BOLA, TRAVO & CANELA-Lenivaldo Aragão

O encontro inesperado do técnico e seus pupilos em local suspeito

Foto: reprodução


Dezembro de 1970. O Sport saiu do Recife para fazer dois jogos no norte do País, pelo Torneio Norte-Nordeste. Empatou com a Tuna Luso, em Belém, por 0 x 0, e perdeu para o Fast Club, em Manaus, por 3 x 0.  O técnico era Carlos Castilho, ex-goleiro da Seleção Brasileira, tendo participado dos mundiais de 1950, 54 (titular), 58 e 62. Como treinador tinha fama de disciplinador. Castilho, que com a camisa 1 brilhou defendendo o Fluminense, de 1947 a 1964,  e no fundo era um boa-praça.

O time titular do rubro-negro pernambucano tinha Batista (mais tarde treinador de goleiros); Baixa, Bibiu, Moisés e Altair; Jair, Luís Rodrigo e César; Gijo, Duda e Fernando Lima.

Quando a delegação desceu no Aeroporto Val-de-Cans, em Belém, foi só os jogadores aparecerem no saguão para receber panfletos mostrando as maravilhas da noite na capital paraense, como a boate-restaurante Condor, à beira do Rio Guamá. Lá havia muitas delícias, entre as quais um caranguejo saborosíssimo. E logicamente muita mulher. Para quem quisesse sofisticar mais, existia a boate Vanja, no Centro. E tinha muito mais.

Castilho determinou que os atletas jogassem aquela “porcaria fora”, referindo-se aos fôlderes convidativos. Avisou que depois do jantar haveria algumas horas de folga, mas não queria saber que alguém tivesse tomado o caminho da Zona. Para fazer valer sua lei, ameaçou a turma com uma multa de 30 por cento. Com tanto tempo de janela, ele sabia qual era o destino dos jogadores em viagem, quando pegavam uma folguinha.

Algum tempo depois, Jairo Touro, um dos reservas do Leão, que não era flor que se cheirasse, estava no hall do hotel, quando viu Castilho tomar um táxi em companhia de dois radialistas, um deles o saudoso Audir Frazão Doudemant, piauiense que marcou época como narrador em Pernambuco, com um jeitão muito peculiar de narrar jogos, sempre provocando os concorrentes, principalmente Ivan Lima, responsável por sua vinda para o Recife: “Rádio é Olinda, e o resto... é resto”.

Jairo Touro pegou logo no ar qual seria o destino do trio. De imediato resolveu dar uma saída também. Juntou-se com Bibiu,  Altair e outros, tendo a patota tomado o destino que o leitor já deve estar imaginando. Foram bater na “rua das mulheres perdidas”. Não precisaram andar muito para se deparar com o exigente e austero treinador numa mesa com os dois radialistas. As duas partes – o técnico e os boleiros – sequer cumprimentaram-se.

Com essa, Castilho não contava. E ao sentir a presença dos “indesejáveis”, no ambiente proibido, o treinador levantou-se bruscamente, sem dizer uma só palavra, mandou-se para o hotel e deixou os parceiros na saudade. Castilho  foi usar a lei do “faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço” , e terminou quebrando a cara.

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