HISTÓRIAS DO MUNDO DA BOLA-Lenivaldo Aragão

 

Reprodução da Folha de Pernambuco


 

Um animal estranho na toca do Leão



 

Zezinho, mais conhecido por Caruaru, em alusão à sua terra natal, é uma pessoa muito bem relacionada em Tamandaré,  no Litoral Sul de Pernambuco. Migrou para lá há décadas. Tem um bar, ao lado de um supermercado, que é frequentadíssimo, principalmente em época de veraneio. Muita gente procura seu estabelecimento para assistir a jogos dos times pernambucanos na tevê. Aliás, sua migração para a Região tem tudo a ver com futebol.

Na mocidade, Caruaru chegou a vestir a camisa do Central, como juvenil. Em dado momento foi contratado para reforçar o time de Cucaú, na época do célebre Campeonato das Usinas. Terminou ficando na área, onde constituiu família, fixando-se em Tamandaré. Além da atividade comercial passou a trabalhar com uma Van, de sua propriedade, no transporte de passageiros para cidades vizinhas, principalmente Barreiros.

 Na sua casa o regime é absolutamente democrático, futebolisticamente falando. O chefe divide o coração em duas partes. Uma pende para os lados da Avenida Agamenon Magalhães, na Capital do Agreste, onde o Central se localiza; a outra aponta para o Recife, mais propriamente para as Repúblicas Independentes do Arruda. Tricolor de corpo e alma, portanto.  O filho torce pelo Sport, e a filha pelo Náutico.

Antigamente, como viajava sempre à capital do Estado, a negócio, associou-se ao Sport para poder deixar os filhos no parque aquático da Ilha do Retiro, enquanto cuidava da aquisição de mercadorias para vender em seu estabelecimento.

Era na condição de sócio do time da casa, que ele certa vez estava na Ilha, assistindo a uma partida entre o Sport e o Central. Encontrava-se nas sociais, logicamente cercado de rubro-negros por todos os lados. Torcia calado. Pelo Central, claro.

Em dado momento, gol da Patativa. Caruaru não resistiu e se traiu. Pulou, de braços abertos, soltando um sonoro grito de gol, atraindo para si olhares estranhos e interrogativos. Era, sem dúvida, o máximo da ousadia. Tratava-se de um verdadeiro estranho no ninho. Digamos, um americano no frevo, nas ruas do Recife ou nas ladeiras de Olinda.

Caruaru sentiu logo a enrascada em que se metera e teve presença de espírito para emendar a palavra, antes do terminar o grito de gol:

– Goleiro cabra safado, como é que se toma um gol desse? Isso é lá goleiro prum time como o Sport?

Foi assim que Caruaru livrou sua cara. Porém, por via das dúvidas, terminou saindo de fininho, procurando outro lugar para acompanhar o resto do jogo.

 

 

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