EM FOCO



Waldemar, campeão PE,  gol contra e titularidade na Cacareco  



 

O paulista Waldemar Chiarelli,  descendente de italiano, o primeiro dos vários goleiros que defenderam o Náutico na época do hexacampeonato (1963-1968), viveu um fato raro no mundo do futebol, embora haja alguns exemplos, entre os quais um protagonizado por Valdir (Appel), quando defendia o Vasco da Gama, em jogo contra o Bangu.

Num encontro do Náutico com o América pelo Campeonato Pernambucano de 1958, Waldemar fez um gol contra. Foi em 10 de agosto de 1958. O chamado Clássico da Técnica e da Disciplina era disputado nos Aflitos numa tarde de domingo. Ao tentar fazer o giro para devolver a bola com a mão, após realizar uma defesa, Waldemar perdeu o domínio do corpo e não conseguiu evitar que a pelota caísse dentro da própria rede: 1 x 0 para o América, gol contra do goleiro Waldemar. O estádio ficou em silêncio diante do lance inesperado. Foi um momento amargo para ele. Todavia, confortado pelos companheiros, logo levantou a cabeça, foi apoiado pela torcida e “voltou” ao jogo. Depois de muita luta, o goleiro alvirrubro pôde respirar aliviado, quando o Náutico empatou, com um gol do baiano Valter Vieira. O jogo terminou em 1 x 1.

SELEÇÃO CACARECO – Revelado pelo São Paulo, o Baixinho, como era tratado pelos mais chegados, começou a defender o Timbu em 1958.  Assumiu a vaga que pertencera a Cazuza até o supercampeonato de 1957, que só terminou em março de 1958 e foi levantado pelo Santa Cruz. A estreia de Waldemar, que logo  encantaria a timbuzada, ocorreu em 20/07/1958. Ele integrou uma equipe que tinha esta formação: Waldemar; Caiçara, Lula, Zequinha e Nenzinho; Miguel e Gamba; Elias, Geraldo (Celu), Edmur (Freitinhas) e Fernando José. Amistoso em Campina Grande, com vitória do Alvirrubro sobre o Campinense por 2 x 1, gols de Gamba e Fernando José. O juiz foi Argemiro Félix de Sena, o célebre Sherlock, da Federação Pernambucana de Futebol e da Fifa. O técnico do Náutico era o paulista Ferraz Neto, ex-jornalista.




Em 1959, Waldemar foi titular no Campeonato Sul-Americano Extraordinário (hoje Copa América), realizado em Guayaquil, no Equador, quando Pernambuco representou o Brasil, com a famosa Seleção Cacareco. Disputou a posição com Walter, campeão daquele ano pelo Santa Cruz, o time do treinador da Cacareco, Gentil Cardoso. Waldemar levou a melhor e vestiu a camisa amarelinha.

Logo depois, veio o Campeonato Brasileiro de Seleções, com Pernambuco rompendo o bloqueio Rio, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul para se tornar vice-campeão pela única vez. Waldemar muito contribuiu para isso. Entre os feitos da Seleção Cacareco ainda hoje é lembrada pelos mais antigos uma sensacional vitória por 4 x 2 sobre os paulistas, que tinham entre outros craques famosos, os campeões mundiais Gylmar, Pelé, Zito e Pepe.

CAMPEÃO PERNAMBUCANO – Em 1960, Waldemar teve participação decisiva na conquista do título de campeão pernambucano pelo Náutico. Na melhor de três com o Santa Cruz, a equipe que venceu o Tricolor na partida final por 2 x 1 foi esta: Waldemar; Paulinho e Milton Copolillo; Carlos Zas, Givaldo e Hélmiton; Tião, Agnaldo, China, Geraldo e Fernando José. Técnico, Gentil Cardoso. Jogo nos Aflitos, com arbitragem do carioca Alberto da Gama Malcher. Os gols foram de China e Tião (Nau) e Lua (San).

Os campeões:

Goleiros-Waldemar, Abdias e Lula Vasquez

Laterais-Nancildo, Paulinho, Hélmiton e Cícero

Zagueiros-Milton Copollio, Zequinha, Sidney e Zeca

Meio-campistas-Carlos Zas, Givaldo, Daltro, Nado, Bertolo e Gilberto

Atacantes-Tião, Aguinaldo, China, Geraldo, Fernando José, Vasconcelos, Afonsinho, Elias, Saquinho, Ilson e Aladim.

Embora o treinador campeão tenha sido Gentil Cardoso, passaram ainda pelo comando técnico do Timbu, Alexandre Borges, Ricardo Magalhães, Sávio Ferreira, Schiller Diniz e Ricardo Diez. Obs.: Alaxandre e Schiller, provisoriamente, entre a saída de um e a chegada de outro treinador.

 

SAÍDA INESPERADA – Em 1963, ano do primeiro título do Hexa, Waldemar só participou de sete das 27 partidas realizadas pelo time dos Aflitos. Na primeira, com vitória alvirrubra, em casa, sobre o  Centro Limoeirense por 2 x 0, gols do centroavante China, o Náutico alinhou: Waldemar; Zé Luís (Gernan), Zequinha, Gilson Costa e Clóvis; Evandro e Ivan; Nado, Bita, China e Rinaldo.

O clube dispensou Waldemar por um motivo discutível, e o técnico Alfredo Gonzalez aproveitou o reserva imediato, Lula, o alagoano Lula Monstrinho – apelido de vestiário porque a boleirada o considerava muito feio, comparando-o a um monstro.

Waldemar deixou o Náutico quando estava em plena forma, e era muito enaltecido pelos  torcedores e jornalistas.  Ele se viu no centro do furacão num incidente no qual entrou por acaso, sem o menor pingo de culpa.

O lateral Gena, que brilhava no juvenil, foi convidado por Rildo, do Botafogo, seu amigo do bairro de Santo Amaro, para se transferir para o clube da Estrela Solitária. Waldemar talvez fosse o único jogador alvirrubro a ter carro. Um dia, Gena pediu ao goleiro para levá-lo ao Aeroporto dos Guararapes-Gilberto Freyre. O garoto, apelidado de Índio, por causa de suas feições, estava “fugindo” para o Rio, com passagem enviada por Rildo. Waldemar me contou depois, que não sabia que Gena estava indo embora, achando que se tratava de uma viagem normal. Era comum jogadores ainda amadores saírem daqui para o Rio ou São Paulo.

Veio o estouro da boiada. Foi como se um tufão varresse os Aflitos. A diretoria colocou a culpa em Waldemar, não tendo aceitado a justificativa do goleiro, que foi sumariamente dispensado. Gena, que tinha contrato de gaveta foi obrigado a voltar. Waldemar figura na relação dos jogadores que participaram da conquista do título que abriu a série Hexa. Vejamos:

Goleiros-Lula e Waldemar

Laterais- Gernan, Paulinho, Clóvis e Coronel

Zagueiros- Zequinha, Zé Luís e Gilson Costa

Meio campistas-Salomão, Evandro e Ivan

Atacantes-Nado, Bita, China, Rinaldo, Nino, Miro, Lala e Dão.

Em Pernambuco, Waldemar defendeu ainda o Santa Cruz e o Central, tendo brilhado também no Treze, de Campina Grande /PB.

 

Seleção Cacareco representando o Brasil. Em pé, Gentil Cardoso (técnico), Edson, Geroldo, Waldemar,  Zé Maria, Servílio e Givaldo; agachados, Traçaia, Zé de Melo, Paulo, Geraldo e Elias



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