E se o Íbis vencesse com o tal do Gasolina?
O Íbis ia
enfrentar o Ferroviário, nos Aflitos. Ninguém no estádio, além dos jogadores,
técnicos e quem estava trabalhando. Era no tempo em que o coronel Nélson Lucena
dirigia o time da então Rede Ferroviária do Nordeste. O supervisor era o também
coronel Estácio Mariano. Ambos oficiais da PMPE, formados em Educação Física, nascidos em cidades vizinhas,
Taquaritinga do Norte (Nélson) e Santa Cruz do Capibaribe.
O
Ferroviário era melhor do que o Íbis e mais organizado. Quando os times estavam se
preparando, o treinador João Grandão chegou no vestiário do adversário apavorado
porque o Íbis ia entrar em campo com apenas dez jogadores.
Estácio
pensou um pouco e no seu jeito calmo, propôs a solução a Nélson Lucena:
– Que tal
se a gente completar o time deles com Gasolina?
– Uma boa
ideia – concordou Nélson, dando logo a dica a João Grandão, que não contou até
dez para aceitar a oferta.
E lá se foi
Gasolina para o vestiário do Íbis, depois de ser apresentado a João Grandão,
integrando-se de corpo e alma ao time do Pássaro Preto. Ele não era inscrito na
federação, mas, e daí? O Íbis perderia mesmo. A primeira dificuldade foi
encontrar uma chuteira adequada para Gasolina, um cara raquítico, porém com um
pé que não tinha tamanho. O problema foi finalmente resolvido, e uma vez em
campo, Gasolina tratou de mostrar serviço. Bola mesmo não jogava, mas procurava
afugentar os atacantes do Ferroviário na base do pau, ele que estava atuando de
lateral-direito, marcando Roberto, um ponta egresso do Central de Caruaru. Cada
intervenção de Gasolina provocava um susto no banco do Ferroviário. E mais
ainda nos jogadores que estavam lá dentro. Quando o primeiro tempo terminou, em
vez de ouvir as instruções de João Grandão o entusiasmado lateral levou foi um
esporro de Nélson Lucena:
– Olhe seu desgraçado, se
continuar batendo adoidado, vai ter que voltar a pé, porque no ônibus da gente,
você não vai não.
Gasolina ouviu a bronca
entre assustado e resignado, e no segundo tempo cuidou de garantir a condução.
Ficou manso como um cordeirinho.
Na verdade, o que João
Grandão não sabia, é que ele não era jogador do Ferroviário. Tratava-se de um voluntarioso peladeiro enturmado com os jogadores, fazendo mandado de um e de outro para botar alguns trocados no bolso.
Se perdesse
o jogo, o Ferroviário protestaria junto ao TJD, porque Gasolina estava
irregular. Ou melhor, simplesmente não existia para a federação. Mas o Ferroviário venceu e pronto!
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