Adelmo deixou seu nome na história
Com a faixa de campeão pelo Santa-Arquivo pessoal |
Lá vem um grande jogador e artilheiro
do passado. Passos lentos e andar difícil, ajudados por uma bengala. Ele, aos
77 anos, senta-se em uma mesa do bar que frequenta em Olinda, a
querida cidade vizinha ao Recife, onde conta coisas e casos da sua vida. É um
domingo de verão, de sol forte, mas também de bons ventos que vêm de longe,
soprando do alto mar que, com água esverdeada e de belo visual, encantam
os banhistas.
Histórias dele que nos emocionam,
acredito que vocês vão gostar.
Com poucos recursos financeiros,
vendia pastéis pela orla da querida praia de Casa Caiada, até que um AVC o
derrubou e o deixou mal das pernas, mas sem mexer com a sua mente. Seu
nome: Adelmo (Reis Guimarães), nascido no Recife. Adelmo foi mesmo
um grande atacante, que fez furor com a camisa do Sport, em 1962. Foi campeão
pernambucano naquele ano ao lado de feras como Raul Bentancor e Djalma (o
Leão foi bi).
Se destacou muito mais num jogo
contra o Santos, recém bicampeão mundial. Era jogo pelas semifinais da Taça
Brasil (hoje, Copa do Brasil). Um público calculado em 20 mil pessoas
foi à Ilha do Retiro pra ver aquela turma famosa formada por Gilmar,
Zito, Rildo, Dorval, Mengálvio, Pepe, Mauro e outros.
Também campeão pelo Sport (Reprodução) |
Pra ver e aplaudir Pelé, principalmente. A torcida, claro, queria e muito a vitória rubro-negra. Mas até mesmo os mais otimistas não viam outro resultado que não fosse favorável ao Santos. Acontece que aquela noite de uma quarta-feira não foi do Rei, anulado pelo zagueiro Tomires, que esteve impecável na missão de barrá-lo. Foi de Tomires e foi de Adelmo, que no jogo anterior marcara três gols no Campinense, também pela Taça Brasil (valia ao mesmo tempo pela final da Copa Norte).
Sport e Santos, um a um. Adelmo,
marcou. Coutinho, também. Pelé, não. Adelmo se consagrou ao fazer o gol
rubro-negro. Nesse dia, foi chamado de Pelé Branco – assim também foi apelidado
Almir, o Pernambuquinho, revelado no juvenil do Sport e que se tornou astro no
Vasco, no próprio Santos, no Flamengo e na Seleção Brasileira.
Depois, o baile do Leão no Peixe
virou crônica no jornal O Globo pelas mãos geniais do jornalista e
escritor pernambucano Nelson Rodrigues, que desde menino trocou o Recife pelo
Rio de Janeiro. No jogo da volta, no Pacaembu, em São Paulo, foi diferente.
Tomires e Adelmo viram o Santos ganhar por quatro a zero, com show de Pelé e
quatro gols de Coutinho.
Antes do Sport, Adelmo, como
relata, foi campeão pelo Santa Cruz em 1959. Jogou também no Central, e no
Vitória da Bahia. Deixou a bola no CRB, aos 29 anos de idade. Adelmo,
começou no futebol em 1955, no juvenil do Náutico, comandado pelo saudoso e
competente técnico Alexandre Borges.
Não recebia ajuda de custo e por
lá não ficou. Em 1957, foi parar no juvenil do Sport. Conta ele que lhe
prometeram um emprego, que não saiu. Daí em diante, o atacante andou por clubes
suburbanos, como Cacique, Vovozinhas e Usina Maravilha. Num amistoso do
Vovozinhas contra o Sport, Adelmo marcou três gols, num empate por três a três.
Em 1959, pediu ao treinador
Gentil Cardoso (técnico vitorioso em Pernambuco ao ser campeão pelos três
grandes clubes da Capital) para fazer um teste no Santa Cruz. Estava com 21
anos. Entrou num amistoso com o Campinense, deu o passe pra Humaitá empatar o jogo
em um a um. Isso foi num sábado.
Na segunda-feira assinou
contrato com salário de nove mil cruzeiros, conforme a moeda da
época. Jogou pela primeira vez como titular, contra o Sport. Empate por
dois a dois, fez um gol e passou a ganhar 12 mil cruzeiros. No Santa Cruz
machucou o joelho. Do Santa, voltou para o time da Usina Maravilha. Jogava e
trabalhava.
Defendeu também, outra vez, o
Vovozinhas, que depois passou a se chamar Santo Amaro. Em 1962, se mudou para o
Sport pra ser campeão da Taça Norte e do Campeonato Pernambucano.
Formou um ataque poderoso ao lado de Laxixa ou Lanzoninho, Djalma, Bentancor
e Elcy. Adelmo não sabe quantos gols fez na carreira - no campeonato
de 1962, fez oito, segundo os livros que mostram fatos do nosso futebol.
Adelmo fez parte do time do Sport no
Torneio de Nova Iorque em 1963. Foi o artilheiro rubro-negro na competição com
cinco gols. Mora com a família num recanto do bairro de Rio Doce, em
Olinda. Aposentado, vive com um salário mínimo. Adelmo, com certeza, deixou seu
nome na história do futebol de Pernambuco, principalmente na galeria da
saudade do Sport Club do Recife.
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