HISTÓRIAS DO MUNDO DA BOLA-Lenivaldo Aragão

 



Ilustração: Humberto


 

A fedentina do "cheirozinho" no  Sport sobrou para Zé Guaru

 



 

Na já distante época em que o Sport se concentrava no fim da Av. Caxangá, à margem direita do Rio Capibaribe, havia um trio da pesada, formado por Laxixa, Sinval e Djalma. Eles se divertiam aprontando em cima do explosivo José Mariano Carneiro Pessoa, o técnico Palmeira. O “Velho Pau (assim mesmo, no sentido depreciativo)”, como era tratado, não abria mão do seu secretário Neco Parafuso, ex-árbitro, como ele. Sempre vigilante, Neco acompanhava tudo, até mesmo a movimentação de um ou outro repórter que chegasse para entrevistar os jogadores. Palmeira, um eterno desconfiado, temia que algum estranho que lá chegasse, estivesse envolvido em algum ‘mondé’. Ou seja, tinha o propósito de “cantar” algum jogador. Assim, só adentrava o bucólico e arborizado recanto quem fosse de extrema confiança.  

Mas a conversa aqui é outra. Eram os bons tempos do dedicado Zé Guaru, falecido recentemente. Ele exercia a função de encarregado do recinto, fazendo o maior esforço para deixar a casa como um brinco. Funcionava como  uma espécie de faz tudo.

Certa vez surgiu um desagradável cheiro no ar. Palmeira chamou Zé Guaru, mandando-lhe dar descarga no banheiro. O zeloso e obediente serviçal foi lá, meteu detergente, lavou tudo, como tinha de ser.

Mais tarde, ao mesmo tempo em que a turma se divertia jogando cartas, Palmeira urrava:

– Guaru, eu não mandei você limpar o banheiro?

Mais que depressa, o assustado Zé Guaru apareceu diante do chefe, como se fosse um recruta se apresentando no quartel a um oficial.

– Mas eu lavei direito, seu Palmeira, dei descarga, botei detergente...

Zé Guaru nem chegou a terminar sua explicação, porque o Cacique – outro tratamento dado ao técnico pelos jogadores por causa de sua brabeza – o interrompeu:

– Lavou coisa nenhuma... E esse mau cheiro, que ninguém aguenta?

Zé Guaru não tinha argumento para contestar Palmeira, uma vez que até ele estava sentindo a fedentina. Só que o coitado não entendia o que estava acontecendo, pois tinha plena convicção de que em matéria de higienização fez o que deveria ter feito. Foi ao banheiro novamente, disposto a dar (des) carga total para acabar de vez com aquele odor desagradável. E tome água, tome vassoura, tome detergente!

    Enquanto isso, o trio bagunceiro se divertia. O mau cheiro que tanto irritava Palmeira, que sofria de asma, era provocado pelos “cheirozinhos”, aqueles traques fedorentos que são soltados em profusão, principalmente em ambiente fechado, na época junina. Eram espalhados por Djalma em pontos estratégicos da concentração. E a inhaca corria os quatro cantos da concentração.

Enquanto os bagunceiros se divertiam, engolindo o riso,  Zé Guaru sofria com a malcriação de Palmeira.

Comentários