O LADO ENGRAÇADO DO FUTEBOL

Jaguaré, Valdir e Oswaldo Baliza, histórias de goleiros


Por Celso Unzelti



A primeira é “das antigas”, e envolve o lendário Jaguaré Bezerra de Vasconcelos. Entre os anos 20 e 30, Jaguaré virou lenda, principalmente no Vasco, tanto pelas grandes defesas que fazia quanto pelo estilo irreverente. Chamado de “Dengoso”, gostava de defender a bola com uma mão só, rodá-la na ponta do dedo (como fazem os jogadores de basquete) e jogá-la de volta na cabeça dos atacantes, só para praticar uma nova defesa. Jaguaré foi também o primeiro goleiro brasileiro a usar um par de luvas vermelhas, de borracha, que trouxe da França quando defendeu o Olympique de Marselha.

Jaguaré (museudapelada.com)

Certa vez, jogavam as seleções paulista e carioca, e Jaguaré defendia o gol do time do Rio, quando houve um pênalti a favor de São Paulo. Quem ia cobrar era o zagueiro corintiano Pedro Grané, apelidado de “Canhão 420”, o maior calibre da época, por causa da potência de seu chute.

– Olha aqui, seu mastodonte, eu vou tirar o seu chutinho com um soco – teria desafiado Jaguaré. Grané não disse nada. Ajeitou a bola, deu dois passos para a frente. Jaguaré levantou o braço com o punho cerrado. A bola saiu como um foguete, na direção do braço erguido do goleiro.

Quando acordou, Jaguaré estava dentro do gol, com o punho fraturado. Saiu do campo direto para o hospital, onde, ao ser visitado pelos jogadores dos dois times, desabafou:  

– Como é que deixam um homem desses jogar futebol???

2) Essa segunda história me foi contada pelo maior “fornecedor” dessa coluna, Valdir Appel, ex-goleiro principalmente do Vasco mas também de vários outros clubes de Norte a Sul desse país na década de 70.

E foi em uma de suas andanças pelo Brasil, quando jogava pelo Goiânia, que Valdir conheceu um outro goleiro, chamado Nascimento. Nos treinos, Valdir costumava gritar para os companheiros:  

– Passa pra receber, passa pra receber.

Nascimento, no gol do outro lado, respondia:

– Não adianta, Valdir... Não adianta.

– Mas por que não adianta, Nascimento? – quis saber Valdir.

– Aqui não adianta passar pra receber – retrucou Nascimento.

– Porque aqui ninguém paga...

Valdir (reprodução internet)

3) Durante parte do tempo em que foi ídolo do Botafogo, de 1943 a 1952, o goleiro Oswaldo Baliza teve como reserva Ermelino Matarazzo, ninguém menos que o filho do conde Francisco Matarazzo, o industrial paulista que virou sinônimo de milionário na primeira metade do século XX.

Nos treinos, conta-se quer o jovem Matarazzo, impressionado com as defesas do mestre, não se cansava de dizer:

 – O meu maior sonho era ser você, Baliza!

 – E Oswaldo Baliza, irônico, também não se cansava de responder:

– E o meu era ser filho do seu pai, Ermelino..

 

 

Oswaldo (piniterest)

 

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