BOLA, FREVO, PASSO E SOMBRINHA (8ª e última)

Um apelo ao Rei do Futebol em forma de frevo


Foto: Revista Veja-Reprodução


Lenivaldo Aragão

 



Na simbiose frevo e futebol, uma das particularidades do repertório musical-carnavalesco de Pernambuco, quem também aparece é Pelé. Qual a ligação que o maior jogador do mundo, falecido em 29-12~2022, com 82 anos, poderia ter com o nosso carnaval?  .
É que ele é tema de um frevo-canção. Quando a Seleção Brasileira, depois de ter levantado seu terceiro título mundial, no México, em 1970, se preparava para  a Copa de 1974, na Alemanha, houve uma verdadeira comoção nacional pela permanência do Rei, que tinha anunciado seu propósito de deixar a Canarinha, o que terminou acontecendo.
O fato não passou despercebido pelo compositor e folclorista Sebastião Lopes, autor de muitas músicas feitas especialmente para o Carnaval. Na área esportiva foi parceiro de Nelson Ferreira, em 1936, no frevo-canção PELO SPORT TUDO, popularmente conhecido por MORENINHA e dedicado ao Sport.

O Bom Sebastião, como foi chamado por Getúlio Cavalcanti num frevo-de- bloco a ele dedicado, integrou-se ao movimento. Com o frevo-canção VOLTA, PELÉ, o prestigiado artista pernambucano fez um dramático e infrutífero pedido para que o “gênio da bola” disputasse mais um Mundial. Eis a letra:

Milhões de brasileiros
Estão em aflição
Com a saída de Pelé
De nossa seleção
O rei tricampeão
Promete que vai voltar
Volta, Pelé, volta, Pelé
Na sua Canarinha
Acabou-se aquele olé
Volta, Pelé, volta, Pelé
II
Oitenta milhões em ação
Esperando o show de pé
Mostre que é tricampeão
Mostre que tem coração

Tá todo mundo sofrendo
Com essa nossa seleção
Obrigado, Pelé
Pelo tri mundial
Pra bem da Canarinha
Seleção nacional
.
O maior craque de todos os tempos foi ainda citado por Mário Filho, radialista e pesquisador musical. (Não confundir com MÁRIO Rodrigues FILHO, irmão do célebre Nelson Rodrigues, que dá nome ao Maracanã.) No frevo-canção QUEM ME QUER, Mário fala em esperar o seu amor no “Quem me Quer”, um trecho entre as pontes Duarte Coelho e Boa Vista, à margem direita do Rio Capibaribe, no centro do Recife, em tempos idos, local de paquera. A denominação valia para o mesmo percurso, porém na outra matgem, começando à frente do Cine São Luiz.  Diz a música na sua primeira estrofe, mostrando ou insinuando o poder de fogo do compositor perante a mulherada:
Vou esperar o meu amor
No Quem me Quer
No Quem me Quer
Eu sou o rei Pelé.

ARROZ, TINGUINHO E TRUBANO

Nessa união do frevo com o futebol merece destaque o GRANDE FLA-FLU. O caruaruense Carlos Fernando, autor de vários sucessos nacionais, como “Banho de Cheiro”, reproduz no cantar da dupla Lenini e Lula Queiroga, no quarto disco  da Série Asas da América, lançado em 1983, a transmissão de trecho de um hipotético jogo entre as seleções de Caruaru e Pesqueira, cidades do Agreste pernambucano.

Carlos Fernando: futebol do interior pernambucano no Asas da América (Reprodução)

A música menciona  nomes engraçados de jogadores de Caruaru, num passado já bem distante. Eles realmente existiram, mas nem todos jogaram ao mesmo tempo e num mesmo time.

O comerciante e desportista José Teixeira, um ex-presidente do Central, avô da governadora Raquel Lyra, teve o cuidado de fazer a junção e formou uma seleção caruaruense que, na prática, não existiu. Com os nomes à sua disposição, Carlos Fernando, criou a letra.

Domingo de futebol no interior


De muito sol, muito gol


A seleção de Pesqueira


Caruaru enfrentou


Uma zabumba animava um frevo


Na locução Cordovil *


E alegria na cara da massa.


Quando no campo aplaudiu


Arroz


Tinguinho


E Trubano


Doutor


Do-Chefe


Zubai


Inhãe


Prãe


Nhô


Leré


Buiu


E não fugindo à regra


De todo Fla-Flu


O jogo terminou


Num grande sururu


Sururu, sururu, sururu.

·       

*   * * Cordovil Dantas, narrador e comentarista da Rádio Difusora de Caruaru, hoje Rádio Jornal.

 

 



 

 


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