A noite em que o Sport de Pedrinho levou incrível virada
Lenivaldo Aragão
O goleiro Pedrinho (não confundir com Pedro Cruz, o que veio do Ceará), recifense de
descendência italiana, cujo nome próprio era Pedronito (filho de Pedro e Anita)
Barbosa da Silva, foi um dos vários jogadores que fizeram parte da geração
Waldomiro Silva, nos anos 50 e 60 do século passado. Despontou no Santa Cruz,
mas logo foi descoberto pelo Palmeiras, seguindo o caminho de outros valores surgidos
em Pernambuco, indicados por Waldomiro a
seu amigo Osvaldo Brandão, treinador do Verdão. Ao morrer recentemente no
Recife, em 18/12/2022, com 81 anos, Pedrinho deixou uma folha extensa com os
nomes dos clubes por onde passou, entre eles, Santa Cruz e Sport (PE); Calouros
do Ar, Ceará, Fortaleza e Maguari (CE); Palmeiras (SP); Vitória da Conquista e
Ypiranga (BA); Nacional (AM).
Depois que pendurou as luvas,
passou a dirigir um táxi de sua propriedade, em cujo porta-malas carregava um
autêntico arquivo de sua carreira futebolística, de que tanto se orgulhava. Enquanto
as pernas permitiram, participou das peladas no Sítio do Picapau Amarelo, sempre
preferindo ser atacante. Foi goleiro de ofício a conselho de Waldomiro Silva,
segundo o qual no aspirante do Santa havia muita gente para o ataque e ninguém
para a barra.
No Santa Cruz, Pedrinho não teve tempo de brilhar intensamente, uma vez que logo foi levado para o futebol paulista. Rodou o mundo e reapareceu em Pernambuco na época em que o Náutico mandava no pedaço.
DE VENTO EM POPA
Em 1965, Pedrinho foi
contratado pelo Sport para substituir Walter Serafim. Antes da sua estreia, numa partida amistosa em que o Leão
derrotou o Central por 2 x 1, na Ilha do Retiro, no dia 4 de abril, a vaga deixada por Walter tinha
sido ocupada provisoriamente por Brito, Ferrari e Augusto. Depois de outros
amistosos, realizados paralelamente ao Torneio Pernambuco-Paraíba, veio o
Campeonato Pernambucano, em que o Sport estreou com uma vitória sobre o Íbis
por 2 x 0, placar modesto para o tamanho das goleadas que o Pássaro Preto
costumava levar nos encontros com os grandes.
Tudo corria normalmente. Após levantar
o primeiro turno, o Sport já atravessando a primeira etapa do returno, contava com
12 vitórias, 3 empates e 1 derrota. No confronto com os tradicionais
adversários, uma vitória e uma derrota diante do Náutico e dois empates com o
Santa Cruz. Na estatística leonina, três escores extravagantes, mas comuns
naquele tempo: Sport 8 x 0 Ferroviário, Sport 9 x 1 Central e Sport 8 x 1 Íbis.
NOITE DE ANGÚSTIA
Até que um dia o infortúnio bateu
à porta de Pedrinho. Na noite de 6 de outubro, o Sport estava derrotando o
Náutico por 3 x 1, nos Aflitos, caminhando para um sensacional triunfo na casa
de seu maior rival. Corria o segundo tempo, e os torcedores alvirrubros já não
tinham mais esperanças na vitória. Seria mais um grande baque na busca do
tricampeonato, depois das façanhas de 1963 e 1964. Porém, a partir dos 27
minutos, faltando 18 para o jogo terminar, o Timbu, que atacava para o lado do
Country Club, empreendeu um verdadeiro bombardeio contra a meta do Leão. Os
atacantes alvirrubros passaram a dar trabalho ao garoto do placar, na verdade
um marmanjo. Quando o árbitro Sebastião Rufino decretou o fim do jogo, parecia
uma cena irreal o que se via no Balança Mas Não Cai, onde ficava o placar, movimentado
manualmente: Náutico 5, Sport 3.
Os gols foram de Bita (2),
Lala (2) e Nino para o Náutico; Neco (2) e Chico para o Sport. As equipes foram
estas: NÁUTICO: Joécio; Gena, Mauro, Gilson Saraiva e Clóvis; Didica e
Ivan; Nado, Bita, Nino e Lala. Técnico, Antoninho. SPORT: Pedrinho;
Adilson, Baixa, Dodó e Hélmiton; Gojoba e Chico; Isaac, Neco, Pelezinho (também
tratado pelo sobrenome Nunes) e Fernando José. Técnico, Dante Bianchi.
Não é preciso dizer que o
mundo veio abaixo em relação ao Rubro-Negro, e toda a culpa recaiu no goleiro.
Como não poderia deixar de ser surgiram opiniões maldosas, bem como a gozação
dos alvirrubros. Havia um carro chamado Simca Chambord, produzido pela francesa
Simca. A timbuzada passou a se referir ao tal automóvel como “Simca Três”.
Prestigiado pelo técnico e
pela diretoria, Pedrinho foi mantido no time até o fim do campeonato, levantado
pelo Náutico. Ainda jogou no início de 1966, porém,
encerrado seu contrato, deixou o clube. Quem ainda se lembra de Pedrinho, dificilmente
vai citar algum jogo em que ele fechou o gol. Ao contrário, mencionará aquela
trágica noite no Estádio Eládio de Barros Carvalho.
Comentários
Postar um comentário