Lenivaldo Aragão
Caixero, Antônio Luiz Neto e Rodolfo Aguiar no centenário tricolor (Arquivo do Blog) |
Estava claro que uma obra
que acabaria se transformando numa verdadeira enciclopédia do Clube das
Multidões não poderia estar desfalcada de um dos maiores jogadores do Santinha
em todos os tempos.
– Domingo, o Santa Cruz
joga. Chame ele pro meu camarote. Lá, vocês conversam à vontade.
Convidei Henágio, que
aceitou prontamente o convite, sob uma condição:
– Eu vou, mas diga a Seu
Joca, que precisa ter uma cervejinha que é para eu ficar mais solto.
O camarote do ex-presidente
do Santa que acaba de nos deixar, geralmente recebia uma superlotação, com
gente sentada e em pé. Lanches de sobra, com sucos, refrigerantes e uma
cervejinha que um ou outro bebia moderadamente. Porém, com Henágio nas
cabeceiras, o açude sangrou. Conhecendo seu gado, João Caixero preveniu-se. Estava
certo. O convidado importante não chegou só, tendo acho que dois amigos,
ex-jogadores, como ele. Gravei a entrevista. Missão cumprida, apenas para mim;
para Caixero, não
Henágio, que havia resolvido
ficar de vez no Recife – terminou morrendo subitamente – passou a ser freguês
dos sanduíches, macaxeira com carne e mais do que isso, do “precioso líquido”.
Outros ex-jogadores corais descobriram o caminho da mina e aumentaram o cordão
puxado pelo sergipano, para a satisfação do “dono da casa” e de seus habituais
frequentadores, como o então presidente do Conselho Deliberativo do Santa Cruz,
o professor Sílvio Ferreira.
O livro contando os caminhos
trilhados pelo Santa durante mais de um século de existência, virou, na reta de
chegada, uma espécie de obsessão para Joca. Um livro à sua maneira, cheio de
personagens, de todas as épocas, como Eden, o homem que vendeu o primeiro “refrigerador”
ao clube, quando o Santinha ainda era sediado na esquina da Av. Beberibe com a Rua
Bolívar e o atual Colosso do Arruda era apenas uma porção de traços sobre uma
folha de papel.
Inúmeras outras figuras aparecem,
nas mais diferentes direções, como os roupeiros Luís e Zezinho, ou torcedores
famosos e hilários – O Homem do Charuto, João do Caixão, Pantera, Bacalhau e muitos
outros, cujos nomes ou apelidos estão registrados – artistas, escritores,
jornalistas, empresários etc. Quem, a não ser João Caixero iria descobrir que
Lampião, o famoso Rei do Cangaço, que mesmo enfurnado nas brenhas Sertão afora,
gostava de ler jornais e se interessava pelas notícias sobre o clube do Arruda?
Com quase 1.500 páginas
distribuídas em três volumes, saiu o livro, um dos dois últimos grandes
serviços prestados por Caixero ao seu clube de coração – o outro foi o CT Ninho
das Cobras, oficialmente denominado Presidente Rodolfo Aguiar, onde posei ao
seu lado pela última vez. Caixero estava se recolhendo, tanto que já havia
vendido o camarote, onde Henágio fez suas últimas farras no Mundão.
Caixero e eu no CT Ninho das Cobras (Foto: Divulgação) |
Conheci João Caixero nos anos 60, quando ele militava na FAPE – Federação Acadêmica Pernambucana de Esportes. Tratávamo-nos cordial e cerimonialmente, e só. Depois de sua entrada no Santa, inicialmente no voleibol, passamos a nos ver mais frequentemente. Com o tempo viramos amigos. Na relação entre dirigente e repórter jamais houve alguma rusga, mesmo quando ele não gostava de uma crítica. Sabia que acima de tudo estava nossa amizade.
A última vez que falei com
ele foi na semana natalina, por telefone. Mostrou-se emocionado e
agradeceu minha ligação. Na
véspera de Ano Novo já foi sua filha que recebeu os meus votos de um feliz
2022, uma vez que pai não pôde falar. Por motivos óbvios.
De agora em diante, os
futuros historiadores terão uma fonte segura para conhecer a saga tricolor.
Graças a Caixeiro e Aristófanes de Andrade. Este deu a partida com seu
companheiro, todavia, logo foi tragado pela “inimiga das gentes”.
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