Deu bode nos Aflitos
A tabela programava um Clássico dos
Clássicos, nos Aflitos. Um trio de dirigentes do Sport, que fazia tudo para
infernizar a vida do pessoal o Náutico, procurou o repórter Amaury Veloso, do Diário de Pernambuco, mais tarde
assessor de imprensa do Leão. Os três queriam que o jornalista os levasse à
presença do pai-de-santo Edu, morto em maio de 2011. Edu vangloriava-se de ter
dado o Hexa ao Timbu, com seus banhos de sal grosso, de galhos arruda, coisa e
tal.
Certo dia, lá se foi Amaury, na época,
setorista do DP junto ao Leão, ao Palácio de Iemanjá, em Olinda, com José da
Silveira Barros, conhecido por Coca, João Brito e Fernando Samico, todos
figuras de proa no departamento de futebol do clube da Ilha do Retiro. Formavam
o trio CBF – Coca, Brito e Fernando.
A missão do Sport naquele jogo era
espinhosa porque o Náutico fazia cinco anos e três meses que não perdia em seu
campo. A última derrota tinha sido em 9 de dezembro de 1963 para o Santa Cruz.
Então, era necessário apelar para os poderes sobrenaturais a fim de derrubá-lo
naquele domingo, 30 de março de 1969. Foi passado o bizu por Edu, mas o pessoal
queria se garantir mais e resolveu, por sugestão de Samico, aprovada pelo
pai-de-santo, botar um bode em cena. Da fazenda de Coca foi enviado um caprino
para o Recife, o qual ficou sob cuidados de Gaguinho, o zeloso gerente da
concentração rubro-negra.
Debaixo de sete capas, eles levaram o
quadrúpede para os Aflitos. Pouco antes de as equipes entrarem em campo, Ilo,
um ex-centroavante do Sport, jogou o bicho, envolto num pano com as cores
alvirrubras, por cima do alambrado para dentro do gramado.
Gritaria de um canto a outro do Estádio Eládio
de Barros Carvalho. O animal ficou espantado e começou a correr sem um rumo
certo. Alguns achavam que se tratava de
mais uma jogada do técnico Duque, acostumado a apelar para os poderes da
macumba, via Pai Edu. Outros, que conheciam de perto o trio CBF, pensavam que
tinha partido dos três a tal presepada. Ou seria mesmo um “serviço” do outro
lado para anular algum “trabalho” feito por Edu?
A verdade é que o bode se mostrava cada vez
mais atarantado. Em vão tentaram pegá-lo. Os fotógrafos perseguiam-no. Até que
ele, em toda velocidade, entrou na barra que fica no lado da Rua da Angustura e
ficou embaralhado na rede. Mais risos dos torcedores. Deu trabalho, mas
conseguiram tirá-lo dali.
O
epílogo dessa história é que a invencibilidade do Náutico em seu campo foi
quebrada com um gol contra – o jogo terminou em 1 x 0 - marcado naquela mesma
barra por Newton dos Santos, um quarto-zagueiro que tinha sido do Sport e
estava estreando pelo Timbu.
Só podia ter sido coisa feita,
imaginavam alvirrubros e rubro-negros.
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