Repórter Mala ganha a parada para Ronaldo
Fenômeno
O repórter Luiz Muniz, que marcou época na tevê pernambucana, após deixar a Globo passou a fazer um bocado de coisas, na área que dominava, trabalhando por conta própria. Como sempre tratava os jogadores por Mala, assim ficou conhecido até hoje.
Certa
vez, Mala, levando o cinegrafista Índio a tiracolo, mandou-se para a Europa, a
fim de fazer reportagens com jogadores brasileiros, principalmente
pernambucanos, ou egressos de Pernambuco, que estavam em ação na Península
Ibérica.
Em
Portugal foram focalizados Jardel, Sérgio China, hoje treinador, Marco Aurélio (goleiro), Ragne, Tanta, Arlem,
e Fernando, ex-Vitória e Santa Cruz, hoje ‘dono’ do Vera Cruz de Vitória de
Santo Antão. No fim da entrevista, cada um recebia simbolicamente um
alto-falante de carro, como brinde, logo arrebatado pelo repórter, assim que a
câmara era desligada. A ‘vítima’ não escondia seu espanto, mas terminava
concordando, diante da zona que Mala fazia. Sérgio China chiou, mas
terminou se curvando à malandragem do repórter.
Na
Espanha entraram em cena o pernambucano Rivaldo, que defendia o La Coruña, Roberto
Carlos, do Real Madrid, e Ronaldo Fenômeno, ídolo no Barcelona. Num fim de
semana, o Barça enfrentaria o Compostela, em Santiago de Compostela, para onde
o intrépido repórter e o cinegrafista se mandaram, com a missão de tentar uma
entrevista com Ronaldo, hoje o mandachuva do Cruzeiro-MG. Ousadamente hospedaram-se
no hotel da delegação. Todavia, de Ronaldo, só a distância. Mala sabia das
dificuldades que encontraria, todavia, resolveu arriscar.
Os
dois andares onde estava o time catalão eram indevassáveis. A multidão, lá
embaixo, contentava-se com um simples aceno, dado da janela, pelo
Fenômeno. Com a ajuda do ex-jogador do Íbis e empresário de futebol
Robério Lopes, que tinha bom relacionamento com um dirigente do Barcelona,
Muniz conseguiu uma aproximação com o craque, assim que a equipe chegou ao
estádio, no dia do jogo. Ronaldinho, como nós brasileiros ainda o chamávamos, foi
logo dando o fora.
–
Meu amigo, há uns 50 jornalistas aí fora querendo me entrevistar. Se eu for
atender a cada um individualmente não jogo futebol.
O
repórter nem deu tempo para o atacante respirar:
–
Mas Ronaldinho, eu vim de tão longe, lá do Sertão de Pernambuco pra te
entrevistar... O que é que eu vou dizer quando voltar?
O
jogador teve pena do ‘pobre coitado’e cedeu. Como o artilheiro estava de cabeça
raspada, Muniz foi logo zonando, bem ao seu estilo, levando Ronaldinho e as
poucas pessoas presentes ao riso:
– Mas que careca linda...
Instantaneamente,
colocou um boné da Via Sports, um dos seus patrocinadores, na cabeça do
atacante.
– Mas isso é propaganda – protestou
Ronaldinho.
Mala
contra-atacou:
–
Eu sei, mas tu ganhando dois milhões de dólares por mês, vais fazer questão com
um cara que tá fazendo seu trabalho por uma mixaria?
Ponto
para Mala. Ronaldinho concordou de novo. E Índio não perdeu tempo, filmando a
cena antes que o ídolo do futebol mundial se arrependesse. O jornalista só
levou a pior na hora de pegar o alto-falante de volta.
–
Cara, você não acabou de me dar de presente? – reagiu o atleta.
–
Mas tu já deves ter um montão desses. Pra que vais querer essa porcaria? –
indagou Mala.
Dessa
vez, o mala foi o outro:
–
De graça eu quero tudo.
E
lá se foi Ronaldinho com o brinde na mão
para o vestiário. Pouco tempo depois, marcou seu gol mais célebre no futebol
espanhol. Era o dia 12/10/1996, quando o
time da Catalunha goleou a equipe local por 5 a 1. O lance vez por outra é
lembrado pela mídia espanhola. Ronaldo recebeu a bola no meio do campo, percorreu
48 metros em dez segundos, quando driblou vários adversários, e fuzilou. O então técnico do Barcelona, Bobby Robson, levou as mãos
à cabeça, parecendo não acreditar no que tinha acabado de ver. Além de comparar
o goleador a Pelé, afirmou ser quase impossível fazer um gol daquela maneira.
Além da entrevista e do anúncio para a Via Sports, de graça,
Mala, ainda teve o privilégio de ver, ao vivo e a cores, o tal gol inesquecível.
Beleza de nota.
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