HISTÓRIAS DO LENDÁRIO PALMEIRA (3)

Troca de sopapos com Djalma Bocão valeu o  bilhete azul

 



Lenivaldo Aragão


Náutico em 1953- em pé, Djalma, Ivanildo, Ivson, Rubinho e Zeca; agachados, Elói, Caiçara, Vicente, Lula, Jaminho e Gilberto. (Reprodução do livro Náutico, Retrospecto de Todos os Jogos) 


 Tricampeão pernambucano pelo Náutico em 1950 /1951/ 1952, este último título conquistado invictamente, no ano de 1953, Palmeira se resumiu em assistir à festa do Sport. Porém, em 1954 botou sua equipe novamente nos trilhos, ao mesmo tempo em que caminhava para sua quarta conquista nos Aflitos. Apesar de algumas rusgas, José Mariano Carneiro Pessoa dominava o elenco, que não era formado somente por ‘anjinhos’. Havia uma turma chegada a uma brincadeira movida a “água que passarinho não bebe”. A vantagem é que o time era formado, na sua maioria, por craques, o que dentro de campo fazia com que diante da técnica, a boemia parecesse apenas um detalhe em suas vidas..

 Para que os mais antigos possam recordar, aqui está o grupo do Timbu em 1954, conforme a divisão do elenco, na época: goleiros-Manuelzinho e Peter; zagueiros-Caiçara, Cuíca, Lula, Genaro e Kleber; médios-Gilberto, Gago e Jaminho; atacantes-Ivanildo, Wilton, Hamilton, Ivson, Djalma (conhecido como Djalma Bocão), Rubinho, Marcos, Jorginho e Zeca.

 

BAIXINHO DE FUTURO

Palmeira gozava de uma grande estima entre os dirigentes e torcedores. Na concentração criava galinhas para vender e recolhia cajus de um pequeno sítio, também com objetivo comercial.

  O futebol não exigia tanto dos jogadores, que treinavam só uma vez por dia. Geralmente, pela manhã havia o que se denominava individual, no qual os atletas eram preparados fisicamente pelo próprio Palmeira e pelo assistente técnico, com direito a chutes a gol, cobranças de escanteios etc. Os goleiros eram os últimos a sair de campo. No dia seguinte, à tarde, realizava-se o coletivo, normalmente colocando os titulares contra os reservas, que eram chamados de aspirantes.

Foi nesse tipo de treino que na segunda estada de Palmeira no Alvirrubro – 1958 /1959 – começou a aparecer o bom futebol de um meia armador, ou meia de ligação, egresso do time juvenil. Tinha sido descoberto nas peladas das praias de Olinda por Paulo Galego, um auxiliar e olheiro de Alexandre Borges, o técnico das equipes básicas.

Era Nado,  habilidoso e driblador, logo transformado em ponta-direita. Brilhava nas partidas preliminares, pelo Campeonato de Aspirantes, fazendo a torcida delirar com suas arrancadas e facilidade com que deixava os marcadores no meio da rua.

Os irmãos Nado e Bita  (Reprodução)


 O Baixinho ou Pequeno Polegar, como não poderia deixar de ser, ascendeu rapidamente ao time principal do Náutico. Mais tarde brilhou no Vasco da Gama e na Seleção Brasileira, vestindo a camisa amarelinha em torneios oficiais ou jogos amistosos. Isso após ter sido  um dos 47 jogadores que participaram da preparação da equipe nacional para o Mundial de 1966, na Inglaterra. Convocado quando ainda era oficialmente defensor do Alvirrubro, mas já negociado com o Vasco da Gama por cem mil cruzeiros, uma importância razoável, perdeu a concorrência na Canarinha para Garrincha e Jairzinho. Irmão do grande goleador Bita, que também saiu das areias olindenses para os Aflitos, Nado   defendeu ainda o Olaria, o Fortaleza e o Ceará.

 

PIRILO RECEBEU O PRATO FEITO 

Voltando a falar dos treinamentos, aos sábados os times realizavam um ensaio leve pela manhã, às vezes uma pelada em que os jogadores atuavam fora de sua real posição. Após essa movimentação, se a equipe jogasse no domingo, os atletas requisitados seguiam para a concentração. A do Náutico localizava-se no bairro de Beberibe, num local arborizado e saudável. Se não havia jogo, o resto do fim de semana era de folga.

Em pleno transcorrer do campeonato de 1954 houve um incidente que mudou o curso da história de Palmeira no Alvirrubro. Depois de se envolver numa briga tola na concentração por causa de uns cajus, o treinador foi dispensado às vésperas de um clássico. O capitão do time, o eclético Ivanildo (Souto da Cunha, Espingardinha, na intimidade) assumiu o comando da equipe provisoriamente e passou a desempenhar a dupla função de treinador e jogador.

Palmeira tinha dirigido a equipe em 10 partidas do estadual, e Ivanildo ocuparia o cargo nos oito encontros seguintes. Quase no fim da jornada, o posto foi assumido por Sílvio Pirilo, procedente do Rio, apenas para confirmar a conquista de mais um título. O Náutico de Ivanildo empatara  por 2 x 2 na primeira partida da série melhor de três com o Sport.  Pirilo dirigiu o Timbu em mais dois encontros com o Leão, tendo colocado no peito a faixa de campeão, depois de uma vitória (3 x 2) e um empate (1 x 1), com o velho rival. O Náutico tornou-se campeão no ano em que se comemoravam os 300 anos da expulsão holandesa de Pernambuco, em 1654, tendo sido  chamado pela mídia de “Campeão do Tricentenário da Restauração”.

Ivanildo, treinador e jogador (Arquivo do Blog)


 O DUELO DOS CAJUS

Vejamos a razão da inesperada saída de Palmeira do Náutico, de acordo com uma notícia publicada em 3 de novembro de 1954 pelo Diario de Pernambuco sob o título “Técnico se atraca com jogador e é demitido pelo Náutico”, o que dá uma ideia de como agia aquele lendário, temperamental e vencedor personagem do futebol pernambucano:

“Na manhã de domingo, poucas horas antes do encontro com o Santa Cruz (na realidade, Sport) estavam os alvirrubros, técnico e jogadores, em sua concentração, em Beberibe. Em dado momento, o técnico Palmeira divisou os jogadores Manuelzinho, Djalma e Wilton, que vinham do lado do pomar onde está localizada a concentração. Vinham alegres, e Djalma trazia alguns cajus nas mãos. Ao vê-los, Palmeira se dirigiu aos jogadores, dizendo-lhes que eles bem sabiam que aqueles cajus eram dele, Palmeira, e não podiam ser tirados, pois eram para vender.

Djalma respondeu às palavras do técnico com uma brincadeira, o que irritou mais ainda Palmeira, que, a essa altura avançou para Djalma. O jogador revidou a agressão, travando-se um corpo a corpo, que foi logo encerrado pelos outros jogadores presentes.

Poucos instantes depois, chegava um dos diretores do Náutico, por sinal, o diretor de futebol, a tempo de ainda observar qualquer anormalidade. Procurou inteirar-se do ocorrido e, uma vez a par dos acontecimentos, comunicou-se imediatamente com o presidente Eládio de Barros Carvalho. Como não poderia deixar de ser, o presidente do alvirrubro determinou logo o afastamento de Palmeira e Djalma da concentração e afetou o caso à diretoria do clube, que hoje à noite vai apreciar os acontecimentos”.

O treinador, como já se esperava, recebeu o bilhete azul. Ele voltou a ser técnico do Timbu no biênio 1958 / 1959. Nos anos 70 trabalhou como supervisor.

 

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