MEMÓRIA AMEAÇADA

 



 

Onde ficará o marco do nosso pioneirismo no vôlei nacional?

 



LENIVALDO ARAGÃO



 

Você sabia que o primeiro jogo de voleibol disputado no Brasil aconteceu no Recife? Esse fato é do conhecimento de poucos recifenses, de origem ou por adoção. Durante um bom tempo desportistas ligados àquele esporte batalharam para a implantação de um marco histórico sobre o feliz acontecimento que enleva a vocação do nosso povo para a prática esportiva. Em 27 de janeiro de 2006, numa reportagem que fiz para o JORNAL DO COMMERCIO, com um dos maiores ícones daquele esporte, tão festejado em nosso Estado, Carlos Falcão, o assunto foi enfocado sob o título “Um monumento para o voleibol”. Repassemos o texto:

“Um monumento ao voleibol. Este é o sonho de um grupo de desportistas ligados ao popular esporte, à frente Carlos Falcão, ex-jogador, técnico e dirigente. Aliás, Falcão, ou Carlito, é uma personagem múltipla, como esportista, pois praticou também futebol e futsal, o antigo futebol de salão, e remo.

A ideia pela qual luta não é por simples badalação ao vôlei, mas  calcada num motivo justíssimo. Pouca gente sabe, mas foi no Recife que se realizou o primeiro jogo de voleibol no Brasil.

O assunto, por sinal, foi motivo de longas pesquisas porque havia uma polêmica sobre se o esporte da bola ao ar teria entrado no País pela capital pernambucana ou por São Paulo. Graças a uma investigação minuciosa a cargo de uma das autoridades do vôlei nacional, o técnico e professor mineiro Roberto Córcio de Queiroz, conhecido como Financial, a verdade veio à tona.

Reportagem antiga do Jornal do Commercio  (Foto: Arquivo do Blog)



O hoje consagrado esporte nasceu em 1895 nos Estados Unidos, e no Brasil começou a ser praticado no Recife. A novidade, que ainda a muitos surpreende Brasil afora, consta do Atlas do Esporte Brasileiro editado pelo Comitê Olímpico Brasileiro, via Ministério do Esporte. Esse pioneirismo pernambucano data do já longínquo 1911, mais precisamente do dia 15 de novembro, quando foi iniciado um torneio interno na Associação Cristã de Moços. Em razão disso, a data é celebrada anualmente, como o Dia Nacional do Vôlei. Vale salientar que a implantação do esporte no País caminha para seu centenário. Porém, antes disso, espera-se que o marco que assinalará o feito seja implantado.

– Estamos lutando com unhas e dentes para erguer esse monumento. O ideal é que seja erguido na esquina da Rua do Riachuelo com a Aurora, onde funcionava a Associação Cristã, local do primeiro jogo, mas a URB (Autarquia de Urbanização do Recife) já disse que o espaço não dá. Estamos ventilando a possibilidade de levá-lo para o Geladão – disse Falcão.

POR QUE O RECIFE?

Como surgiu o pioneirismo da capital pernambucana em relação ao voleibol? É que na época, muitos americanos e ingleses trabalhavam em empresas, como a Western (telegráfica), Pernambuco Tramways (eletricidade e bondes), Great Western (ferrovia) e Telefone Company. Havia o Caxangá Country & Golf Club e o Country Club, onde eles se divertiam. Logo aderiram ao vôlei.

A verdade é que depois de muita batalha, o pessoal do vôlei contou com o apoio de um de seus membros. O ex-voleibolista Dilton da Conti era presidente da Chesf, levando a empresa a patrocinar a concretização do projeto.

– Coube à prefeitura doar a placa inaugural  informou o professor de educação física aposentado José Pinto Lapa, um dos baluartes do esporte amador em Pernambuco.

A inauguração  ocorreu em 8 de fevereiro de 2014, com a presença do  prefeito Geraldo Júlio, do, na época, integrante da Seleção Brasileira de Vôlei Masculino Marcelo Negrão (foto), paulista criado no Recife,  ex-atletas integrantes do Panathlon Recife, dirigentes e desportistas em geral. 

Marcelo Negrão (Foto: CVB)


Há uma enorme inquietação entre os que zelam pela preservação desse capítulo importante da memória esportiva pernambucana, com o destino que poderá ser dado ao marco histórico.

– Com a reclassificação da área, a  prefeitura retirou o monumento, prometendo colocá-lo noutro lugar, mas isso não aconteceu – comenta Lapa.

Ele está seriamente preocupado com a possibilidade desse importante e histórico instrumento, que documenta o pioneirismo de Pernambuco na prática de vôlei no Brasil, de ir adormecer num dos galpões da municipalidade onde são depositados materiais já sem serventia.  

     

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