BOLA, TRAVE & CANELA-Lenivaldo Aragão

 O atacante Sílvio Gordinho e a seleção de férias

 


                        


Em 1976 organizou-se no Recife um timaço formado por jogadores de férias e outros já em fim de carreira para disputar um amistoso em Vitória de Santo Antão contra um selecionado local. Os convocados foram Bite (Belenenses-Portugal), Mirobaldo (Bordeaux-França), Vasconcelos (Olímpia-Paraguai), Walfrido (Vasco), João Lobo (Criciúma), Denô (Moreirense-Portugal), Birungueta (Remo), Geraldo Lelis (América-PE), Manguito, Dedé e Gojoba (Sport), João Adolfo, Rafael, Toinho e Gena (Náutico). O técnico era o argentino Dante Bianchi.

                        Jogo em 25 de dezembro, dia de Natal, às 16h, seguindo-se uma senhora comemoração. Saída do ônibus com a delegação, da frente da agência central dos Correios, na Av. Guararapes. Muita badalação na imprensa. Na hora aprazada, Ita Francelino, o responsável pelo jogo, notou que ainda faltava gente. Deu um prazo, mas não chegava ninguém. Já nervoso, o empresário olhava o relógio a cada instante. Depois de uma hora de espera fez uma contagem da turma e quase teve um troço. Só havia 10, portanto, faltando um para formar a equipe. “Como é que eu vou conseguir jogadores agora?” – pensou, explodindo de raiva e preocupação. Naquele tempo nem se sonhava com telefone celular “Tenho que devolver a cota do jogo.” “Tenho meu nome a zelar, isso não se faz com o maior inimigo”, queixava-se o frustrado Ita.

                        Pensou-se em ir buscar algum jogador em casa, quando, de repente, apareceu em seu carro, o irmão de Geraldo Lelis, o na época delegado de polícia Sílvio Lelis, que tinha resolvido acompanhar a turma, pois estava sempre disposto a entrar em campo. Naquele dia, o que ele pretendia mesmo era ver a patota ilustre em ação. O espirituoso roupeiro Tavares deu a dica: “Achei a solução”, gritou, dirigindo-se a Bianchi: “Bota o delegado de centroavante!”

                        Como não havia tempo a perder, a sugestão foi aceita de imediato. E Bianchi perguntou a Sílvio Lelis: “O senhor, apesar de gordo, já jogou futebol?” A resposta foi positiva: ”Sim, seu Bianchi, sempre que tenho tempo bato minha bolinha nos campos de pelada.”

                        O delegado foi imediatamente incorporado à comitiva. Bianchi, brincando, passou a chamar o “reforço” do time, de Sílvio Gordinho, lembrando um atacante brasileiro assim conhecido, que jogou na Arábia Saudita.

                        Na terra da Pitu, num estádio lotado, a seleção dos craques em férias foi recebida com foguetório e muita aclamação. Primeiro tempo  equilibrado. As equipes perderam várias chances de gol, mas não balançaram a rede. Na fase final, a seleção deslanchou, apresentando jogadas e dribles desconcertantes, de alto nível. Um “banho de cuia” ou “lençol” de Vasconcelos foi aplaudido pelo estádio inteiro. Mirobaldo e Bite faziam tabelas fantásticas. Mesmo assim, a torcida mostrava-se frustrada.porque queria ver era bola na rede, e isso não estava acontecendo.

                        Aos 45 minutos, o ponta-direita Birungueta tabela com Geraldo Lelis, recebe na frente, passa por três adversários, vai à linha de fundo e cruza, na medida, para o improvisado centroavante Sílvio Gordinho cabecear e decretar a vitória dos visitantes por 1 x 0. Momentos depois, o jogo era encerrado e o herói improvisado viveu uma tarde de glória, tantos eram os torcedores que queriam vê-lo de perto, procurando saber de quem se tratava.

 

 

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