HISTÓRIAS DO MUNDO DA BOLA-Lenivaldo Aragão

 Sem maca para a festa do futebol, o jeito foi improvisar


Na falta de uma maca, o cartola Dorgival apelou para o improviso (Foto: facebook)

Caruaru, 1968, semana do torneio-início. O presidente da LDC (Liga Desportiva Caruaruense), advogado Dorgival Melo, de última hora lembrou-se de que não havia uma maca para transportar algum jogador que se machucasse. Na véspera da grande festa, aguardada com muita expectativa pelos torcedores, o cartola-mor descobriu que não existia o tal artigo no comércio caruaruense. Teria que mandar uma pessoa ao Recife, solução considerada inadequada, àquela altura do campeonato.

Dorgival resolveu improvisar, adaptando uma cama de lona para o serviço. Um torneiro mecânico deixou o equipamento nos trinques, inclusive, com acolchoado. Todos que viram, aprovaram a maca quebra galho. Mas era preciso pagar o trabalho do homem, e a Liga não tinha um tostão. Nas mãos de Dorgival outro abacaxi para ser descascado.

O dirigente botou a imaginação para funcionar e recorreu a João Preto, dono da Autopeças Repórter, garantindo colocar na maca o nome da firma, se ele desse aquela ajuda, tão necessária, à LDC.

– E isso vai ser visto, doutor?

– Vai, porque em torneio-início muito jogador se machuca. Eles serão transportados na maca de um lado para outro, e o estádio vai estar cheio – respondeu o presidente da Liga.

Durante o festivo evento, no Estádio Pedro Victor de Albuquerque, hoje Luiz José de Lacerda, exibiam-se todos os times que participariam do campeonato em jogos curtos, até ser conhecido o campeão do torneio-início. Em campo, as principais equipes do futebol amador da Capital do Agreste..

João Preto topou a parada e foi convidado para assistir à festa, da Tribuna de Honra, junto a dirigentes e autoridades. Os dois maqueiros foram instruídos para, no momento em que tivessem que entrar em campo para socorrer algum jogador, abrirem a maca ostensivamente para o lado da Tribuna. Bola em jogo, as partidas sucediam-se e nada de alguém se machucar. Ao lado de João Preto, Dorgival torcia pela desgraça de algum daqueles atletas. O comerciante de vez em quando dirigia um olhar interrogativo ao cartola. Em dado momento, o impaciente patrocinador, achando que havia jogado dinheiro fora, foi direto ao assunto:

 – Como é, ninguém se machuca? 

Dorgival pediu calma e desceu às pressas. Ia começar a final. Explicou seu drama aos dois times. Algum jogador precisava se “machucar”. Finalmente, era a última chance. Foi atendido. Mal o jogo começou, houve uma mistura de aplausos, vaias e gargalhadas quando a maca foi aberta na corrida em busca do jogador “contundido”. Todo o mundo viu o “Autopeças Repórter”, de uma forma bem clara. Era uma coisa inédita. No outro dia era só no que se falava nas rodas esportivas, para o bem de João Pedro e satisfação de Dorgival.

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