)


Algumas vezes acompanhei a Novo Século em suas viagens em cima de um caminhão para abrilhantar alguma festa do padroeiro em cidades vizinhas, como Brejo da Madre de Deus, Gravatá de Ibiapina, antes Gravatá de Jaburu, ou em Santana do Congo, na Paraíba, atualmente apenas Congo. Tinha a missão de ajudar o maestro Alexandre Silva, egresso de Nazaré da Mata, responsável pelo soerguimento da banda na década de 50, quando atraiu uma gama de adolescentes para os primeiros solfejos, entre os quais meu irmão Lenildo Aragão, um dedicado trompista. E outros, como Walter Aragão, Aluísio Aragão, os irmãos João e Severino (de Saturnino Lopes), Wilson, u aumentado, Zé de Lilia, Luiz do Surdo, Tantão, Josué,  Zé de Areia e por aí vai Sem esquecer alguns veteranos, como Tio Pedro, o famoso Pedro Aragão ou Pedro Belucho, que dava um show no bombardino e seu filho Nanã - o outro filho Aluísio já está citado - Zé de Chico Moura, Delo, Waldemar Silvestre, os manos Júlio e Joãozinho Balbino e, chega....  

Eu disse que ajudava o maestro, mas é bom explicar. Nunca fui músico, embora seja apaixonado pelas bandas. Bem que o comandante queria que eu decolasse em algum instrumento, mas não era minha praia. Nas viagens ou mesmo nas apresentações em Santa Cruz, durante algum tempo cuidava das partituras, distribuindo-as com os músicos, e recolhendo-as após a execução de determinado número musical e já entregando as partes, como chamávamos, da nova composição a ser executada, conforme a determinação do Mestre, que podia ser de um samba, um frevo, um dobrado ou uma peça de harmonia, de preferência, O Guarani, do notável Carlos Gomes.

Convivi com muita gente cuja recordação me emociona. É difícil você citar nomes quando se trata de uma coletividade, diante do risco de cometer alguma injustiça. Muitos já se foram, tendo deixado a lembrança de sua participação na “musga”, como dizia a matutada que chegava da zona rural nos dias festivos. Como esquecer o próprio mestre Alexandre e figuras, como o engraxate Zé Paulo, da Rua do Alto, dando tudo de si para que o som dos pratos tivesse destaque na percussão. Na minha mente passam rapidamente os bombeiros Pedro Jerônimo, Pernambuco e Simão, a dupla Palha e Romeu, os dois ainda bem jovens, ajudando a dar o ritmo através do surdo e do tarol. Palha já se foi, porém Romeu, seu tio, ainda está aí para contar essa história, bem como Zé de Zuza, seu irmão. E que dizer do pai deles, o sr. Zuza Balbino, que cuidava da banda, como se esta lhe pertencesse. Músico até onde a idade permitiu, não admitia qualquer descuido cometido em relação aos instrumentos. Era respeitado e amado por todos. Só ia dormir quando após os ensaios noturnos conferia se as portas da sede estavam fechadas. Pelas fileiras da Novo Século, centenas de santa-cruzenses passaram nestes mais de cem anos. Um deles já com idade avançada e vivendo os anos de merecido descanso é reverenciado pela contribuição que deu à banda durante muitos anos, tocando e divertindo os colegas. Falo de Heleno Jerônimo, o famoso Pratinha, também um vigoroso e eficiente zagueiro do Ypiranga, quando a Máquina de Costura era um time estritamente amador.

Por fim, o meu abraço – ou cotovelada? – à “presidenta” da Novo Século, Socorro Bezerra, neta de Zuza Balbino, portanto, o sangue corre nas veias, e ao atual maestro, Rubinaldo Catanha, cujo trabalho há vários anos, tem engrandecido a Novo Século. Cumprimentos extensivos a todos os componentes da Banda.

 

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