QUANDO O SPORT CRUZOU O ATLÂNTICO (1)

  Em homenagem ao Sport Club do Recife, fundado em 13 de maio de 1905, que está completando 118 anos, contamos em capítulos alguns episódios da célebre excursão do Rubro-Negro à Europa   

 

Em pé, Osvaldo Baliza, Bria, Osmar, Zé Maria, Oswaldinho e Pinheirense; agachados, Traçaia, Naninho, Gringo, Soca e Geo (Reprodução)


Bicampeão pernambucano em 1955, quando festejou seus 50 anos de fundação, e em 1956, o Sport realizou uma série de amistosos no início de 1957, o mesmo acontecendo com as demais equipes do Estado. A nova edição do Estadual só seria disputada no segundo semestre. Como era praxe, os clubes, que viviam apenas das rendas das bilheterias, acrescidas de uma arrecadação geralmente modesta do corpo social, partiam, no longo intervalo, o período das ‘vacas magras’, para a realização de torneios com times de fora, principalmente Rio e São Paulo, e temporadas noutros Estados do Nordeste ou do Norte.

O Sport tinha uma viagem à Europa engatilhada e, enquanto os entendimentos se desenvolviam para aquela que seria sua primeira excursão ao Velho Mundo, o Leão ia movimentando o time a fim de arranjar o dinheiro necessário para a folha salarial, sempre paga em dia. Confirmada a travessia do Oceano Atlântico,  os dirigentes começaram a dar tratos à bola nas providências finais. Até então, apenas dois nordestinos tinham ido à Europa, o Náutico, em 1953, e o Bahia, que um mês antes do Leão da Ilha, em abril de 1957, portanto, iniciara uma peregrinação por gramados europeus. A pedido do argentino Dante Bianchi, o técnico da equipe, o Leão se reforçou contratando o centromédio Servílio, que tinha se destacado no futebol carioca, vestindo a camisa do Flamengo. Providencialmente foi renovado o contrato dos pontas Traçaia e Geo, uma vez que o clube corria o risco de perdê-los para os concorrentes. Fizeram-se outras renovações, de acordo com os planos do treinador de levar um time forte, com reservas à altura.

 DESPEDIDA DE ADEMIR

Na fase de preparação para a viagem, o time leonino fez três amistosos, atuando na Ilha do Retiro, sob o entusiasmo da torcida, cada vez mais entusiasmada com a excursão. Os jogos serviram também para Bianchi aproveitar alguns reservas que precisavam se entrosar com os titulares.

O Bahia, tradicional adversário das equipes pernambucanas, foi o primeiro adversário rubro-negro na etapa final dos preparativos para o voo sobre as águas do verde mar.  O tricolor baiano perdeu por 2 x 0, na Ilha, gols de Traçaia e Soca.



Um fato interessante naquele jogo contra os baianos foi a presença, na equipe pernambucana, de Ademir, o célebre Queixada, artilheiro da Copa do Mundo de 1950, com 9 gols. Ele, que oficialmente já havia encerrado sua carreira no Vasco da Gama, jogou apenas 35 minutos a título de homenagem e de despedida dos torcedores do Sport. Ao sair de campo, substituído por Gringo, o dono da posição no time da Ilha, foi delirantemente aplaudido. Enquanto esteve em campo, Ademir, que antes de chegar às divisões de base do Rubro-Negro passou pelo Centro Esportivo do Pina, do bairro onde morava,  fez muito torcedor saudosista encher os olhos d’água. Não havia como esquecer os primeiros passos do célebre atacante com a camisa leonina, no começo dos anos 40. Então, com 34 anos, exercendo a função de  comentarista da TV-Rio, Ademir Marques de Menezes não esquecia o clube que lhe abrira o caminho para a glória e que o prestigiava naquele momento.

Alguns comentaristas chegaram a afirmar que  com alguns treinos, Ademir poderia estar apto a reforçar a equipe rubro-negra na excursão. O time que derrotou o Bahia, no dia 10/03/1957, foi Osvaldo Baliza; Bria (China Bivar) e Osmar; Oswaldinho, Mirim (Itamar) e Pinheirense; Traçaia, Naninho, Ademir (Gringo), Soca e Geo (Dario Souza).

 O TROCO AOS ALVIRRUBROS

No dia 13 de março, outro amistoso, agora com sabor doméstico, uma vez que o adversário foi o Náutico. O time da Praça da Bandeira – esta era uma das formas como o Sport era tratado – levou a campo a sede de vingança, uma vez que um mês antes tinha sido derrotado pelo Timbu, também numa partida amistosa, disputada nos Aflitos, o domínio do tradicional rival, por 3 x 2. Desta vez o Leao foi à forra, estabelecendo o  placar de 2 x 1. Seus gols saíram dos pés de de Naninho, o goleador do time, e Gringo. O time rubro-negro alinhou: Osvaldo Baliza; Bria e Osmar; Osvaldinho (Zé Maria), Mirim e Rubens; Carlinhos (Dario Souza), Naninho, Gringo, Soca e Geo.

No dia 20 de março, o Estádio da Ilha do Retiro estava superlotado. Era o jogo de despedida da equipe leonina antes do embarque para a Europa. O adversário ajudava a compor o ambiente festivo que o reduto rubro-negro vivia. Tratava-se do América do Rio, naquele tempo ainda incluído no rol dos grandes do futebol carioca, batendo-se em duelos eletrizantes com os componentes do quarteto formado pelo Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco..

O Sport não conseguiu vencer o Diabo Rubro, mas obteve um empate por 2 x 2, valorizado pela categoria do adversário. Os gols do Leão foram marcados por Geo e Naninho,. Os tentos dos visitantes foram assinalados por Romeiro e Tinoco. O técnico Dante Bianchi utilizou estes jogadores: Osvaldo Baliza; Bria e Osmar (Djalma). Zé Maria, Pinheirense e Rubens; Carlinhos (Dario Souza), Naninho, Gringo, Soca e Geo.

Na saudação final, os jogadores viram inúmeros lenços brancos sendo agitados pela galera num momento de pura emoção,

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