E O ESPANTO DE UM GOLEIRO BRASILEIRO NA EUROPA

 (Do livro “Onde Ele Pisa Nascem Histórias”, do ex-goleiro Valdir Appel)

Foto: omunicipio.com.br-reprodução



Todas as vezes que eu assisto a um jogo disputado em gramados da Europa, meu olhar foca as arquibancadas do estádio.

O Estádio Olímpico de Kiev, na Ucrânia, com seus lugares marcados, dividiu ao meio os fanáticos torcedores das duas equipes sem a necessidade de um pelotão de policiais fardados para impedir que bandeiras e desordeiros se engalfinhassem por qualquer razão.

Ou sem razão.

Nossos estádios, aos poucos, aos poucos viram arenas.

Nos tempos dos dedos de César, as arenas eram construídas para isolar os leões e os gladiadores do público.

A proteção era para o espectador.

Nos campos de futebol do lado de cá do além mar, a proteção se inverte: é para os contendores, juízes e quem mais estiver dentro das quatro linhas do campo e arredores.

Lembro que em 1967 – pegue a calculadora e veja quantos aninhos faz! Contou? Pois é, faz muuuuuuito tempo – o Vasco entrou em campo para disputar a primeira partida de um quadrangular em Cádiz, Espanha – Troféu Ramon Carranza, contra o Real Madrid.

Os times perfilados, de frente para a tribuna de honra do estádio, ouviram os hinos nacionais na cerimônia de praxe que precede todos os jogos internacionais.

Foi então que meus olhos constataram algo inacreditável.

– Brito! Você já viu que o estádio não tem alambrado?

– Já E daí?

– E daí? E se este povo todo resolver invadir o campo? Morre todo mundo.

– Ih, Valdir. Tu tá por fora. Aqui ninguém invade campo de futebol.

No dia seguinte jogamos contra o Penharol. Como sempre em jogos envolvendo sul- americanos, o “pau comeu no final”. E, entre os feridos, não foi registrada a presença de torcedores.

Estes estavam sentadinhos na arquibancada, apupando os incivilizados brasileiros e “hermanos” uruguaios.

De lá para cá, pouca coisa mudou. Aqui nestas plagas, os alambrados continuam necessários.

As arenas, que ainda são em menor número, pelo menos têm um muro alto que desacorçoa  torcedor a pular para o campo.

“Inté” quando?      

     

  

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