Selênio, tricolor obrigado
O texto a seguir, com ligeiras
alterações, é um capítulo de meu livro Comigo ou sem Migo, intitulado “Tricolor
obrigado”)
“Eu sou Santa Cruz de corpo e
alma, e serei sempre, de coração”... Esta música, dedicada ao Santa Cruz pelo
compositor Sebastião Rosendo, enquadrava-se perfeitamente na cabeça de Selênio
Homem de Siqueira, veterano e culto jornalista, irmão de Itérbio, Telúrio e
Rutênio. Só que em vez do de coração, cante-se por obrigação.
Selênio, meu companheiro de
redação durante 18 anos no Diário de Pernambuco, e de boemia no Savoy, Brahma
Chopp, Botijinha, Pigalle, OK, Real, Duas Américas e adjacências, paraibano de
Santa Luzia do Cabugi, virou pernambucano de corpo e alma, porém há bastante
tempo passou para o outro lado da vida, tendo deixado muitos amigos e muitas
histórias de sua vida.
O competente jornalista viveu a infância e
parte da adolescência no Rio Grande do Norte, pois a família é originária de um
engenho de açúcar em São José do Mipibu. O pai, o juiz de direito Edgar Homem
de Siqueira, veio servir em Pernambuco, inicialmente em Igarassu, e depois em
Olinda, onde se fixou definitivamente. Gozava de imenso prestígio.
Selênio, que mais tarde seria um
dos membros influentes da Pitombeira dos Quatro Cantos, a tradicional troça
carnavalesca que rivaliza com o Elefante, no carnaval de Olinda, matriculou-se
no Colégio Leão XIII, na Avenida João de Barros, Encruzilhada, no Recife. Nos
primeiros dias de aula foi descoberta sua procedência. Sentava-se num setor
onde só havia torcedor do Santa Cruz.
Logo de saída, os caras com
jeito autoritário disseram ao recatado e tímido recém-chegado, que o local onde
estava situada sua banca era um reduto de tricolores e se ele não torcesse pelo
Santa Cruz, fosse baixar em outro terreiro. Cabisbaixo, Selênio disse que
torcia pelo América. Referia-se ao América potiguar e não ao seu homônimo do
Recife. Nem pôde se explicar direito. Recebeu logo uma definitiva advertência:
“Como já dissemos, nesse pedaço
aqui é tudo Santa Cruz. Se você for contra, procure outro lugar pra sentar.”
Selênio ficou, e na marra passou
a se interessar pelo Santa. Terminou virando um apaixonado tricolor, sem saber
que seu pai já pendia para a Cobra Coral.
Mais tarde, por coincidência,
uma sua irmã casaria com Mituca, um dos supercampeões de 1957 pelo Tricolor -
Anibal; Diogo e Sidney; Zequinha, Aldemar e Edinho; Lanzoninho, Faustino,
Rudimar, Mituca e Jorginho.
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