FUTEBOL SOB A FÚRIA DAS ÁGUAS (2)

 

O goleador Wolney, do Santa Cruz (Foto Terceiro Tempo)


 

Do frustrado gol “pingo d’água” de Dario ao “dilúvio” Wolney 



 

Em 1976, o Sport buscava mais um bicampeonato. Isso após ter quebrado, no ano anterior, um jejum que estava completando treze anos. As taças do Bi de 1961 / 62 tinham sido as últimas levantadas pelo Leão. A partir dali, a festa passara a ser feita pelo Náutico (1963-64-65-66-67-68) Santa Cruz (1969-70-71-72-73) e Náutico (1974).  Porém, em 1975, sob o comando do mineiro Duque, que havia dirigido o Timbu numa parte do Hexa, e também a Cobra Coral em alguns anos do Penta, o Leão da Ilha tinha voltado a sentar no trono.

Tendo como técnico o  paulista Mario Travaglini, o time da Praça da Bandeira procurava manter a hegemonia readquirida. Dentro de campo, o desengonçado, mas um emérito goleador, Dario Peito de Aço, fazia a alegria da galera, balançando as redes adversárias. Tanto que mesmo tendo se transferido para o Internacional com o Pernambucano 76 em plena vigência, terminou o certame como seu artilheiro, com 30 gols. No ano anterior a honraria também fora sua – 32. O Campeonato Pernambucano de 1976 foi marcado pelo fato de Dario ter assinalado 10 gols na partida em que o Sport goleou o Santo Amaro por 14 x 0.

Rei Dadá divertia os torcedores com seus ditos chistosos, tipo “vocês (dirigindo-se aos preocupados zagueiros do Atlético Mineiro antes de um jogo contra o Corinthians) vêm com a problemática, mas eu tenho a solucionática.” Gostava de dar nomes aos gols. Naquele ano, o Recife viveu mais uma tortura aquática provocada por um imenso temporal que caiu sobre a cidade, embaraçando, principalmente, a população mais vulnerável.

Poucos dias depois, com a lama ainda exalando seu desagradável odor em algumas ruas da periferia, , Santa Cruz e Sport realizaram o primeiro Clássico das Multidões daquele campeonato, valendo pelo primeiro dos três turnos.

Às vésperas do encontro, enquanto o Recife ia acordando do torpor a que o levara mais uma catástrofe  aquática,a imprensa esportiva ia fazendo a habitual badalação em torno da partida. Um dos personagens do clássico não poderia passar em branco. Era ele mesmo, o falastrão Dario. O divertido centroavante prometeu fazer o “gol pingo d’água” em homenagem à população da cidade, que tanto sofrera com mais uma tragédia. 

O divertido artilheiro Dario (Foto: reprodução Sport Club do Recife


No domingo 28 de março de 1976, o Estádio José do Rego Maciel, o Colosso do Arruda, recebeu 36.939 espectadores. Antes de o árbitro Sebastião Rufino dar o jogo por iniciado, no que mais se falava era na ousada promessa de Dario, um ídolo nacional. Mal a bola começou a rolar no bem cuidado gramado do Mundão, o estádio parecia estar vindo abaixo na parte em que se colocava o grosso da torcida tricolor. Era o Santa Cruz iniciando a partida em vantagem no placar, com um gol assinalado pelo centroavante Nunes. Naquela tarde domingueira, o antigo  frevo-canção denominado “Tô com a macaca”, regravado há algum tempo pelo cantor Silvério Pessoa (Tô com a macaca, me deixa pular...) parecia ter encarnado no Santinha. O time da casa  estava com a corda e terminou aplicando uma goleada de 5 x 0 no velho rival. Em lugar do rubro-negro Dario, o que se viu foi o tricolor Wolney aparecendo como o cara do jogo, ao marcar três gols para delírio do povão. Coube ao meia Carlos Alberto Rodrigues fechar a “quina”, conforme ironizavam os torcedores do Mais Querido. Não faltaram cobranças em tom de gozação a Dario, que levava tudo numa boa.

O Santa Cruz, que terminaria o campeonato como supercampeão pernambucano pela segunda vez, alinhou: Picasso (Gilberto); Carlos Alberto Barbosa, Alfredo Santos (Lima), Levir e Pedrinho; Givanildo e Carlos Alberto Rodrigues; Betinho, Wolney, Nunes e Santos. Técnico, Ênio Andrade.

O time do Sport foi Toinho; Marcos, Silveira, Djalma e Cláudio Mineiro; Luciano Veloso e Assis Paraíba; Amilton Rocha, Miltão, Dario e Lima. Técnico: Mario Travaglini.       

Comentários