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PERNAS AMARRADAS
CLAUDEMIR GOMES
Por mais de duas décadas integrei a equipe de esportes do DIARIO DE PERNAMBUCO.
Durante este período tive a oportunidade de cobrir quatro edições da Copa do
Mundo; várias edições da Copa América; Eliminatórias de Copa do Mundo,
amistosos e torneios internacionais. A
soma de conhecimentos e a formação de um exército de amigos representam o
legado desta fantástica experiência que tinha a Seleção Brasileira como o
grande motivo.
No início da manhã de hoje
(03/07/2024), recebi uma ligação de um amigo mineiro que também esteve nas
coberturas da Copa de 94 e do Torneio da França, em 98. Ele estava pilotando um
programa de rádio e me pediu para definir a Seleção Brasileira que está
disputando a Copa América, com uma palavra.
AMARRADA!
Lhe respondi provocando uma
risada geral dentre todos que faziam o programa com ele. Tentei explicar: “O
time está preso. Não existe harmonia entre os setores. O conjunto não está bem
treinado porque o grupo ainda não assimilou a filosofia de jogo do treinador”.
A primeira Copa do Mundo que
me fez despertar para a Seleção Brasileira foi a de 1962, quando o Brasil
conquistou o bicampeonato no Chile. Uma das lembranças que carrego comigo era
dos encontros que aconteciam, naturalmente para acompanhar a transmissão dos
jogos pelo rádio. A casa de um dos nossos vizinhos, na Av. Chateaubriand, em
Carpina, seu Antônio Cysneiros, conhecido na cidade como Pirulito, era de uma
alegria contagiante. Seu Pirulito era casado com Dona Coleta. Ele, alto e
magro, com quase dois metros de altura. Ela, baixinha, tinha pouco mais de um
metro e meio. Apesar da baixa estatura era impossível mensurar sua grandeza. Uma
das figuras humanas mais elegantes que conheci na minha vida. Discreta e
silenciosa até na sua risada mais gostosa.
Pois bem! Quando a Seleção
Brasileira jogava, a sala da casa de Seu Pirulito ficava cheia. Vale lembrar
que o casal teve dez filhos: sete homens e três mulheres. Evidente que todos os
filhos não marcavam presença, mas os amigos e vizinhos animavam a fan fest.
Sempre discreta, Dona Coleta
escolhia um cantinho da sala e pagava uma toalha de prato. O rádio de Seu Pirulito
era branco e potente. À época, narradores, comentaristas e repórteres eram os
olhos dos milhões de ouvintes que não saíam do pé do rádio. Assim como todos
nós outros mortais, Dona Coleta não entendia bem o nome dos jogadores das seleções
estrangeiras. Para facilitar o entendimento de seus ouvintes, os narradores
sempre ressaltavam os números das camisas.
Dentro do seu entendimento, de
acordo com a leitura que ia fazendo no imaginário, Dona Coleta dava um nó na toalha
e dizia baixinho: “o camisa dez está amarrado.” E repetia o gesto durante toda
a partida. No final, quando o jogo terminava, a toalha estava cheia de nó. Ela
havia amarrado o time adversário. E o Brasil foi bicampeão.
Acredito eu que, ontem à
noite, em algum recôncavo colombiano havia uma senhorinha “amarrando” as pernas
dos jogadores da Seleção Brasileira.
Desde que terminou a Copa do
Catar, a Seleção Brasileira já foi treinada por três professores, mas ainda não
acertou o passo. Tá tudo amarrado!
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