ALÔ, ALÔ, SAUDADE – Coluna de Paulo Moraes / republicação

 Adelmo deixou seu nome na história

 

Com a faixa de campeão pelo Santa-Arquivo pessoal

Lá vem um grande jogador e artilheiro do passado. Passos lentos e andar difícil, ajudados por uma bengala. Ele, aos 77 anos, senta-se em uma mesa do bar que frequenta em Olinda, a querida cidade vizinha ao Recife, onde conta coisas e casos da sua vida. É um domingo de verão, de sol forte, mas também de bons ventos que vêm de longe, soprando do alto mar que, com água esverdeada e de belo visual, encantam os banhistas.

Histórias dele que nos emocionam, acredito que vocês vão gostar. 

Com poucos recursos financeiros, vendia pastéis pela orla da querida praia de Casa Caiada, até que um AVC o derrubou e o deixou mal das pernas, mas sem mexer com a sua mente. Seu nome: Adelmo (Reis Guimarães), nascido no Recife. Adelmo  foi mesmo um grande atacante, que fez furor com a camisa do Sport, em 1962. Foi campeão pernambucano naquele ano ao lado de feras como Raul Bentancor e Djalma (o Leão foi bi).

Se destacou muito mais num jogo contra o Santos, recém bicampeão mundial. Era jogo pelas semifinais da Taça Brasil (hoje, Copa do Brasil). Um público calculado em 20 mil pessoas foi à Ilha do Retiro pra ver aquela turma famosa formada por Gilmar, Zito, Rildo, Dorval, Mengálvio, Pepe, Mauro e outros.

Também campeão pelo Sport (Reprodução)

Pra ver e aplaudir Pelé, principalmente. A torcida, claro, queria e muito a vitória rubro-negra. Mas até mesmo os mais otimistas não viam outro resultado que não fosse favorável ao Santos. Acontece que aquela noite de uma quarta-feira não foi do Rei, anulado pelo zagueiro Tomires, que esteve impecável na missão de barrá-lo. Foi de Tomires e foi de Adelmo, que no jogo anterior marcara três gols no Campinense, também pela Taça Brasil (valia ao mesmo tempo pela final da Copa Norte).

Sport e Santos, um a um. Adelmo, marcou. Coutinho, também. Pelé, não. Adelmo se consagrou ao fazer o gol rubro-negro. Nesse dia, foi chamado de Pelé Branco – assim também foi apelidado Almir, o Pernambuquinho, revelado no juvenil do Sport e que se tornou astro no Vasco, no próprio Santos, no Flamengo e na Seleção Brasileira.

Depois, o baile do Leão no Peixe virou crônica no jornal O Globo pelas mãos geniais do jornalista e escritor pernambucano Nelson Rodrigues, que desde menino trocou o Recife pelo Rio de Janeiro. No jogo da volta, no Pacaembu, em São Paulo, foi diferente. Tomires e Adelmo viram o Santos ganhar por quatro a zero, com show de Pelé e quatro gols de Coutinho.

 Antes do Sport, Adelmo, como relata, foi campeão pelo Santa Cruz em 1959. Jogou também no Central, e no Vitória da Bahia. Deixou a bola no CRB, aos 29 anos de idade. Adelmo, começou no futebol em 1955, no juvenil do Náutico, comandado pelo saudoso e competente técnico Alexandre Borges.

Não recebia ajuda de custo e por lá não ficou. Em 1957, foi parar no juvenil do Sport. Conta ele que lhe prometeram um emprego, que não saiu. Daí em diante, o atacante andou por clubes suburbanos, como Cacique, Vovozinhas e Usina Maravilha. Num amistoso do Vovozinhas contra o Sport, Adelmo marcou três gols, num empate por três a três.

Em 1959, pediu ao treinador Gentil Cardoso (técnico vitorioso em Pernambuco ao ser campeão pelos três grandes clubes da Capital) para fazer um teste no Santa Cruz. Estava com 21 anos. Entrou num amistoso com o Campinense, deu o passe pra Humaitá empatar o jogo em um a um. Isso foi num sábado.

Na segunda-feira assinou contrato com salário de nove mil cruzeiros, conforme a moeda da época. Jogou pela primeira vez como titular, contra o Sport. Empate por dois a dois, fez um gol e passou a ganhar 12 mil cruzeiros. No Santa Cruz machucou o joelho. Do Santa, voltou para o time da Usina Maravilha. Jogava e trabalhava.

Defendeu também, outra vez, o Vovozinhas, que depois passou a se chamar Santo Amaro. Em 1962, se mudou para o Sport pra ser campeão da Taça Norte e do Campeonato Pernambucano. Formou um ataque poderoso ao lado de Laxixa ou Lanzoninho, Djalma, Bentancor  e Elcy. Adelmo não sabe quantos gols fez na carreira - no campeonato de 1962, fez oito, segundo os livros que mostram fatos do nosso futebol.

Adelmo fez parte do time do Sport no Torneio de Nova Iorque em 1963. Foi o artilheiro rubro-negro na competição com cinco gols. Mora com a família num recanto do bairro de Rio Doce, em Olinda. Aposentado, vive com um salário mínimo. Adelmo, com certeza, deixou seu nome na história do futebol de  Pernambuco, principalmente na galeria da saudade do Sport Club do Recife.

 

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